sábado, 30 de novembro de 2019

SEGUNDO A FOLHA DE S. PAULO, DEVEM SER IMPOSTOS A BOLSONARO "OS LIMITES QUE SE DÃO A UMA CRIANÇA"

editorial/folha de s. paulo
FANTASIA DE IMPERADOR
Jair Bolsonaro não entende nem nunca entenderá os limites que a República impõe ao exercício da Presidência. Trata-se de uma personalidade que combina leviandade e autoritarismo.

Será preciso então que as regras do Estado democrático de Direito lhe sejam impingidas de fora para dentro, como os limites que se dão a uma criança. 

Porque ele não se contém, terá de ser contido —pelas instituições da República, pelo sistema de freios e contrapesos que, até agora, tem funcionado na jovem democracia brasileira.

O Palácio do Planalto não é uma extensão da casa na Barra da Tijuca que o presidente mantém no Rio de Janeiro. Nem os seus vizinhos na praça dos Três Poderes são os daquele condomínio.

A sua caneta não pode tudo. Ela não impede que seus filhos sejam investigados por deslavada confusão entre o que é público e o que é privado. Não transforma o filho, arauto da ditadura, em embaixador nos Estados Unidos.

Sua caneta não tem o dom de transmitir aos cidadãos os caprichos da sua vontade e de seus desejos primitivos. O império dos sentidos não preside a vida republicana.

Quando a Constituição afirma que a legalidade, a impessoalidade e a moralidade governam a administração pública, não se trata de palavras lançadas ao vento numa live de rede social.

A Carta equivale a uma ordem do general à sua tropa. Quem não cumpre deve ser punido. Descumpri-la é, por exemplo, afastar o fiscal que lhe aplicou uma multa. Retaliar a imprensa crítica por meio de medidas provisórias.

Ou consignar em ato de ofício da Presidência a discriminação a um meio de comunicação, como na licitação que tirou a Folha das compras de serviços do governo federal publicada na última quinta (28).

Igualmente, incitar um boicote contra anunciantes deste jornal, como sugeriu Bolsonaro nesta sexta-feira (29), escancara abuso de poder político.

A questão não é pecuniária, mas de princípios. O governo planeja cancelar dezenas de assinaturas de uma publicação com 327.959 delas, segundo os últimos dados auditados. Anunciam na Folha cerca de 5.000 empresas, e o jornal terá terminado o ano de 2019 com quase todos os setores da economia representados em suas plataformas.

Prestes a completar cem anos, este jornal tem de lidar, mais uma vez, com um presidente fantasiado de imperador. Encara a tarefa com um misto de lamento e otimismo.

Lamento pelo amesquinhamento dos valores da República que esse ocupante circunstancial da Presidência patrocina. Otimismo pela convicção de que o futuro do Brasil é maior do que a figura que neste momento o governa.
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TOQUE DO EDITOR — Não é intenção deste blogueiro esquecer a colaboração prestada pelo Grupo Folha à ditadura militar, a ponto de ter facilitado a prisão dos próprios jornalistas da casa, acumpliciando-se com os torturadores que lhes impuseram os mais terríveis suplícios.

Nem está apagado da memória desta equipe o repulsivo editorial de 2009 com que a Folha de S. Pauloao referir-se ao regime genocida como uma mera ditabranda, relativizou a repressão responsável pelo assassinato de duas dezenas de amigos íntimos e de companheiros próximos ou conhecidos  do blogueiro que vos escreve.

Feitas as necessárias ressalvas, não se pode deixar de reconhecer que o principal inimigo de todos os brasileiros civilizados, neste momento, é o presidente que representa o retrocesso social desmedido e a barbárie desembestada. 

Não seremos nós a endossar a afirmação pomposa de que o Estado oligárquico de direita vigente no Brasil seja um Estado democrático de Direito

Mesmo assim, há um ponto incontestável no editorial: Bolsonaro não se contém, terá de ser contido.

Então, é hora de relevarmos velhos rancores e diferenças ideológicas, dedicando nossos melhores esforços à formação de uma frente de todas as forças e agrupamentos dispostos ou propensos a ocuparem, repito, a trincheira da civilização em luta contra a barbárie.

Daí a reprodução do editorial desse veículo que arrota democracia mas tem tratado alguns membros desta equipe como não-pessoas cujo nome é proibido até mencionar, exatamente como nos tempos do marcartismo nos EUA.

