domingo, 29 de agosto de 2010

EU, CELSO L., 59 ANOS, ANISTIADO... E BLOGUEIRO (AGORA CONVICTO!)

Este blogue acaba de completar dois anos. É um momento oportuno para se fazer um balanço do caminho percorrido, em relação às expectativas que eu tinha quando o lancei, expressas no primeiro post.

Bem, os desígnios do destino agora estão bem mais claros.

A volta à imprensa era uma ilusão que eu acalentava apenas por ter-me preparado durante muito tempo para nela desempenhar um papel.

Dei meus primeiros passos no jornalismo quando, aos trancos e barrancos, grandes talentos da esquerda ainda conseguiam ser publicados, encaixando na imprensa burguesa suas críticas à sociedade capitalista.

Eu me via fazendo parte de redações gloriosas, como a do Correio da Manhã da década de 1960 ou a da Folha de S. Paulo que Cláudio Abramo comandou até ser detonada pela intervenção do II Exército.

Vã ilusão. Deveria ter lido melhor Marcuse, um dos meus autores de cabeceira: a indústria cultural tende a atuar cada vez mais como reprodutora dos valores capitalistas e exterminadora do pensamento crítico, mesmo ao preço de alijar profissionais que poderiam aumentar a receita do veículo.

Por uma ironia da História, repeti o destino do meu pai.

Obrigado a ingressar numa tecelagem aos 11 anos de idade, ele imaginava-se ascendendo aos patamares mais elevados da atividade e esforçou-se muito nesse sentido.

Depois da jornada de trabalho extenuante, ainda fazia curso para mestre, tendo de beliscar-se para não pegar no sono.

Conseguiu, foi promovido a contramestre e, depois de muitos anos, ascendeu ao topo da carreira.

Só que, nesse ínterim, os cotonifícios haviam decaído irremediavelmente, nada restando do seu esplendor da década de 1930. Era mestre, mas não o mestre que queria ser; pois este não existia mais.

Foi, mais ou menos, o que aconteceu comigo.

Meu primeiro e maior projeto, que rege minha vida até hoje, não frutificou de imediato.

Depois da minha sofrida passagem pela luta armada, perdi todas as ilusões quanto a uma revolução em futuro próximo.

Percebi que teria de encontrar jeito para seguir vivendo até o advento da nova maré revolucionária que reatasse os fios da História, com a humanidade retomando a caminhada interrompida em 1968.

[O refluxo já ultrapassou quatro décadas, mas isto é um nada no calendário revolucionário. Não é sempre que se se consegue dar a volta por cima meros 12 anos depois, como aconteceu com a Rússia em 1917.]

Meu  plano B  foi o jornalismo. Mas, os próprios obstáculos remanescentes da minha militância na vanguarda armada dificultaram e atrasaram a trajetória opcional, até que a imprensa ficou blindada contra o tipo de profissional que eu erigi como meta.

Hoje, seguramente, eu o poderia ser. Hoje, nenhum veículo do sistema o admite mais. Pelo contrário, quer  é vê-lo longe.

Pelo menos, algo a mais que meu pai eu tenho: a percepção de que os caminhos que se abrem não são, necessariamente, um desvio do rumo certo.

Assim, conforme minha participação na web foi crescendo, passei a vê-la com outros olhos: é a ferramenta que hoje me resta para seguir tentando concretizar meus sonhos.

As lições que extraí da cruzada para mudar o mundo, posso transmiti-las nestes textos que, bem ou mal, atingem cidadãos idealistas de todos os quadrantes.

As sementes são espalhadas. Se servirem para uma finalidade maior, o acaso acabará as levando na direção certa.

O projeto de fazer um segundo livro em condições mais propícias do ponto de vista da indústria cultural, era também uma tolice.

Na verdade, o livro já está escrito: a visão revolucionária que eu pretendia transmitir, está toda ela expressa/dispersa nos artigos que tenho escrito.

Ainda pretendo juntar as peças do quebra-cabeças, organizar melhor o material, apresentando-o de forma mais essencializada, didática.

Mas, com a exata noção de que só acontecerá -- se acontecer -- nos circuitos paralelos.

A indústria cultural não disponibilizará seus holofotes para quem pretende livrar a humanidade do pesadelo capitalista. Ponto final.

E, no front virtual, há também tarefas hercúleas por desenvolvermos; principalmente a de o direcionarmos cada vez mais para a gestação de uma  alternativa  ao sistema (ao capitalismo e ao Estado que o expressa). Torná-lo cada vez menos  complementar  e cada vez mais  antagônico  ao sistema.

O papo é longo e não caberia neste post.

O certo é que meu  plano C  está em curso, tendo a meta luminosa do  plano A  como ponto de chegada e as habilidades que adquiri durante o   plano B  como ferramentas.

A luta continua. Sempre!

5 comentários:

Frau BUP disse...

Parabéns Celso, vida longa ao seu blog do qual sou leitora assídua =) Sinto muito sobre o processo do Bóris, não é possível nesse mundo que um juíz vá dar parecer favoravel para esse sujeito. A justiça brasileira deixa a desejar em muitos aspectos. Sei que não é muito mas pode contar com a minha solidariedade. um grande abraço e novamente, parabéns!

Dea Conti disse...

Parabéns, Celso!!! Parabéns pelos dois anos de blog e por continuar sustentantando ideologicamente e coerentemente a Esquerda!

Valter Vicente - Albachiaradas@hotmail.com disse...

Celso, fui seu vizinho de carteira no ginásio-científico e já naquela época me posicionava a seu favor e contra o restante que, embora adolescentes, já tinham sido picados pela "mosquinha Azul". só que minha pena foi bem mais leve: fui informalmente expulso do "M" tenho a sua idade, aposentei na produção de vários Jornais e editoras e atualmente só tenho interesse em ler os seus blogs - muito cultural - e humanístico, Quando montar o "quebra-cabeças" fale alguma coisa sobre o nosso professor de química...Parabéns pelo segundo aniversário.

celsolungaretti disse...

Minha cara Ludmila, não é em juiz nenhum que eu coloco minha esperança de um desfecho adequado, mas sim nos esforços dos companheiros e dos cidadãos com espírito de justiça.

Tribunais são parte do aparato do Estado, atuando no sentido da manutenção do status quo e contra quem se dispõe a o alterar.

Sempre foi assim: independentemente dos atores de cada drama, as cartas estão sempre marcadas contra os revolucionários.

Dea, solidária Dea, obrigado! Meu espírito não foi propriamente de efeméride, mas de fazer um balanço, descartando algumas ilusões que ainda tinha em 2008.

Às vezes fazemos um longo percurso para voltar ao ponto de partida. Eu estava certo em 1972, quando apostava todas as fichas nos circuitos alternativos. Hoje, mais do que nunca, são a esperança que resta. No sistema não há salvação.

Valter, que satisfação! Eu escreverei para o seu e-mail, OK?

Um abração p/ os três!

Frau BUP disse...

Persevere amigo, essas cartas marcadas são parte de um processo secular que tenta nos amordaçar. Aesar de deteram o poder, nunca conseguiram nos calar e não vai ser agora, com a internet, que nos permiter "botar a boca no mundo" contra os absurdos dessa malta de canalhas que tanto lutaram para nos manter na ignorãnica. Eu vejo um futuro muito melhor, só não sei se estarei viva pra contar como era antes =)

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