domingo, 30 de setembro de 2018

BOLSONARO FOI ALVO DA MAIOR MANIFESTAÇÃO DE REPÚDIO A UM CANDIDATO EM TODOS OS TEMPOS

josé roberto de toledo
UM PROTESTO HISTÓRICO, MENOS NA TEVÊ
Dezenas de milhares de mulheres saíram às ruas para bradar #EleNão neste sábado, em cidades de todas as regiões do Brasil. Juntas, produziram as maiores manifestações populares desta eleição presidencial, de longe. 

Não se sabem números exatos porque a polícia, sintomaticamente, não contou na maioria das cidades. Mas as manifestantes ocuparam densamente amplas áreas da Cinelândia (no Rio) e do Largo da Batata (em São Paulo), para citar só duas. 

Numa campanha na qual rarearam os comícios, tamanha aglomeração de gente contra um candidato é notícia. E foi: em inglês, francês, árabe. Mas o brasileiro que passou o dia na frente da tevê não ficou sabendo. A menos que tivesse um celular na mão.

O episódio sintetiza todas as principais marcas da eleição presidencial de 2018 no Brasil. Em lugar da propaganda eleitoral televisiva, quem mobilizou os eleitores contra e a favor de candidatos foram as mídias sociais, notadamente o WhatsApp. Foi uma hashtag distribuída via Twitter, Facebook e Instagram que levou as maiores multidões à rua, não foram anúncios de tevê.

Os efeitos mais profundos dessa mudança são potencialmente revolucionários, pois todo o jogo de poder dentro dos partidos políticos gira em torno da distribuição do tempo de propaganda eleitoral e das verbas públicas. 
Se a tevê perde influência, perdem junto os caciques partidários que controlam a distribuição de tempo de câmera entre seus correligionários. Também perdem poder de barganha partidos que só existem para negociar minutos de tevê ao formarem coligações eleitorais.

Principal propaganda desse novo jeito de fazer campanha política é o candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto e tem menos de 10 segundos por dia de propaganda na tevê. Perca ou ganhe, Bolsonaro é o personagem do ano por ter sido o único candidato capaz de surfar até o fim a onda de conservadorismo que tomou o país como um tsunami, e numa prancha de isopor: sem propaganda de tevê, sem marqueteiro, sem partido. 

Mas o fez destilando tanto ódio contra tantas minorias que a reação a ele acabou provocando a maior manifestação de rua de toda a eleição.

Não é de agora o movimento de mulheres contra Bolsonaro. Desde o começo da campanha, o capitão reformado sempre teve muito mais dificuldade de vender suas ideias repressivas ao eleitorado feminino do que ao masculino.

#EleNão catalisou o sentimento contra Bolsonaro e transformou algo difuso numa ação simultânea e concreta de dezenas de milhares de mulheres. Só não foi maior porque a cobertura da campanha eleitoral na tevê é deliberadamente omissa e limitada. Não faz reportagem, entrevista; não investiga, divulga agendas.
Se parte dessa omissão pode ser explicada pelas limitações impostas pela legislação eleitoral que tange o direito à informação dos telespectadores, nem tudo, porém, cai nessa conta. A falta de cobertura ao vivo dos atos do #EleNão e, mais grave, a ausência de contextualização e ênfase nas raras reportagens sobre a mais importante manifestação de rua da campanha eleitoral de 2018 até agora não se deve ao departamento jurídico das emissoras.

O movimento não é partidário nem promove nenhuma candidatura específica. É contra um candidato, sim, mas não prega que é melhor votar neste ou naquele outro.

O resultado dessa omissão e falta de contextualização é que coisas diferentes são tratadas como iguais. Uma manifestação de dezenas, no máximo centenas de pessoas num lugar é apresentada da mesma maneira e com a mesma magnitude que dezenas de milhares de mulheres em dúzias de cidades. 

Na tela da tevê, o ato solitário pró-Bolsonaro em Copacabana foi equivalente à maior manifestação popular capitaneada por mulheres na história do Brasil. Felizmente, a internet provê o que a tevê omite. (por José Roberto de Toledo, da revista Piauí, ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)

sábado, 29 de setembro de 2018

TRUMP? BOLSONARO ESTÁ MAIS PARA UMA HILLARY CLINTON COM SINAL INVERTIDO...

demétrio magnoli
O TRUMP DELES E O NOSSO
"A História se repete, a primeira vez como tragédia...
Jair Bolsonaro imita Donald Trump. Bolsonaro sonha ser Trump. Não poucos creem que Bolsonaro é, realmente, o nosso Trump —e profetizam ou temem uma surpresa eleitoral semelhante à dos EUA. Contudo, ao menos do ponto de vista eleitoral, o nosso Trump ocupa lugar bem diferente do que ocupou o Trump deles.

