sábado, 30 de junho de 2012

HÁ 10 ANOS O BRASIL MANDOU NO FUTEBOL PELA ÚLTIMA VEZ

A frustração por haver deixado escapar uma Copa tida como ganha em 1998 ainda se fazia sentir nas eliminatórias para o Mundial seguinte.

Em suas 18 partidas o Brasil foi dirigido por nada menos do que quatro técnicos: Luxemburgo, Candinho, Leão e Felipão. Acabou por garantir sua vaga apenas na última rodada, ficando 13 pontos atrás da Argentina e só três à frente do Uruguai (repescagem) e da Colômbia (desclassificada).

Luiz Felipe Scolari, técnico de conceitos rústicos e muita força de caráter, era malvisto pela cartolagem, pois não tinha perfil de títere.

Assombrados pelo fantasma da desclassificação, os dirigentes, entretanto, acabaram cedendo à pressão dos torcedores, para quem, depois do fracasso de Luxemburgo, Felipão se tornara unanimidade -- como consequência, principalmente, de seu ótimo currículo nos  mata-matas  da Copa Libertadores da América.

Não foi nada além de razoável (três vitórias e três derrotas), mas  segurou o rojão   num momento crítico, bem de acordo com sua imagem de homem forte.

De quebra indispôs-se com Romário, por suposta ou real má vontade do baixinho com o escrete. Afastou-o definitivamente, apesar do seu pedido de desculpas público e do lobby de cartolas & imprensa esportiva.

Situação paradoxal: queda de braço entre um técnico que era preferência nacional e um jogador, idem.

Para dar a volta por cima, Felipão fez uma jogada arriscadíssima, contrapondo um mito a outro mito: escolheu Ronaldo Fenômeno como seu artilheiro, embora este viesse em maré de fracassos, contusões graves e longos períodos de convalescença, desde a fatídica final contra a França em 1998.

Com seu carisma e extrema habilidade motivacional, aproveitou as críticas à Seleção para fechar o grupo em torno de si. Era a  Família Scolari   lutando contra tudo e contra todos.

E a sorte o bafejou: não só Ronaldo renasceu das cinzas na Copa da Coréia do Sul/Japão, como a Seleção teve a tarefa facilitada por enfrentar as  galinhas mortas  que pediu a Deus.

Treinou contra a China (4x0), Costa Rica (5x2) e desperdiçou duas vezes a oportunidade de golear a incipiente Turquia, vencendo-a apenas por 2x1 na 1ª fase e 1x0 na semifinal (gol de Ronaldo, em bela arrancada pela meia-esquerda).

Nas oitavas-de-final, a Bélgica chegou a dar algum trabalho a são Marcos (um dos destaques da campanha), mas Rivaldo e Ronaldo resolveram. 2x0.

O único adversário de verdade foi o das quartas-de-final: a Inglaterra de Beckham, Owen e Campbell, que sobrevivera ao   grupo da morte  na 1ª fase (vencendo a Argentina, empatando com Suécia e Nigéria) e vinha de golear a Dinamarca. Não havia favorito.

Uma rara falha de Lúcio propiciou gol a Owen, mas o personagem do jogo seria Ronaldinho Gaúcho:
  • carregando a bola do meio-de-campo até a entrada da área, serviu Rivaldo livre, para empatar;
  • cobrando falta da zona morta (na intermediária, junto à lateral), acertou chute primoroso, encobrindo o goleiro Seaman, que esperava um cruzamento; e
  • foi expulso logo em seguida por causa de uma solada, mas os dez restantes souberam segurar o 2x1.

Depois de fazer a lição de casa contra a Turquia, teve pela frente uma Alemanha que nem sequer cogitava chegar à final: seu objetivo era preparar o time para a Copa seguinte, que iria disputar em casa.

O jogo aconteceu em 30/06/2002 e terminou em vitória, com autoridade, do Brasil de Marcos; Cafu, Lúcio, Edmilson, Roque Jr. e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Kleberson e Ronaldinho Gaúcho (Juninho Paulista); Rivaldo e Ronaldo (Denilson).

Já criara mais chances no 1º tempo, quando Kleberson acertou o travessão e Oliver Kahn, o melhor goleiro do Mundial, andou fazendo defesas difíceis.

Decidiu no 2º. A tarefa foi facilitada por uma inusitada falha de Khan, que   bateu roupa  num chute forte mas defensável de Rivaldo, deixando Ronaldo à vontade para abrir o marcador.

A Alemanha teve de sair para o jogo e, em rápido contra-ataque pela direita, Kleberson cruzou, Rivaldo deixou passar e Ronaldo colocou no canto: 2x0.

Terminou a campanha com estatísticas invejáveis:
  • só vitórias, como em 1970 (quando um campeão jogava seis vezes, e não as atuais sete);
  • melhor ataque (18 gols);
  • artilheiro (Ronaldo, 8);
  • um dos vice-artilheiros (Rivaldo, 5, na companhia de Miroslav Klose, da Alemanha);
  • uma das melhores defesas (4 gols sofridos, atrás apenas da Alemanha, 3); e
  • melhor saldo de gols (14) de um campeão nos 19 Mundiais até hoje disputados.
Sem ser um esquadrão dos sonhos, como os de 1958, 1970 e 1982, soube fazer valer a experiência e a qualidade técnica do seu elenco.

