A comunicação empresarial é uma atividade que nunca me agradou, mas que fui obrigado a exercer durante muitos anos, por falta de opção melhor.
Tive de ajudar a se lançarem produtos duvidosos, colocar palavras inteligentes na boca de empresários tacanhos e administrar as crises que sua atuação irresponsável lhes acarretava.
Particularmente doloroso foi haver desempenhado papel de destaque na salvação de uma empresa ameaçada por uma onda de desconfiança no mercado (nossa agência ganhou até prêmio internacional por tal proeza) e, um ano mais tarde, assistir à sua falência fraudulenta, que lesou milhares de investidores.
Acabei contribuindo para que tivesse esse ano de sobrevida, sem imaginar que o resultado concreto dos meus esforços seria dar-lhe condições para depenar mais otários ainda e preparar melhor o pulo do gato. Ingenuidade mata.
Algo que eu aprendi na administração de crises -- tanto daquelas em que atuei como profissional, como das muitas que permearam minha militância -- é: empresa, partido ou governo que se coloca numa situação vulnerável, deve sair dela imediatamente e com transparência, caso contrário maximizará as perdas.
Eu apostaria que o vazamento de dados sigilosos da Receita Federal acerca de seus adversários políticos não teve a anuência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da candidata Dilma Rousseff, de ministro ou personagem do alto escalão.
Mas, aloprados cometeram esse asnático crime e têm de ser punidos. Como dizia o Paulo Francis, quem é burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.
Se cauterizar a ferida o quanto antes, o Governo não sairá incólume, mas vai evitar que supure até a eleição, talvez mudando o resultado que se delineia neste instante, talvez fornecendo pretexto para viradas de mesa.
Vale lembrar: a lambança de um guarda-costas mais realista do que o rei (Gregório Gortunato, que tentou matar o líder udenista Carlos Lacerda), capitalizada ao máximo pelos eternos golpistas, quase levou à destituição de Vargas em 1954. Para frustrar-lhes os planos, teve de sacrificar a vida.
Vale lembrar: a lambança de um guarda-costas mais realista do que o rei (Gregório Gortunato, que tentou matar o líder udenista Carlos Lacerda), capitalizada ao máximo pelos eternos golpistas, quase levou à destituição de Vargas em 1954. Para frustrar-lhes os planos, teve de sacrificar a vida.
Não há solução indolor para o Receitagate. E, a cada vacilo e negaceio, o custo político aumentará.
Quem avisa, amigo é.
3 comentários:
és naufrago
perdido
se oriente rapaz
pcaval
Lamento que tu tenhas batido o martelo nesse caso ignorando outras versões plausíveis.
Manipuladores, armadores e golpistas estão quase na sua totalidade na campanha do Serra.
Quem quer ler versões convenientes, encontra-as num montão de espaços virtuais; aqui não é lugar de conversa pra boi dormir. A presunção de inocência ofende a inteligência de qualquer cidadão equilibrado.
A única dúvida do Receitagate é se ficará restrito ao andar de baixo ou vai atingir os escalões superiores.
Essa insistência em dizer que nada houve é a maneira mais tola de reagir à crise. Dá trunfos para o inimigo, que a cada momento tira uma revelação nova da cartola.
Se alguém -- o chefe da Receita, p. ex. -- assumisse a responsabilidade, dizendo que foi iniciativa pessoal e não ordem recebida de cima, esvaziaria o episódio -- com algum dano, claro, mas assimilável.
Dou um exemplo: o Fleury mandou invadirem a Detenção, houve aquele massacre e logo apareceu o secretário de Segurança Pública assumindo toda a responsabilidade. Por que o fez? Cada um teça suas conjeturas.
O certo é que a coisa parou por ali e não deu margem sequer a uma tentativa de impeachment do Fleury.
Já o caso do Gregório Fortunato é o exemplo oposto: a incrível besteira de um subalterno que acabaria derrubando o governo, caso o Getúlio não fosse um homem de fibra.
Enquanto não aparecer um culpado verossímil, o caso continuará rendendo. E basta um agravante de grande impacto para isso virar uma crise verdadeiramente séria.
O que eu faço é o melhor serviço que se pode prestar ao governo: estou ensinando o caminho das pedras, na esperança de que alguém de bom senso, em Brasília, me ouça.
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