Num nível bem simples, a distinção crucial é que o Trump original candidatou-se pelo Partido Republicano, cuja influência estende-se a quase metade do eleitorado, enquanto o Trump tropical representa uma sigla marginal. 

Num nível mais profundo, a diferença é que eles apelam a eleitorados opostos. O magnata emergiu como representante do homem sem rosto, dos órfãos da globalização —os deploráveis, no desastroso, preconceituoso termo cunhado por Hillary Clinton. No Brasil, os deploráveis rejeitam Bolsonaro e votam em Lula (ôoops, em Haddad). 

Uma lenda urbana diz que o Trump original venceu graças às suas declarações machistas, homofóbicas e xenófobas. De fato, elas serviram para aquecer o núcleo minoritário de seus seguidores incondicionais. Mas o triunfo eleitoral deu-se apesar delas. 

O segredo da vitória trumpiana encontra-se na plataforma do nacionalismo econômico, desdobrada nas vertentes do protecionismo comercial (China) e da proteção do emprego americano (imigrantes hispânicos). O discurso antiglobalização (America First) ofereceu uma falsa resposta a dilemas verdadeiros, seduzindo os eleitores de classe média-baixa concentrados em estados decisivos do Meio-Oeste. Os brancos pobres votaram no Trump deles.
...e a segunda como farsa" (Karl Marx)

O Trump deles prometeu parar o declínio econômico por meio de uma restauração nacionalista. 

O nosso Trump promete parar o declínio moral por meio de um governo autoritário, ancorado no conservadorismo de costumes, ignorando as angústias materiais dos deploráveis, que ficam com o lulismo. Segundo as pesquisas, Lula (ôoops, Haddad) bate Bolsonaro por 57% a 22% entre eleitores na faixa de até um salário mínimo. 

A seita ultraliberal brasileira que aderiu ao nosso Trump evidencia abismal ignorância histórica quando tenta mimetizar o liberalismo de seu ídolo americano. O Trump original combina ultraliberalismo para dentro (desregulamentação, corte radical de impostos) com nacionalismo econômico para fora (protecionismo, restrição à imigração). 

No Brasil, não há como replicar a duplicidade trumpiana, pois a China e os imigrantes, espantalhos do Trump deles, nada significam para a nossa massa de pobres. 

Por aqui, os deploráveis anseiam pelo amparo estatal direto, nas formas de salário mínimo, aposentadorias e bolsas. O Estado paternalista desenhado pelo lulismo responde a tais expectativas. Já o Estado mínimo esboçado pelas sandices de Paulo Guedes interessa apenas a especuladores agnósticos e crentes fanáticos da religião secular do Deus-mercado.

O Trump original passou a campanha falando essencialmente sobre economia e emprego, enquanto Hillary desfiava o interminável novelo do multiculturalismo.  
O Trump tropical fala sobre homossexuais, mulheres, moral e cívica, Deus e armas, relegando o discurso econômico a um embaixador para o mercado [Paulo Guedes].

De certo modo, o nosso Trump é Hillary, mas com sinal invertido. Precisamente por isso, provoca amores fulgurantes e ódios incontidos em núcleos minoritários de eleitores imersos numa crônica guerra cultural, mas apenas um circunstancial engajamento antipetista ou o solene desprezo entre os demais. Sua chance de alcançar o 2º turno deriva, exclusivamente, da extensiva rejeição ao PT e da monumental falência do PSDB. 

O nosso Trump é o sonho de consumo de Haddad. No turno final, o avatar de Lula teria o duplo privilégio de falar como representante dos pobres, contra os ricos; e como campeão das liberdades e da democracia, contra o autoritarismo. É vitória certa. (por Demétrio Magnoli)

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

GRAVÍSSIMO: BOLSONARO ARRANCA A MÁSCARA, CONCLAMANDO DESDE JÁ AO GOLPE SE NÃO GANHAR NAS URNAS!!!

Entrevistado por José Luiz Datena no Brasil Urgente, o candidato Jair Bolsonaro afirmou que não aceitará nenhum outro resultado da eleição presidencial que não seja a sua vitória. E insinuou que os comandantes militares deveriam apoiá-lo em seus delírios golpistas. Eis a frase completa
"Não posso falar pelos comandantes [militares]. Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição".
Ou seja, a leitura que já se fazia de suas insistentes declarações colocando em dúvida a lisura do pleito agora se torna inequívoca: ou ele ganha e a eleição vale, ou ele perde e vai rebelar-se, esperando receber o apoio das Forças Armadas para uma virada de mesa. Mais claro, impossível.

