domingo, 14 de agosto de 2011

PEQUENAS TRAGÉDIAS

Deu na Folha:
"O governo de Moçambique está oferecendo uma área de 6 milhões de hectares no norte do país para que brasileiros plantem soja, algodão e milho.
A área, equivalente a quase três Estados de Sergipe, será ofertada em regime de concessão, válida por 50 anos e renovável por mais 50. Os agricultores pagarão pelo uso um imposto anual de R$ 21 por hectare".
Fez-me lembrar uma cobertura que realizei há uns 25 anos para o  Estadão: a vinda de um ministro de Angola ou Moçambique para tentar convencer os antigos colonos portugueses a voltarem para seu país.

Assisti à reunião, num auditório do bairro da Liberdade, se bem me lembro. Entrevistei o ministro, falei com os indignados lusitanos.

É que, quando o país em questão se libertou de Portugal, o povo descarregou sua indignação sobre os colonos. Estes tiveram de fugir às pressas, deixando para trás seus empregos, comércios, fazendas e moradas.

Só que a nova nação sentiu falta da expertise desses cidadãos e os quis de volta, dispondo-se até a repor o que haviam perdido.

Boa parte deles, ao invés de voltar para a  terrinha, havia se fixado no Brasil. E o digno sr. ministro se viu numa saia justa ao reatar o diálogo, pois estavam compreensivelmente magoados com o tratamento recebido. A coisa descambou para uma catarse grupal, um festival de recriminações e lamúrias.

Pensei com meus botões que os africanos possuíam, sim, motivos para detestar os portugueses -- mas, tendo autoridades e tropas ido embora, não deveriam direcionar sua raiva contra quem apenas estava trabalhando lá.

Os quais, por sua vez, poderiam ter imaginado que, estabelecidos num território subjugado pela força, não seriam benquistos, mesmo sem participarem diretamente de atos recrimináveis.

Enfim, senti pena de todos: daquela pobre nação -- empobrecida exatamente pelo colonialismo! -- que não conseguia nem tocar sua economia sozinha; e daqueles pobres aventureiros que foram atrás de uma terra prometida, acabaram criando laços sentimentais com a Mãe África e se viram da noite para o dia expulsos de onde pretendiam viver até o fim de seus dias.

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