(continuação
A reforma da previdência social, que provoca um rombo de mais de R$ 200 bilhões no orçamento público (déficit que tende a crescer cada vez mais!), não é questão de fácil administração, pois implica restrições aos direitos dos beneficiários, de forma a adequar essa realidade capitalista às exigências contábeis do déficit público. É isto que está na base do consenso das elites governamentais, por elas falaciosamente chamado de pacto da governabilidade.
Tenta-se de tirar dos pobres trabalhadores rurais, velhos e deficientes a já precária proteção previdenciária per capita, bem como de se fazer o alongamento temporal do direito à aposentadoria, tudo dentro da racionalidade capitalista segundo a qual é preciso manter-se saudável e saldável a lógica (depressiva) do sistema.
Trombeteia-se que o déficit público se constitui na causa da depressão econômica, quando na verdade ele é o efeito de uma lógica de reprodução do valor que encontrou o seu ponto de saturação. Tal equação somente se resolve com a superação da mediação social pelo valor (dinheiro e mercadorias), a qual implicaria a superação do Estado e de todas as instituições que estão a lhe servir.
Toda essa racionália se desenvolve dentro da lógica capitalista de mediação social, como se não houvesse outra possibilidade de convivência social senão a partir da produção de valor (dinheiro e mercadorias); então, nela prevalece a tese de que se tem de matar o paciente para acabar com a doença.
A submissão à lógica capitalista mundial é flagrante: de nenhuma das análises políticas e midiáticas consta, p. ex., o repúdio às elevadas taxas de juros pagas pelo Brasil no mercado financeiro internacional, as quais correspondem ao dobro do déficit orçamentário da previdência social.
O consenso do dito pacto da governabilidade é forte em sacrificar os fracos, mas fraco em atingir os agiotas internacionais.
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SOBRE UMA IMPROPRIEDADE DE FUNÇÃO CONSTITUCIONAL — Em nenhum lugar do mundo onde haja pactos políticos envolvendo o Executivo e o Legislativo se constata a presença da corte constitucional representada pelo seu presidente.
A impropriedade se deve a dois aspectos distintos da função jurisdicional:
— o presidente do Supremo Tribunal Federal representa, obviamente, o órgão maior do Poder Judiciário no que diz respeito às solenidades e temas concernentes à ordem constitucional do país, mas nunca em ações políticas cujas constitucionalidades possam ser objetos de questionamentos e análises jurisdicionais pela Corte Suprema; e
— cada ministro integrante do STF tem voz própria nas suas decisões e não podem ser representados por ninguém, principalmente quando se trata de um pacto político de cujo teor possam discordar.
— cada ministro integrante do STF tem voz própria nas suas decisões e não podem ser representados por ninguém, principalmente quando se trata de um pacto político de cujo teor possam discordar.
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Cara de um, focinho do outro... |
Pois não é que, em nome de uma harmonia que revoga a pretensa independência dos Poderes do Estado, o ministro José Antônio Dias Toffoli aceitou participar de um acordo político para a governabilidade?!
Ainda por cima, comprometeu-se a assinar uma carta de princípios sobre o tema, conforme divulgado pelo chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni...
O Brasil é o campeão quando se trata de desigualdades sociais entre as elites e o povo. Que país civilizado tem uma renda domiciliar per capita domiciliar de R$ 1.373,00 (segundo o IBGE), mas paga a seus magistrados um salário trinta vezes maior e a seus parlamentares, um salário cem vezes maior?
Qual o critério de realização da justiça, quando em sua origem está uma ordem social injusta nos seus mecanismos de mediação social (lógica do valor) e quando se pratica a injustiça salarial para favorecer exatamente aqueles que são incumbidos da defesa de princípios isonômicos de tratamentos sociais?
É por estas e outras que nos entristecem tanto os últimos acontecimentos políticos, com significativa parte da população ainda se deixando enganar por salvadores da pátria e apoiando candidatos comprometidos com a imposição de medidas político-administrativas antipovo.
Ou seja, muitos que seriam terrivelmente prejudicados contribuíram para o aprofundamento das próprias desgraças, comportando-se como desavisados zumbis nas praças públicas, enrolados no verde-amarelo da pátria desalmada, Brasil! (por Dalton Rosado)
Ou seja, muitos que seriam terrivelmente prejudicados contribuíram para o aprofundamento das próprias desgraças, comportando-se como desavisados zumbis nas praças públicas, enrolados no verde-amarelo da pátria desalmada, Brasil! (por Dalton Rosado)