A única possibilidade de vitória do PT, segundo Bolsonaro, seria uma fraude. E novamente bateu na tecla que as urnas eletrônicas se prestariam a isto, além de expressar sua desconfiança em profissionais dentro do Tribunal Superior Eleitoral
Em 1961, Jânio Quadros justificou sua fracassada tentativa de golpe com a alegação de que existiriam forças ocultas impedindo-o de governar. Em 2018, Bolsonaro já tem seu pretexto engatilhado desde já, as diabólicas urnas eletrônicas. 

Os dois têm muitos pontos comuns, desde a incapacidade de conviver com vozes discordantes até uma feiura de dar pesadelo em criancinha...

ATORES BRASILEIROS ENCABEÇARÃO O ELENCO DE "THE THREE STOOGES - 2"

longa-metragem The Three Stooges (2012) foi mal nas bilheterias, ficando muito aquém do sucesso que o trio homenageado obtinha entre as décadas de 1930 e 1960. 
No novo filme, os protagonistas serão Jair...

Os produtores de Hollywood, contudo, avaliaram que o errado não era a proposta do filme, mas sim os atores escolhidos para os papéis principais, todos inadequados.

Após longa busca, finalmente foram encontrados três que caem como uma luva, pois  é exatamente como agem na vida real. E são brasileiros!
...Hamilton...

Eles têm compromissos assumidos até o próximo dia 28 de outubro, mas estarão livres e desimpedidos para iniciarem a nova carreira logo no dia seguinte.

Torçamos pelo seu êxito, pois, tendo algo para fazer, eles não tentarão repetir suas constrangedoras performances anteriores noutro tipo de espetáculo. 
...e Paulo.

É que, embora devessem passar-se por pessoas sérias, batiam cabeça o tempo todo. Um fiasco!

Agora, sim, atuarão em papéis nos quais suas vocações serão bem aproveitadas!

ANTICOMUNISMO LEVOU CONSERVADORES ALEMÃES A SUBESTIMAREM HITLER EM 1932. CRIAREMOS TAMBÉM UM MONSTRO?

steven levitsky
TRÊS MITOS SOBRE UMA PRESIDÊNCIA DE BOLSONARO
A polarização nubla nossas percepções. 

À medida que um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad se torna cada vez mais provável, os brasileiros de centro e de centro-direita encaram uma escolha entre um candidato democrático cujas políticas eles desaprovam (Haddad) e um candidato abertamente autoritário (Bolsonaro).

Alguns abrirão mão de seus princípios democráticos por Bolsonaro. Isso é um erro histórico semelhante ao cometido pelos conservadores alemães em 1932 e pelos venezuelanos progressistas em 1998.

Para justificar seu apoio a um autoritário, muita gente diz que Bolsonaro talvez não seja tão ruim. Três argumentos são especialmente comuns. Como Daniel Ziblatt e eu descobrimos ao pesquisar para o nosso livro Como As Democracias Morrem, argumentos semelhantes foram propostos para candidatos autoritários em outros países. E eles foram um erro em quase todos os casos.

1. ELE NÃO FARÁ O QUE DIZ
Bolsonaro e Hamilton Mourão fizeram declarações abertamente antidemocráticas —expressando apoio a golpes de Estado, ditadura, tortura e execuções extrajudiciais. Muitos dos partidários de Bolsonaro afirmam que ele não está falando sério sobre essas coisas e que não as faria, como presidente. São só palavras.

Esse é um erro grave. Candidatos autoritários em sua maioria se tornam líderes autoritários. Hitler, Mussolini, Perón, Chávez, Correa, Morales, Duterte nas Filipinas e Erdogan na Turquia —todos adotaram discursos autoritários em campanha e atacaram as instituições democráticas quando chegaram ao poder.

Palavras em geral se tornam atos, isso é especialmente verdadeiro quanto aos populistas como Bolsonaro. 

Populistas são eleitos sob a promessa de que atacarão o sistema. Conquistam um mandato para sepultar a elite política. Aqueles que não executam essa missão perdem apoio rapidamente. Os populistas sabem disso. E, assim, a maioria deles faz o que disse que faria.

2. ELE É INCOMPETENTE DEMAIS PARA AMEAÇAR A DEMOCRACIA
Muitos eleitores relutantes de Bolsonaro imaginam que faltaria a ele a capacidade e o poder necessários para solapar as instituições democráticas brasileiras. O Congresso ou os tribunais o deteriam. Isso é igualmente falso. Mesmo políticos aparentemente fracos e inexperientes, vindos de fora do sistema, são capazes de destruir a democracia.

