um anjo torto,
um anjo solto,
um anjo louco
veio ler a minha mão.
"Não era um anjo barroco,
era um anjo muito solto,
louco, louco, muito doido,
com asas de avião.
"E eis que o anjo me disse,
apertando a minha mão,
entre um sorriso de dentes:
Vai, bicho, desafinar
o coro dos contentes!"
(Jards Macalé)
Cada vez que eu coloco uma posição destoante da banda de música panfletário/propagandística de esquerda, surgem comentários irados e pessoas trombeteando que não lerão mais meus textos.
Infelizmente, nossas fileiras não passaram incólumes pelo refluxo revolucionário das últimas décadas: alguns dos antigos e muitos jovens por eles formados são simplistas e sectários, incapazes de conviver com as opiniões diferentes que existem dentro de um mesmo campo.
Quando a revolução estava nas ruas e nas praças, não na internet, debatíamos respeitosamente com os adversários de esquerda e combatíamos sem trégua o inimigo.
Hoje, os intolerantes de esquerda conseguem frequentemente ser mais virulentos com os companheiros do que com os porta-vozes da burguesia.
Então, porque tenho o couro curtido por muitas situações em que fiquei sozinho contra os falsos consensos -- e, mesmo assim, com a verdade ao meu lado, prevaleci --, assumo o papel de expressar sempre os princípios e convicções autênticas, sem dar a mínima para o número de companheiros que as compartilham.
Não almejo a ser aplaudido por claques, mas sim a inspirar revolucionários.
Sou imune a campanhas de descrédito, rolos compressores e quaisquer formas de pressão.
Então, os que quiserem encontrar opiniões sinceras, refletindo uma trajetória revolucionária diferenciada, mas tão ardente hoje quanto no seu nascedouro, que as procurem aqui. Acharão.
Quem quiser ouvir de novo aquilo que todos estão dizendo, mesmo que sejam primarismos para fazer média com a galera, que vá procurar os panfletários oportunistas.
Eu continuarei desafinando o coro dos contentes, até porque só os verdadeiramente inconformistas são verdadeiramente revolucionários, herdeiros de Prometeu.
Os conformistas que seguem sempre a opinião dominante no seu meio, sem estatura moral para confrontá-la quando está errada, não são capazes de engendrar o novo.
2 comentários:
???
Celso, é muito difícil ter um debate de alto nível nos dias atuais não só entre os militantes de esquerda como entre os que se assumem de direita. São tempos difíceis de militância e encontro no seu site um oásis nesse deserto de mediocridade. No centro há um livraria marxista sustentada por um setor do PT. Nada contra, pelo contrário, gosto de dar uma olhada nos exemplares. Qual não foi minha surpresa, os jovens do local não sabiam o que estavam vendendo, ou seja, leram praticamente nada de Marx, Engels, ou algo da New Left, Rosa Luxemburgo e tantos outros. É muito complicado alguém ir ao debate se dizendo marxista sem ter noção do que seja isso.
Abraço e a luta continua, companheiro, apesar de tudo.
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