Porque nós, sim, somos fiéis aos princípios que professamos e aceitamos fazer quaisquer sacrifícios de ego em nome do bem comum. (por Celso Lungaretti)

MARCELO FREIXO ACUSA SERGIO MORO DE ADOTAR "AGRESSIVIDADE DE UM CAPANGA" PARA DEFENDER O CLÃ BOLSONARO

anielle franco e marcelo freixo
MORO USOU PF PARA INTIMIDAR
PORTEIRO E PROTEGER CLÃ BOLSONARO
O ministro da Justiça Sergio Moro sempre dedicou ao assassinato da vereadora Marielle Franco o seu absoluto silêncio e omissão. 

Ao longo de 600 dias, nunca manifestou solidariedade, procurou a família ou se pronunciou sobre o grave ataque que a execução de uma parlamentar representa à democracia. Quando questionado, dizia que não caberiam comentários a uma apuração realizada na esfera estadual. 

Tudo mudou após os nomes de seu chefe Jair Bolsonaro e do vereador Carlos Bolsonaro aparecerem nas investigações sobre quem seria o mandante da execução. Moro passou da profunda indiferença à agressividade de um capanga. O ministro assumiu de vez o papel de advogado particular do clã presidencial. 

A mudança de postura ficou evidente em entrevista à rádio CBN. O ex-juiz classificou como "total disparate" a menção ao presidente e falou em politização do crime. Ora, quem politiza o assassinato é o ministro da Justiça, que não se constrange em usar o aparato policial do Estado brasileiro para intimidar um porteiro, homem humilde que mora numa área controlada por milícia, transformando uma testemunha em réu, para proteger a família Bolsonaro. 

Moro também politiza o crime ao defender a federalização das investigações, que estão sob a responsabilidade da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, sem o devido embasamento técnico que sustente a mudança. 

Certamente, o ex-juiz sabe que o art. 109, V-A, §5º da Constituição brasileira é claro ao definir os requisitos para que haja a transferência da apuração de um crime para a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. 
Além disso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a quem caberá o julgamento do pedido de federalização, também aponta que o deslocamento de competência só poderá ocorrer quando se verifica a incapacidade das autoridades locais em oferecer respostas efetivas, seja por leniência, omissão ou conluio. 

Nenhum desses critérios são observados quando analisamos as investigações realizadas pela Polícia Civil e Ministério Público do RJ. Afinal, dois suspeitos de terem cometido a execução foram identificados e presos. 

Um deles, o PM reformado Ronnie Lessa, nunca havia entrado numa delegacia na condição de acusado, apesar de ser um dos mais perigosos matadores do Estado e membro de um grupo de assassinos profissionais chamado Escritório do Crime. Sua prisão mostra que as apurações, por mais difíceis que sejam, estão progredindo. 

Para além da fragilidade jurídica, o posicionamento de Moro desrespeita a família de Marielle, que já manifestou publicamente ser contra a federalização. Os familiares redigiram uma carta aos ministros do STJ pela qual apresentam argumentos legais para que a investigação permaneça na esfera estadual. Estamos nos reunindo com ministros da corte para entregar esse documento e apresentar as preocupações dos parentes com essa tentativa de intervenção. 

Se Moro quer de fato contribuir com o caso, ele pode descobrir onde está o capitão Adriano Nóbrega, miliciano e membro do Escritório do Crime, que está foragido. A esposa e a mãe do bandido, que é comparsa de Ronnie Lessa, eram assessoras do filho mais velho do presidente. 
Marielle era companheira de luta do Freixo

Em vez de federalizar esse crime, o ministro poderia federalizar o combate às milícias, como já sugerimos no Congresso Nacional através de uma proposta de emenda à Constituição. Mas por que não o faz? 

Há muitas formas de Moro colaborar sem agredir a família de Marielle e sem politizar seu assassinato.
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(reproduzido do Blog do Sakamoto, este artigo foi escrito a quatro mãos
por Anielle Franco, irmã de Marielle, e o deputado federal Marcelo Freixo)

COMO SUPERARMOS A VISÃO UNILATERAL QUE NOS CONDICIONA À RESIGNAÇÃO COM O ABUSO E À SUBMISSÃO AO CAPITALISMO? – 1

dalton rosado
POR UMA VISÃO OMNILATERAL DA VIDA
As relações sociais sob o capital são unilaterais, que é o antônimo das relações sociais omnilaterais

Enquanto nas relações unilaterais o ser humano é regido por uma determinação fora de si, que o enquadra previamente num comportamento de competitividade autofágica, nas relações omnilaterais o ser humano está aberto para as múltiplas potencialidades que a sua racionalidade pode oferecer.