A elite peruana não levou Alberto Fujimori a sério quando ele foi eleito em 1990. Mas o Peru estava em crise e os peruanos estavam zangados com seus políticos. Quando o Congresso e juízes tentaram restringir Fujimori, ele os atacou como criminosos e corruptos, definindo-os como uma elite antidemocrática que havia traído o povo peruano e estava bloqueando os esforços do presidente para resolver os problemas do país.
A maioria dos peruanos simpatizava com a visão do presidente. E quando Fujimori fechou o Congresso e aboliu a Constituição, seus índices de aprovação subiram acima dos 80%. 

Por conta da imensa popularidade de Fujimori, a elite não foi capaz de detê-lo. Numa crise, quando o descontentamento público está crescendo, não é preciso talento, experiência ou um plano coerente para subverter a democracia. Basta um pouco de demagogia.

3. SOMOS CAPAZES DE CONTROLÁ-LO
Esse é o mais perigoso dos mitos. Os políticos que ajudaram a levar Mussolini, Hitler, Perón, Chávez e Erdogan ao poder tinham uma coisa em comum: todos subestimaram seus aliados autoritários. Acreditavam, incorretamente, que seriam capazes de controlá-los.

Quando os liberais italianos se alinharam com os fascistas em 1921, facilitando a ascensão de Mussolini ao poder, o fizeram por acreditar que Mussolini era um político comum, que os ajudaria a derrotar a esquerda mas que eles seriam capazes de controlar. A elite alemã ridicularizava Hitler, chamando-o de tolo e palhaço.

Os conservadores aceitaram sua indicação como chanceler (primeiro-ministro) na crença de que seriam capazes de usá-lo para buscar seus próprios objetivos políticos. 

O gabinete inicial de Hitler estava repleto de políticos conservadores experientes, que, ao que se acreditava, colocariam o inexperiente Hitler em seu devido lugar. O líder conservador Franz von Papen disse aos seus aliados: “Não se preocupem. Em dois meses, nós o teremos empurrado com tanta força para o canto que ele vai até apitar”.

Apoiar um candidato autoritário é um jogo perigoso que raramente termina bem. O cientista político Milan Svolik demonstrou que, sob condições de polarização como as que prevalecem hoje no Brasil, as pessoas desprezam seus rivais ideológicos a tal ponto que se dispõem a tolerar autoritarismo. 

É assim que morrem as democracias.
(por Steven Levitsky, cientista
político estadunidense que
leciona na Universidade de
Harvard e é autor do livro
Como as Democracias Morrem)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

UM GOLPE MILITAR À MODA ANTIGA SERIA POSSÍVEL NO BRASIL DE HOJE?

Por Celso Lungaretti
Mea culpa: em meio a tudo que pipoca na imprensa durante este período eleitoral, passei batido por um alerta importante do jornalista, escritor e sociólogo Marcelo Coelho, publicado oito dias atrás na Folha de S. Paulo

Antes tarde do que nunca, reproduzo-o agora. Com um pequeno comentário: há mesmo chance de um golpe militar à moda antiga estar sendo tramado nas hostes bolsonaristas, mas dificilmente teria êxito. Bem mais provável é que desse com os burros n'água, tanto quanto a primeira tentativa dos conspiradores que mais tarde instalaram a ditadura de 1964. 

Foi em agosto de 1961, quando, embora ainda não tivessem cumprido todas as etapas do seu planejamento golpista, sucumbiram à tentação de aproveitarem a renúncia do presidente Jânio Quadros para um improvisado assalto ao poder; o fruto, contudo, estava verde para ser colhido e eles fracassaram.

De qualquer forma, devemos manter um acompanhamento atento dos acontecimentos, pois tudo de que não precisamos neste momento é de uma volta às badernas militares do século passado. 
marcelo coelho
ROTEIRO PRONTO PARA O GOLPE MILITAR
Não vale a pena ver de novo: tanques nas ruas cariocas...
Celso de Barros tem razão. "Não há mais dúvida de que o plano dos bolsonaristas é dar um golpe" (vide aqui).

Seu artigo nem mesmo precisava fazer referência ao vídeo que Bolsonaro gravou no seu leito hospitalar, e que confirma as piores hipóteses.

Ali, o candidato do PSL lança suspeitas de fraude sobre o voto eletrônico e põe em dúvida a isenção dos institutos de pesquisa. Suspeita de um arranjo entre Globo e Datafolha; "com todo o respeito", critica a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e o Supremo Tribunal Federal —que barraram suas iniciativas em favor do voto impresso.

