domingo, 22 de agosto de 2010

JORNADA À DISTÂNCIA = ESCRAVIDÃO DIGITALIZADA, AVALIA SOCIÓLOGO

A falsa terceirização foi vendida como favorável aos trabalhadores, por permitir que os empresários lhes repassassem uma parte do que despendiam com tributos.

Muitas categorias, inclusive os jornalistas, caíram no conto-da-pessoa-jurídica.

E ainda sentiram orgulho da nova (mas pretensa) condição de micros e pequenos empresários, que os distinguiria da gentinha assalariada.

Deu no que deu: viraram, sob novo rótulo, operários mais explorados ainda. E sem as garantias trabalhistas dos operários tradicionais.

Demissíveis quando dá na telha do patrão, que lhes paga apenas 30 dias extras, contados a partir da data do distrato.

O capitalismo não se mostrava tão selvagem desde aquele passado longínquo em que Marx se indignava com a desumanidade aberrante nas minas de carvão: mesmo quando o motivo é doença, vão para a rua da amargura sem dó nem piedade.

As categorias se fragmentaram, pulverizaram: colegas de infortúnio, irmanados pela exploração sofrida, passaram a ver a si próprios como concorrentes, não conseguindo mais concertar a resistência conjunta ao capital.

Nem mesmo, em muitos casos, manter a espinha ereta: boa parte passou a puxar o saco dos superiores e o tapete dos colegas.

Os sindicatos tiveram sua força reduzida a quase nada.

As centrais sindicais viraram tigres de papel.

A mais-valia foi maximizada.

AUMENTAM AS DOENÇAS E O ESTRESSE

A nova armadilha é o conto-do-trabalho-em-casa.

Ricardo Antunes, sociólogo da Unicamp e autor do livro Adeus ao Trabalho?, assim disseca a jornada à distância:
"O processo combina salto tecnológico com intensificação do trabalho. E com um envolvimento maior do trabalhador".

"Se você ganha um equipamento quando entra na empresa, não é a libertação, mas a sua escravização, ainda que digitalizada".

"O tempo de trabalho e o tempo de não trabalho não estão mais claramente demarcados.Significa que, estando na empresa ou fora dela, esse mundo digitalizado nos envolve durante as 24 horas [do dia] com o trabalho".

"O trabalhador perde o sentido da vida fora do trabalho. Aumentam os adoecimentos e o estresse. A aparência da liberdade do trabalho em casa é contraditada por um trabalho que se esparrama por todas as horas do dia e da noite".

Um comentário:

Haroldo Mourão Cunha / São Gonçalo / RJ. disse...

Celso, tirando o Caso Battisti, pois não compreendo sua insistência nisso, o Mino dá um baile em jornalismo! Leu seu artigo sobre a capa da "Época" na matéria sobre a Dilma? O cara sabe escrever como ninguém, quando quer! Disse tudo o que eu quis te dizer no meu último comentário sobre a geração dos anos de chumbo (não sobre a luta armada, pois havia pouca gente no Brasil conhecedora das mazelas da ditadura e mesmo muitos que a conheciam ficavam prostados sem nada a dizer ou fazer).

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