A diferenciação entre um conceito e outro pode ser entendida como sendo a circunstância devido à qual o ser humano se torna unilateralmente inimigo do seu semelhante, tangido pela competitividade que a ambos infelicita e desgraça, enquanto na omnilateralidade o ser humano é contributivamente solidário com o seu semelhante. 

A visão unilateral da vida é esquizofrênica,  já que imposta por uma lógica fetichista, reificada, fora de si, que limita as potencialidades do ser humano e o enquadra num universo previamente estabelecido por uma necessidade vital de consumo (a qual somente pode ser suprida dentro de um universo acanhado de atividade determinada pela escravidão indireta do trabalho abstrato, assalariado, sem o qual ele não sobrevive). 
Mas, contraditoriamente, é essa mesma visão unilateral que hoje retira da sociedade a possibilidade de oferecimento do próprio trabalho abstrato escravista, por força do desemprego estrutural; isto demonstra quão acanhada é sua dinâmica social perversa e restritiva.

Ao contrário, a visão omnilateral admite e estimula a diversidade das capacidades e a pluralidade de comportamentos individuais que não afetem destrutivamente os comportamentos individuais e coletivos, principalmente aqueles referentes às discriminações raciais e de gênero.

Quando se vê restrições ao conteúdo educacional mais abrangente e, ao mesmo tempo, a imposição de conceitos conservadores culturalmente positivados que a cada dia se evidenciam como obsoletos, estamos diante de uma visão unilateral pelo simples fato de que a verdade a ser cultuada e introjetada nas mentes humanas não pode ser contestada.

Quando se abre a perspectiva do debate e se aceita a reflexão sobre conceitos diferentes daqueles que estão cristalizados e positivados equivocadamente como corretos e virtuosos, descortinam-se outros conceitos que a própria dinâmica da vida social em evolução demonstra serem mais adequados à realidade e à busca da realização do ideal de justiça.

O conceito de escola sem partido, p. ex., na verdade aponta para uma escola com partido, desde que o partido seja aquele de quem deseja manter incontestada uma visão unilateral de vida previa e historicamente positivada, como se isso fosse um conceito hipoteticamente virtuoso. 

A visão unilateral abomina o debate, justamente porque do confronto da tese com a antítese surge a síntese capaz de promover mudanças benfazejas. A visão ditatorial de mundo, na qual alguém manda e os outros obedecem, corresponde a aversão ao contraditório que oportuniza visões diferentes daquelas que se quer impor pela força e sem argumentos.

Tal comportamento obedece ao adágio popular segundo o qual manda quem pode, obedece quem tem juízo. No caso, obviamente, o juízo corresponde a evitar-se uma punição por desobediência. 
É que a visão unilateral nos conduz à submissão, enquanto a visão omnilateral nos faz altivos.  

Quando se diz, p. ex., que o trabalho dignifica o homem, como conceito pétreo, imutável, sem esclarecer que a indispensável interação metabólica do ser humano com a natureza não pode ser confundida com a categoria econômica capitalista trabalho (entendido como produtor de valor monetário); sendo ele dimensionado como tal, a  unilateralidade compromete irremediavelmente a mensagem, pois digno, na verdade, seria emancipar o homem do trabalho alienado.

Sob a relação social capitalista, unilateral por excelência, não se admite outro modo de produção social que não aquele que produz valor, ele mesmo sendo valor, e que assim é transformado em mercadoria graças ao caráter onívoro e unilateral de própria existência dessa categoria econômica fetichista, como se tal comportamento fosse um dado ontológico e, consequentemente, imutável da vida. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

"O IRLANDÊS" É UM FILME DE MÁFIA COMO MUITOS OUTROS. POR QUE TANTO AUÊ?

Pacino (79 anos) e De Niro (76): prodígios da maquilagem
Bem que eu tentei afirmar-me como crítico de cinema, mas a minha paixão pela sétima arte atrapalhou: eu queria ir fundo na análise dos filmes e a indústria cultural já então optava por apenas fornecer indicações para consumo, de forma que o leitor pudesse avaliar se compensava ou não assistir àquele filme.