Com a voz enfraquecida, mas até carinhosa em sua rouquidão, adverte sobre a eventualidade de uma vitória petista, e faz uma pergunta de extrema gravidade.
"Meus amigos das Forças Armadas, quem será o ministro da Defesa de vocês? Quem será o nosso ministro?"
Não é preciso somar dois mais dois para perceber, nessa fala de quase 20 minutos, o roteiro completo para um golpe militar. "Raiz, e não Nutella", como diz Celso de Barros.
...e estudantes agredidos no centro velho de São Paulo.

Ou Bolsonaro ganha, ou será fraude. Se as pesquisas disserem que ele perde, são fraude também. Se a fraude prevalecer, Haddad vai tirar Lula da cadeia e levará o país para o caminho da Venezuela... ou de outra "ditadura", como Cuba.

Como em 1964, para "salvar" o país de uma "ditadura comunista", a única saída será uma ação dos "nossos amigos" do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Os quais, no mundo bolsonarista, nunca instituíram nenhuma ditadura.

Sim, fecharam o Congresso, censuraram a imprensa, suspenderam o habeas corpus, cassaram ministros do Supremo Tribunal Federal, prenderam gente sem mandado judicial, torturaram e mataram.

Só que "não era ditadura", sustenta Bolsonaro. Seu raciocínio é risível: o próprio PT surgiu em 1980, e nunca se viu ditadura permitindo a criação de partidos políticos. Nem o golpe de 1964 foi golpe, para o candidato: foi o próprio Congresso quem elegeu Castello Branco (com os tanques, claro, mas isso é detalhe).

O vice de Bolsonaro, enquanto isso, já afirmara que, em caso de baderna, anarquia ou convulsão, as Forças Armadas têm o dever de intervir.
Seria cômico se não fosse trágico: merecemos isto?
Outro general, que aparentemente não faz campanha para nenhum candidato, coloca em dúvida o futuro da democracia. O atentado a Bolsonaro, disse o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, "confirma que estamos construindo dificuldade para que o novo governo tenha uma estabilidade, para a sua governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada."

A frase, em entrevista a O Estado de S. Paulo, foi uma constatação de fato. Mas quando um militar declara uma coisa dessas, quem está falando não é um analista político; até a neutralidade, nesse caso, é perigosa. Sem estabilidade, sem governabilidade, sem legitimidade, como ficamos?

Se quisesse, o general Villas Bôas poderia dizer o contrário: "Tenho confiança de que as eleições se darão normalmente, e que o clima de intolerância e radicalismo não prosseguirá num novo governo". Já haveria sombras nesse pronunciamento; seria algo como uma ameaça. Muito pior foi ter dito o oposto disso.

A questão, a meu ver, não é nem Bolsonaro, nem seu vice, nem os militares. A distante eventualidade de uma vitória de Fernando Haddad criará golpistas em toda parte. Nem toda a fisiologia do mundo fará com que o centrão e a direita se animem a frustrar seus eleitores.

O mundo de Alckmin, de Meirelles, de Amoêdo, do PP, do PTB e do DEM lutou ativamente pelo impeachment de Dilma. Aquilo foi café pequeno diante do que se prepara.

Quanto ao PT, vive numa realidade à parte, em que Dilma nunca se aliou a Temer, em que Lula nunca se encontrou com empreiteiros, em que Haddad vai ser um sucesso.

Por Marcelo Coelho
O mito Lula fica a serviço dos interesses da oligarquia partidária, que não admitiu nenhuma aliança estratégica para derrotar, num consenso democrático, a ameaça da extrema-direita.

Já vi esse filme. Não me convencem os argumentos de que o Brasil é uma sociedade complexa demais para viver um golpe militar.

A Alemanha de 1933 era bem complexa também —excessivamente complexa, aliás. Justamente aí é que os toscos, os imbecis e os trogloditas se dão bem. 
.
Vladimir Safatle também entrou no clima alarmista, antevendo confrontos
políticos que, por não serem indispensáveis para o poder econômico,
seriam por ele desestimulados como prejudiciais aos negócios

NO BRASIL COMO NO CHILE, AS DITADURAS DOS ANOS DE CHUMBO ALAVANCARAM A DESIGUALDADE ECONÔMICA

laura carvalho
O FANTASMA DE PINOCHET
Após a polêmica envolvendo a criação de uma nova CPMF, o economista de Bolsonaro tem evitado aparições públicas, contribuindo para tornar a agenda econômica do candidato ainda mais opaca.

Há quem desconfie de seu compromisso com as ideias de Guedes, que defende, em linhas gerais, uma radicalização da agenda econômica de Michel Temer.

O histórico de votos do deputado não ajuda muito a sanar essas dúvidas.