De 1979 até o final de 1984 (saiba mais sobre tal fase aqui), enquanto tentei oferecer uma alternativa às críticas rasas como poças d'água, com número cada vez menor de linhas, que os críticos-padrão entregavam, tive muito prazer, p. ex., em não rasgar seda para as produções que todos eles endeusavam apenas porque tinham chegado com reputação firmada nos grandes centros cinematográficos.  

Naquele tempo as empresas exibidoras programavam sessões especiais ou cabines para assistirmos a seus lançamentos mais ambiciosos antes da estreia e podermos entregar nossas apreciações a tempo de serem publicadas simultaneamente à entrada em cartaz. Então, várias vezes ouvi os medalhões de então confessarem não ter gostado de um filme importante para depois constatar que, ao escreverem sobre ele, haviam ficado oportunisticamente em cima do muro.

Comigo não, violão. Minha inflexibilidade me acarretou problemas com tais empresas e também com veículos para os quais trabalhei, mas nunca conseguiram obrigar-me a fazer média com seja lá o que ou com quem for.
Jack Nicholson foi o Hoffa de 1992...
Então, se hoje fosse publicado em algum jornalão ou revistona, haveria pelo menos uma voz discrepante desse auê todo para O irlandês

Não passa de mais um filme de máfia como tantos outros:
— inferior a quase todos os realizados por diretores italianos como Francesco Rosi, Damiano Damiani, Elio Petri e Giuliano Montaldo, além do melhor de todos os tempos e países, Era uma vez na América, do genial Sergio Leone; 
 ínfimo diante dos de conterrâneos dele como Francis Ford Coppola e Brian De Palma; e que 
 perde de goleada para um montão de fitas de cineastas japoneses que exploram o filão yakuza.

Scorcese é um diretor superestimadíssimo, que realiza filmes desnecessariamente longos e arrastados, como se isto acrescentasse qualidade. No caso do Sergio Leone, sim, sem dúvida. No dele e do Quentin Tarantino, isto só faz o tédio aumentar a cada minuto. 

O irlandês, p. ex., teria um final até impactante se não fosse o anticlímax de mostrar tudo que sucederia na vida do personagem principal após o acontecimento culminante, só que aí nada mais havia que valesse a pena vermos, ainda mais depois de três horas de filme. Aguentei até o fim porque assistia confortavelmente em casa; no cinema, estaria trocando de posição na poltrona a cada minuto...
...Stallone o de 1978, com o nome de Kovak em vez de Hoffa...

Minha sensação de perda de tempo aumentava por conhecer muito bem a história de Jimmy Hoffa, o poderoso presidente de uma confederação de caminhoneiros dos EUA que fizera carreira em parceria com a máfia e, quando a justiça fechava o cerco sobre ele, teve o destino habitual de quem sabe demais e complicará pessoas perigosas se der com a língua nos dentes como um Odebrecht qualquer. 

Eu acompanhara os relatos jornalísticos em 1975 e já havia visto a história nas telas em duas versões que me agradaram muito mais:  Hoffa - um homem, uma lenda (d. Danny DeVito, 1992) e F.I.S.T. (d. Norman Jewison, 1978). 

A primeira por causa do roteiro superlativo de David Mamet, um dos últimos sinais de vida inteligente na Broadway e em Hollywood (o roteirista de O irlandês, Steven Zaillian, não lhe chega aos pés). 

E a segunda, que não é uma biografia cinematográfica assumida  de Hoffa mas claramente nele se inspira, porque Jewison sempre foi um diretor bem melhor do que Scorcese, ponto.

O que muitos consideram grande mérito de O irlandês, montar um painel das relações entre o crime organizado, os negócios e a política, é que o faz parecer um filme tão velho: este enfoque já foi visto em pelo menos uma centena de fitas e seriados, principalmente a partir da consagração de O poderoso chefão 1 (1972 ) e 2 (1974).  Saturou.
...e Pacino, o de 2019 (o da vida real está à direita)
Deu pena ver Robert De Niro, aos 76 anos, com tintura no cabelo e muita maquilagem para aparentar ter uns 30 e poucos no início do filme. Não engana ninguém; teria sido melhor utilizarem dois atores.