Embora aquele que nomeou como seu posto Ipiranga defenda a venda de todo o patrimônio federal para pagamento da dívida pública, o deputado votou contra as privatizações da era FHC.

Já em abril de 2017, o deputado votou a favor da reforma trabalhista, tal como defendido por seu guru.

É difícil saber, portanto, se um eventual governo Bolsonaro seguiria a linha do Estado máximo na repressão e mínimo na economia que marcou a ditadura de Augusto Pinochet no Chile, ou a do nacional-desenvolvimentismo autoritário característico da ditadura militar brasileira.

O que não podemos esquecer é que os diferentes modelos econômicos dos milagres brasileiro e chileno têm algo em comum para além dos exemplos de corrupção revelados recentemente: o alto custo social.
Idosos às vezes confundem tempos melhores com tempos em que eles sentiam-se melhores 
No Chile, o crescimento econômico de 7,3% ao ano entre 1976 e 1982 veio acompanhado de um aumento do desemprego de 8% para 14%; de uma redução dos salários reais para 75% do patamar de 1970 e de um aumento de taxa de pobreza de cerca de 22% na década anterior para 32% em 1980. 

Enquanto isso, a parcela da renda apropriada pelos 20% mais ricos subiu de 54,5% para 57,6% entre 1979 e 1981 e a desigualdade medida pelo índice de Gini subiu de 0,49 para 0,52.O alto endividamento externo e a desregulação financeira acabaram agravando os efeitos da crise que se abateu sobre as economias latino-americanas em 1982-83.

Diante das falências generalizadas e da recessão de 13,6% em 1982 e 2,8% em 1983, o governo acabou renacionalizando diversos bancos e mais de 50 empresas que haviam sido privatizadas.

Ainda assim, o crescimento de 6,4% em média entre 1985 e 1989 manteve a renda e a riqueza muito concentradas nas mãos de poucos.
Quem não tinha charme era o milagre: uma ilusão fugaz!

A taxa de desemprego manteve-se em 14,5%, os salários reais ficaram abaixo do nível de 1970 e a parcela da renda apropriada pelos 20% mais ricos aumentou para 60,7% (sendo 45,7% com os 10% mais ricos).

Além de ter banido movimentos de trabalhadores e eliminado leis trabalhistas, os 16 anos da era Pinochet foram marcados por uma redução drástica nos gastos sociais: as despesas com saúde e educação, por exemplo, caíram de 21,9% e 17,4%, respectivamente, para 7,3% e 5,6% do gasto público total.

A deterioração no padrão de vida de mais de 80% da população acabou ajudando a fomentar as numerosas mobilizações que puseram fim ao regime.

No Brasil, a série de dados construída por Pedro Souza, do Ipea e da UnB, mostrou que a desigualdade durante a ditadura não aumentou apenas em decorrência da maior demanda por trabalhadores qualificados na indústria durante o chamado milagre econômico de 1969-73: as isenções fiscais, o arrocho salarial e a repressão a sindicatos contribuíram para elevar a parcela da renda apropriada pelo 1% mais rico de 10% para 16% já nos primeiros anos do regime, entre 1965 e 1968.
Na dúvida, lembre-se de que o autoritarismo serve mais às elites do que ao conjunto da sociedade. 
(por Laura Carvalho)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

COMBATE PRINCIPAL NA ARENA STF: NESTE CÓRNER, O PODEROSO GILMAR! NO OUTRO CÓRNER, O DETONADOR BARROSO!

"O Brasil é o 96º colocado no índice de percepção de corrupção da Transparência Internacional. Eu acordo todos os dias envergonhado com esse número.

A despeito disso, menos de 1% dos presos do sistema está lá por corrupção ou por crime de colarinho branco. Tem alguma coisa errada nisso.

E ainda assim, no Supremo, você tem gabinete distribuindo senha para soltar corrupto. 

Sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos"
.
(Luis Roberto Barroso, ministro do STF, durante entrevista 
à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que
deverá provocar mais um barraco em sessão plenária)
Barroso venceu a luta anterior por pontos: foi mais agressivo.

CAPITALISMO FOI REVOLUCIONÁRIO COM RELAÇÃO AO FEUDALISMO, É RETRÓGRADO COM RELAÇÃO À EMANCIPAÇÃO HUMANA

dalton rosado
AS REVOLUÇÕES SOCIAIS, FORMAS E CONSEQUÊNCIAS

"A burguesia fez da dignidade humana um simples valor de troca; no lugar de inúmeras liberdades duramente conquistadas, colocou a liberdade do comércio
sem escrúpulo. Numa palavra, ela colocou no
lugar da exploração velada com ilusões
políticas e religiosas, a exploração
aberta, descarada, direta, seca"
(Marx e Engels)
As rupturas sistêmicas nunca são pacíficas, porque as ebulições a elas subjacentes são, em si, tempestuosas. Mas mesmo as que se operam pela via de mudanças aparentemente imperceptíveis, em longos períodos, implicam momentos traumáticos, representados pelas crise de saturação de um modelo social e a passagem a outro modelo.