Scorcese é um cineasta que quase sempre me frustra. Dele, a rigor, só gostei mesmo do final de Taxi driver (1976), do documentário musical O último concerto de rock (1978) e de Touro Indomável (1980).

E simplesmente abominei A cor do dinheiro (1986), sequela que é mais uma traição ao filme anterior, um dos meus maiores cults pessoais, Desafio à corrupção (d. Robert Rossen, 1961). 

A sofrida trajetória redentora do personagem principal certamente o tornaria um ser humano diferenciado, então jamais o reencontraríamos, duas ou três décadas depois, como aquele indivíduo meramente ávido por reingressar no universo vicioso  das competições profissionais de sinuca que o filme de Scorcese mostra. 

Se tudo por que havia passado não o tivesse libertado da obsessão pela cor do dinheiro, de que valera, afinal? E qual a razão para nos interessarmos pela sina dele? 

A recusa final do personagem a chafurdar na podridão capitalista simplesmente desapareceu da sequela. Foi uma opção artisticamente inaceitável e moralmente indefensável de Scorcese. (por Celso Lungaretti)

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

NEM CONSERVADOR O GOVERNO DO BOZO É. NÃO PASSA DE UM FLAGELO ARCAICO...

josias de souza
A PENÚLTIMA DE BOLSONARO: UM NEGRO RACISTA
Sob Jair Bolsonaro, há um adorador da ditadura na Presidência, um antiambientalista no Ministério do Meio Ambiente, um antidiplomata no Itamaraty, um deseducado na pasta da Educação e um inimigo dos artistas na Secretaria de Cultura. 

Quando se imaginava que o governo já havia atingido o ápice do contrassenso, sobreveio o escárnio: um negro racista no comando de uma entidade criada para zelar pelos interesses da comunidade afrodescendente.

Chama-se Sérgio Camargo. Jornalista, foi acomodado na presidência da Fundação Palmares, que tem entre os seus objetivos o de promover e apoiar a integração cultural, social, econômica e política dos afrodescendentes. Os pensamentos vadios do personagem estão disponíveis na vitrine das redes sociais. 

Sérgio Camargo avalia que "não há salvação para o movimento negro. Precisa ser extinto! Fortalecê-lo é fortalecer a esquerda". Espanto! 

Para ele, "a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes". Pasmo!  

Sustenta que "os negros do Brasil vivem melhor que os negros da África". Estupefação!

Uma das metas do novo presidente da Fundação Palmares é abolir o Dia da Consciência Negra, que "celebra a escravização de mentes negras pela esquerda." 

Procurado, absteve-se de esmiuçar sua antiplataforma numa entrevista. Mas a Secretaria da Cultura, que abriga em seu organograma a Fundação Palmares, parece dar-lhe carta branca. 

Em nota, a secretaria esclareceu que Sérgio Camargo defende que o negro não precisa ser vítima. Tampouco precisa ser de esquerda. Trabalha para alcançar a libertação da mentalidade que escraviza ideologicamente os negros. Uma de suas prioridades é desaparelhar a Fundação Palmares. 

O Hino à República, aquele que pede à liberdade que "abra as asas sobre nós", diz a certa altura: "Nós nem cremos que escravos outrora / Tenha havido em tão nobre país…" Alguns versos adiante, proclama: "Somos todos iguais". O hino foi escrito pelo poeta pernambucano Medeiros e Albuquerque em 1890. 
Desabafo do músico Oswaldo de Camargo Filho
Dois anos antes, ainda havia escravos no Brasil. Decorridos 129 anos, eles continuam existindo. Sergio Camargo, p. ex., está acorrentado à mesma mentalidade que faz do governo Bolsonaro não um fenômeno conservador, mas um flagelo arcaico. 

Instado a comentar a nomeação de Sérgio Camargo, o presidente da República economizou palavras: "Não conheço pessoalmente". 

É uma pena que Jair Bolsonaro não conheça Sérgio Camargo. Vivo, o grego Sócrates, de passagem por estas anacrônicas ágoras tropicais, repetiria para o capitão um de seus célebres ensinamentos: "Conhece-te a ti mesmo". Um encontro de Bolsonaro com o presidente da Fundação Palmares será como uma espiada no espelho. 

Se prezasse seu ofício de jornalista, Sérgio Camargo talvez percebesse que o melhor engajamento político é o de retratar a estupidez humana, usando a habilidade verbal para produzir um testemunho contra. Mas ele parece ter optado por denunciar a estupidez praticando-a.  (por Josias de Souza)
"...suncê num tem sido muito bão./ Tem sido mau fio, mau marido,/ inda
puxa saco di patrão./ Fez candonga di cumpanheiro seu,/ ele botou feitiço
em suncê,/ agora só o ôme à meia noite/ é que seu caso pode resolvê..."

ESTÁ NA HORA DE DEUS FAZER O UPGRADE DOS MANDAMENTOS E INCLUIR O 11º: "NÃO SERÁS CONIVENTE COM O MAL E OS MAUS".

bruno boghossian
PARAGUAI ENSINA UMA LIÇÃO AO
EXPULSAR SENADOR EXTREMISTA
Este monstrinho foi expelido do Senado paraguaio
Quando senadores paraguaios abriram o primeiro processo contra Payo Cubas, em abril, um parlamentar fez um alerta. Ele disse que o colega tinha as características do fascismo, do autoritarismo e da intolerância. Acrescentou que, se nenhuma medida fosse tomada, aquele  "monstrinho" cresceria.

Cubas foi suspenso do Senado por dois meses. Ele recebeu a punição por ter xingado outros legisladores e por ter atirado copos d’água no chefe da Polícia Nacional e no ministro do Interior durante uma reunião.

Depois das férias forçadas, sem receber salário, a criatura voltou ainda mais abominável. Nesta 5ª feira (28), ele foi cassado por ter defendido o assassinato de “pelo menos 100 mil brasileiros” que vivem no país e por ter dado um tapa num policial.

Os paraguaios ensinam uma lição. 
Este monstrinho se tornou o presidente miliciano do Brasil
Cubas é o típico agitador que explora o marketing do ódio como ferramenta política. Os senadores preferiram expulsá-lo do Parlamento a permitir que abusasse do cargo para chafurdar nos próprios desatinos.

No Brasil, políticos boquirrotos fazem fama até chegar ao topo do poder. Deputados com discursos racistas contam com a imunidade parlamentar como proteção.

O caso mostra que não se deve aplicar leniência a agentes públicos que, a distância, podem parecer meros polemistas. 

O senador já havia tentado chamar a atenção quando ameaçou jogar uma banana num colega ou quando atirou água de uma garrafa noutro. Agora lançou uma propaganda nitidamente extremista.
Este monstrinho causou enorme destruição e morticínio

Cubas é membro do Movimento Cruzada Nacional. O repórter Fábio Zanini, que contou a história da cassação, destaca que uma das bandeiras do partido é o combate à presença estrangeira no Paraguai. Nessa onda, Cubas disse que brasileiros deveriam ser mandados "ao paredão”.

O senador cassado ainda tentou surfar no episódio. Escreveu que deixava o “Parlamento sombrio”, rumo ao “país que todos merecemos”. 

Alguns paraguaios lhe deram apoio. Caberá aos eleitores evitar o crescimento de outros monstrinhos. (por Bruno Boghossian)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O AI-5, O MINISTRO SIGNATÁRIO, O MINISTRO SALAFRÁRIO E O BONDE DO TIGRÃO

roberto dias
PAULO GUEDES, O VOYEUR DO AI-5
Em dezembro de 1968, Paulo Guedes morava em Belo Horizonte, onde cursava economia na UFMG. Era um estudante avesso à política e bom de bola, segundo perfil traçado por seus colegas ao jornal Estado de Minas.

O Guedes de 2019, pelo que vai se percebendo agora, adoraria que o Guedes de 1968 estivesse não nas alterosas e sim nas Laranjeiras, espiando 17 engravatados cometerem um ato de bestialidade.

Seu fetiche com o AI-5 seria bizarro mesmo se fosse possível observá-lo sem a lente moral.

O ministro usa como pretexto uma disputa nas ruas que até aqui inexiste. A reforma da Previdência por ele articulada mudou a vida de muita gente sem que seus opositores conseguissem se fazer notar. 
Lula, o homem que tira o sono de Guedes, era também a estrela de um evento que o PT queria armar na praça da República, em São Paulo. Um comício que se desmanchou supostamente por causa de uma tempestade que nem chegou a ocorrer.