As revoluções armadas, cirúrgicas, explicitamente violentas (guerras de movimento), principalmente, implicam necessariamente uma estrutura armada para fazer frente à contrarrevolução que inevitavelmente se forma (guerra de posição). Vide os exemplos históricos da revolução republicana francesa (1789), da Comuna de Paris (1871), das revoluções russa (1917), chinesa (1949) e cubana (1959), etc. 

A força militar das revoluções cirúrgicas são justamente a sua fraqueza, pois o aparentemente novo poder das armas não se desentranhou do velho. 

No caso das revoluções marxistas tradicionais, houve grandes rupturas políticas, mas apenas rupturas parciais no modo de produção, conservando-se critérios capitalistas de Estado, daí a consequente volta ao capitalismo de mercado sem nenhum tiro.
A verdadeira revolução é aquela que diz respeito à mudança na essência do modo de produção social, pois neste caso é gestada a partir de pressupostos irrevogáveis que se consolidarão mesmo que haja marchas e contramarchas no seu processo.

A revolução burguesa, p. ex., apesar de profundamente traumática (várias guerras localizadas e duas guerras mundiais nas quais morreram cerca de 60 a 70 milhões de pessoas num mundo bem menos habitado que hoje), terminou por se consolidar empiricamente modificando relações sociais feudais de produção que existiam há séculos; acarretou, consequentemente, profundas modificações na ordem jurídico-política e nas relações humanas.

No momento atual dá, contudo, sinais de sua obsolescência. Vivemos um momento de saturação de um modo de produção que se tornou anacrônico por seus próprios fundamentos e está ensejando um pensar fora da caixa que, cada vez mais, se coaduna com a realidade, por mais que tal prognóstico pareça estranho num primeiro momento. Os meus escritos tendem a demonstrar essa gestação do novo.    
Quanto à forma como se dará tal parto, não é uma receita de bolo, pois faremos o caminho ao caminhar, alicerçados numa teoria revolucionária que deve nos servir de bússola. Neste sentido, devemos subir nos ombros do Marx esotérico para vislumbrar novos horizontes.

Somos todos forçados diariamente a ganhar dinheiro; com isto alimentamos o capitalismo, queiramos ou não. Tal coerção tácita, segundo a qual você é livre para escolher a forma como vai servir ao capital (o Deus da modernidade!), implica mais uma camisa-de-força que nos impede de sair voluntariamente de suas amarras.

A correlação de forças da luta entre o domínio do capital e um novo pensar é altamente desigual em favor da primeira concepção, daí a dificuldade da sua superação. Tal superação será, certamente, ainda mais traumática do que foi a transição do feudalismo para o capitalismo. 

Mas, independentemente da nossa vontade, tal transição vem sendo imposta pelas próprias circunstâncias da falência de um modo de produção que está travando a satisfação das necessidades de consumo e, apesar de todos os instrumentos institucionais de controle (o voto é apenas um deles), a corrosão fermentada nos alicerces do capital escapa cada vez mais do controle dos agentes econômicos empresariais e políticos.
Sítio Brotando a Emancipação: produção não visando ao lucro

Entendo (apenas a título de sugestão, sem querer dar receitas comportamentais detalhadas) que o exército de desempregados e subempregados, cada dia mais volumoso e desesperado, possa ser aglutinado no sentido de uma produção de bens e serviços sem valor econômico crescente e que proporcione a satisfação de necessidades de consumo e viabilização da vida, contrapondo-se de modo tenaz aos prováveis impedimentos que a ordem burguesa procurará interpor.  

A própria conjuntura econômica deverá induzir a comportamentos sociais emancipatórios, porque é uma característica do ser humano o seu instinto de sobrevivência, que ora está ameaço sob várias formas graças à depressão capitalista.  

Sobre a possibilidade de uma postura sectária na crítica à democracia burguesa – A conquista do voto universal foi um pressuposto da democracia burguesa que, sem dúvida, representou um avanço com relação às formas políticas absolutistas anteriores. 

Entretanto, isso não significa que esse método se baste a si mesmo e ponha um fim indiscutível, imutável e definitivo à forma de organização social mundial. O capitalismo foi revolucionário com relação ao feudalismo; mas é retrógrado com relação à emancipação humana; e sua forma política se coaduna com o objeto segregacionista a que serve, devendo, justamente por isto, ser negada.