A sensibilidade política do superministro arrepia. O AI-5 fechou o mesmo Congresso para o qual sua equipe acaba de mandar um pacote de medidas importantes e de aprovação custosa.

O Guedes de 1968 se chamava Delfim Netto. “Naquele instante, com o que se conhecia do mundo”, Delfim diz que assinaria o AI-5 novamente. Tinham lhe prometido eleições, explica. 

Examinados seus argumentos com uma lente de aumento moral, acaba-se por enxergar o óbvio com nitidez. “Dou risada quando dizem que eram democratas naquela época. Não tinha um sujeito que era democrata”, afirmou ele ao Valor.

Como se sabe, cada cabeça carrega sua própria sentença. Guedes, ao contrário de Delfim, faz parte de um governo que foi eleito democraticamente. 

Tal como Delfim dizia estar, Guedes poderia se afirmar sempre à espera de democracia. Prefere, porém, falar sobre AI-5. 

Em vez de se assanhar com fantasmas, faria bem em espiar um livro de história. 
(por Roberto Dias)

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

NO FIM DE FEIRA DO CAPITALISMO, A DEMOCRACIA BURGUESA APODRECE EM TODO LUGAR. TRUMP É MAIS UM SINTOMA

Causa...
paul krugman
TRUMP E SEU PARTIDO VELHO
E CORRUPTO
Formalmente, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos está conduzindo um inquérito para decidir se Donald Trump deve ou não sofrer impeachment. 

Na realidade, sabemos a resposta a essa pergunta há muito tempo. Numa era diferente, em que ambos os partidos acreditassem na Constituição, o abuso de sua posição por Trump para ganho pessoal teria conduzido à sua remoção do posto há muito tempo.

Não, o que estamos testemunhando de fato é um teste das profundezas a que o Partido Republicano se deixará afundar. Quanta corrupção, que nível de conluio com representantes de potências estrangeiras e traição do interesse nacional os representantes eleitos do partido acatarão?

E o resultado desse teste vem se tornando cada vez mais claro: o poço não tem fundo. O inquérito não encontrou uma prova cabal; encontrou uma verdadeira coleção delas. Mas praticamente nenhum republicano leal ao partido se voltou contra Trump e seus colaboradores em tantos crimes e delitos. Por que não?

A resposta vai ao cerne do que há de errado com a política americana moderna: o Partido Republicano se tornou uma instituição completamente corrupta. Trump é um sintoma, não a doença, e nossa democracia continuará sob severa ameaça mesmo depois que ele se for.
...e efeito.

A explicação usual que se ouve sobre a aquiescência do Partido Republicano aos maus feitos de Trump é que os republicanos eleitos temem ser derrotados nas primárias caso demonstrem qualquer sinal de hesitação em seu apoio. E isso certamente é parte importante da história.

Os republicanos não se esquecem do que aconteceu em 2014, quando David Brat, um insurgente do Tea Party, derrubou Eric Cantor, na época o líder da maioria republicana na Câmara. Cantor era um conservador linha dura, mas tinha modos cordatos e era percebido como brando com relação à imigração.

A lição é que a base republicana exige carne vermelha, e hoje em dia isso significa apoiar Trump não importa o que aconteça.

Mas os temores eleitorais não são a única coisa que mantém os republicanos na linha.

Por um lado, não acho que a maioria dos observadores da política interna perceba, mesmo agora, até que ponto os republicanos consideram seus oponentes não como concidadãos, mas sim como inimigos desprovidos de qualquer direito legítimo a governar.

O secretário da Justiça, William Barr, diz que os progressistas são “laicos militantes” cujo objetivo é “destruir a ordem moral tradicional”. Se é dessa maneira que você vê o mundo, você apoiará qualquer coisa –o que inclui solicitar e/ou extorquir intervenção de potências estrangeiras nas eleições dos Estados Unidos– para ajudar a derrotar os progressistas.
Dize-me a quem idolatras...

Por outro lado, é notável que, com algumas poucas exceções, mesmo os republicanos que estão deixando ou deixaram seus postos ainda se recusam a criticar Trump. 

Houve uma onda de republicanos anunciando que deixarão suas cadeiras na Câmara, e existe pouca dúvida de que alguns desses políticos estão saindo porque sentem repulsa por servir à atual administração. Mas quase nenhum deles admitiu o fato explicitamente, ainda que não tenham novas primárias a enfrentar. O que os mantêm na linha?