A democracia-burguesa apesar de representar uma evolução com relação ao pensamento escravocrata direto que vigorou até a Idade Média, está longe de representar uma forma política definitiva à qual se possa implementar, a partir de reformas procedimentais, uma adequação capaz de superar os males atuais representados pelo seu conteúdo.  

Não é uma questão de ajustes nas suas formas, mas de superação dos seus conteúdos. Os eventuais pontos fortes do processo eletivo democrático-burguês (como uma pretensa liberdade de escolha pelo voto igualitário de todos os cidadãos) representam uma dissimulação à falta de soberania de vontade da cidadão, que, a priori, está enquadrado numa camisa-de-força da qual ele dificilmente consegue sair, ainda que o segmento político seja alvo do escárnio popular.      

O processo eleitoral está circunscrito à dominação fetichista da forma-valor. Os eleitores, na sua grande maioria, antes de enxergarem o engodo eleitoral, vislumbram o seu interesse específico, que está sempre condicionado a uma vantagem pessoal direta ou indireta. 

Assim, há invariavelmente um interesse preponderante que impele a maioria dos cidadãos ao exercício do voto, até como forma de impedir um mal maior (caso do chamado voto útil, que, latu sensu, é sempre inútil).   
.
Sobre as dúvidas quanto à funcionalidade e consequências futuras de um novo modo de produção e organização social – Sou absolutamente contra o poder, que é sempre verticalizado. Neste sentido, podemos nos apoiar num aspecto do pensamento iluminista republicano burguês, que propôs a descentralização dos poderes (executivo, judiciário e legislativo) para que o capital pudesse submetê-los.   

Destarte, devemos descentralizar a organização social, mas não sob os pressupostos do capital, que é um poder abstrato ao qual os seres humanos se submetem, mas sob pressupostos de produção coletiva sem a intermediação da forma-valor (sistema de trocas de mercadorias) que possam destravar o atual impasse provocado pela impossibilidade de reprodução do lucro (única forma de manutenção da viabilidade monetária) nos níveis agora exigidos e por sua própria dinâmica existencial contraditória. 

Ao invés de propormos o impossível desenvolvimento econômico, como querem todos os candidatos mundo afora e quase todos os homines economici do Planeta, devemos superar a própria lógica econômica em seu momento de saturação irreversível. 

Esta proposição nem de longe se coaduna com a ideia de um soviete de burocratas, concepção ligada ao antigo socialismo real e somente concebível quando se pensa numa alternativa política sem superação das categorias capitalistas que se tornaram obsoletas no atual desenvolvimento tecnológico da produção.

O atual estágio da derrocada dos pressupostos burgueses causados por sua própria ilogia, está acarretando um retrocesso civilizacional que mais não é do que a perda de direitos antes possíveis para uma pequena parte da humanidade (os burgueses e pequenos burgueses), a qual, agora, deseja a manutenção de seus privilégios sob uma forma ditatorial, com ou sem a legitimação pelo voto (Bolsonaro, Trump, Erdogan, Maduro, Ortega, Putin, Abdul Fatah, etc.). 

Ser inocente ou ingênuo não é defeito moral ou condição decorrente de culpa pessoal, mas se trata de um fator estrutural contributivo para a manutenção da espoliação social. Acaso o povo soubesse o que está subjacente à exploração à qual é submetido (extração de mais-valia e cobrança de impostos para a manutenção de um Estado que o oprime) aceitaria a coerção tácita do capital? É evidente que não. 

A ignorância sempre foi um instrumento facilitador da imposição ditatorial; a queima de livros numa grande fogueira (como ocorreu na Alemanha nazista) é um exemplo histórico da percepção ditatorial sobre o poder da consciência, temida justamente porque o saber liberta. Aqui no Brasil já se prendeu, torturou e matou muita gente por ter e ler livros ditos subversivos.

A consciência é a única arma possível contra a submissão, pois o saber, antes de ser um bisturi social, é a régua e o compasso capaz de operar a liberdade e criar um modo de convivência social no qual os indivíduos sociais não sejam forçosamente adversários uns dos outros. como ocorre sob a lógica capitalista.

Por fim, foi o leitor Sadi Fernandes que, com seu comentário sobre este post, inspirou-me a dedicar um artigo inteiro ao aprofundamento  das questões por ele propostas. 

Agradeço-lhe por vir, com seus comentários sempre pertinentes, suscitando o debate escrito, o que considero uma forma excelente de discussão, graças à serenidade e força do significado que cada palavra dita e refletida contém, além de poder ser objeto de consulta e análise permanente e profunda. (por Dalton Rosado)
Related Posts with Thumbnails