A resposta é: siga o dinheiro.

Afinal, o que políticos aposentados fazem para ganhar a vida? Muitos se tornam lobistas e, numa era de extrema polarização, isso significa fazer lobby dentro de seu partido. Ser honesto sobre os motivos de sua saída seria ruim para os futuros negócios.

Além disso, a direita moderna dos Estados Unidos contém muitas instituições – a Fox News e outras organizações de mídia, institutos conservadores de pesquisa e coisa assim – que oferecem sinecuras a antigos políticos. No entanto, esse programa de bem-estar social para maluquinhos de direita –que não tem contraparte na esquerda– só está disponível para aqueles que continuarem seguindo a linha do partido.

Mencionei acima David Brat, que tirou Eric Cantor de seu assento na Câmara. Brat mesmo terminou derrotado na grande vitória democrata do ano passado. O que ele está fazendo agora, então? É diretor da escola de administração de empresas da Liberty University, de Jerry Falwell Jr.

Até onde sei, Gordon Sondland, que é embaixador dos Estados Unidos junto à União Europeia – mas certamente não por muito mais tempo –foi o primeiro indicado político, em contraposição aos funcionários públicos de carreira, a testemunhar sobre o abuso de poder do governo Trump na Ucrânia. 
...e eu te direi que és!

Um ponto importante sobre Sondland, porém ele é um homem rico, que não precisa da rede de bem-estar social dos maluquinhos da direita.

Viverá confortavelmente a sua aposentadoria, desde que não termine preso. Por isso, seus incentivos são muito diferentes daqueles que se aplicam à maior parte das figuras republicanas.

Isto significa que todos os republicanos são corruptamente subservientes a Trump? Não, alguns deles são honrados e jamais aderiram ao presidente, o que inclui muitos dos luminares neoconservadores na política externa, como William Kristol. Alguns de nós jamais perdoarão esse grupo por ter nos levado a uma guerra sob falsos pretextos, mas a verdade é que eles têm princípios, e merecem reconhecimento pela coragem política que vêm demonstrando.

Mas o moderno Partido Republicano é em geral esmagadoramente fanático, corrupto, ou os dois.

Qualquer pessoa que imagine que a montanha de indícios quanto aos delitos de Trump conduzirá a um despertar moral, ou que os republicanos retornarão às normas democráticas quando Trump se for, está vivendo num mundo de fantasia. Mesmo uma derrota eleitoral catastrófica no ano que vem provavelmente fará pouco por mudar o comportamento republicano.

A grande questão é determinar se os Estados Unidos tais quais os conhecemos poderão sobreviver por muito tempo quando um de seus dois grandes partidos na prática rejeitou os princípios sobre os quais nossa nação foi construída. (por Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia)
.
Toque do editor  É interessante constatarmos como o fanatismo, a tendenciosidade e o amoralismo desfiguram cada vez mais a democracia cantada em prosa e verso como modelo para o mundo. Prova de que os estertores do capitalismo produzem os mesmos efeitos lá como aqui (embora nestes tristes trópicos isto ocorra de forma mais avassaladora).

Vale, contudo, a ressalva de que "os princípios sobre os quais nossa [a do Krung] nação foi construída" já vem sendo rejeitados, na prática, desde os assassinatos legalizados de Sacco e Vanzetti e do casal Rosenberg, passando:
— pelo genocídio tão dantesco quanto militarmente inútil perpetrado contra os habitantes de Hiroshima e Nagasaki;
— pela caça às bruxas do macartismo; 
— pelo frequente intervencionismo contra nações soberanas: 
— pelos campos de tortura de George W. Bush no exterior e pelo confinamento ditatorial de imigrantes por parte do próprio Bush, etc. 

É enorme a lista de outros episódios aberrantes e deploráveis, mas, no outro prato da balança, há, pelo menos, o recuo no caso dos mísseis cubanos que colocou a espécie humana a um passo da extinção, a retirada do Vietnã diante da vontade manifesta do povo e o impeachment de Nixon por causa da Operação Tabajara de espionagem contra uma sede do Partido Democrata.

O impeachment ou não de Trump, por causa muito mais grave do que a invasão do edifício Watergate, nos permitirá aferir se ainda resta algo dos tais valores constitutivos dos EUA, ou se eles já foram todos para o ralo. (Celso Lungaretti)
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