E, como dizia Napoleão Bonaparte, a sorte é fundamental, seja para oficiais numa guerra ou para técnicos num Mundial.

Felipão gastou toda que tinha -- daí sua estrela nunca mais haver brilhado com a mesma intensidade.


QUEM APÓIA OS GOLPISTAS PARAGUAIOS? OS TUCANOS, CLARO!

O grande truque do diabo é fingir que não existe.

Então, direitistas colocaram em circulação teses como a de que não existem mais direita e esquerda, de que a História acabou a partir da globalização capitalista e outras sandices convenientes para eles.

Há muitos papagaios que, embora não sendo de direita, repetem essas bobagens para se fazerem de diferentes.

São os  tolos blasés, parentes daqueles  tolos pomposos  que acreditaram ser capazes de barrar as cotas universitárias apenas e tão-somente afixando suas assinaturas de grandes pavões num papelucho inspirado por Ali Kamel...

Pelo contrário, a divisão entre direita e esquerda está mais nítida do que nunca.

P. ex., na seção Tendências/Debates da Folha de S. Paulo, quem, tresandando a enxofre, vem defender o golpe paraguaio, afirmando que não existiu golpe? Um tucano, claro. O senador Alvaro Dias (PR).

Cujo papelucho (outro!) tem um trecho pra lá de suspeito:
"O meu entendimento, com a chancela do PSDB, de apoio e respeito ao novo governo se ampliou em uma recente visita ao meu gabinete de uma comitiva de parlamentares paraguaios".
Quem está familiarizado com os bastidores políticos --eu tenho, por haver trabalhado na Coordenadoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes, sendo obrigado a tampar o nariz a cada momento-- sabe que golpistas caçando apoios sempre chegam com algo sonante na bagagem, além do papo furado.

Por coincidência, o Jornal do Brasil traz, também neste sábado, mais um tiro na mosca do veterano analista político Mauro Santayana, que é de esquerda, não nega, e combate a direita que, diabolicamente, finge não o ser:
"O novo governo paraguaio pode ficar tranquilo: o senador Álvaro Dias garantiu ao presidente Franco o apoio incondicional do PSDB à nova ordem estabelecida em Assunção. Com essa solidariedade, o chefe de governo do país vizinho está apto a reverter a situação de repúdio continental, vencer a parada no Mercosul e roncar grosso — como, aliás, está começando a fazer — contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai.

O problema todo é que o bravíssimo senador Álvaro Dias, companheiro de dueto, até há poucas semanas, do senador Demóstenes Torres nas objurgatórias morais contra o governo, não combinou esse apoio com o povo paraguaio, que irá às urnas em abril e, provavelmente, nelas dirá o que pensa da 'parlamentada' de Assunção. E, mais ainda: não será ouvido nos foros internacionais que estão tratando do tema. Nesses centros de decisão, quem estará decidindo serão os chefes de Estado e os chanceleres dos países do continente. Por enquanto, estando na oposição, os tucanos não podem falar em nome do Brasil".
De resto, quem na Folha propõe, em contraposição a Álvaro Dias, tolerância zero com golpes, é de esquerda e tem orgulho de ser da esquerda: o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL-AP.

Este não nega o óbvio ululante:
"A deposição, por parte do parlamento do Paraguai, do presidente Fernando Lugo é um grave atentado à democracia.

O julgamento realizado pelo Congresso Nacional paraguaio, liderado pelos partidos conservadores daquele país, teve como objetivo desestabilizar a democracia e recuperar os privilégios das elites paraguaias, impedindo a conclusão do mandato do presidente poucos meses antes das eleições.

Isso explica o rito sumário que sequer assegurou condições mínimas de defesa ao presidente acusado.

...não podemos ficar passivos, já que qualquer tentativa de diminuir o significado do golpe de Estado no país vizinho incidirá, num futuro próximo, na democracia do resto da América Latina.

Assim, o Brasil deve responder com firmeza, repudiando taxativamente a deposição do presidente paraguaio Fernando Lugo".
O diabo terá de ocultar melhor os chifres e o rabo, se quiser tornar-se crível.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

GRANDE CAMPEÃO ENSAIA UM MAGNÍFICO CANTO DO CISNE

Se alguns leitores deste blogue ficam escandalizados quando eu escrevo sobre o futebol, por eles tido como o  ópio do povo,  o que dirão ao encontrarem aqui algumas mal traçadas linhas sobre o  elitista  tênis?

Mas, nunca nego ou escondo minhas devoções e predileções. Jamais submeterei meus temas a triagens ideológicas,  submetendo-me a modismos e patrulhamentos.

Os pernósticos cricris que passam a vida procurando pêlo em ovo podem produzir verdadeiros tratados sobre a existência de implicações racistas na obra de Monteiro Lobato, que eu continuarei rindo na cara deles. 

Sou fiel ao primeiro autor a me estimular o espírito crítico, que fez uma obra grandiosa e,  last but not least, confrontou corajosamente os poderosos do seu tempo; não aos aprendizes de inquisidores que pensam ser de esquerda ao tentarem nos impor index.

Hoje é um dia em que não encontrei nada que me inspirasse em termos de  assuntos sérios. Gostaria de acreditar que ainda é possível fazer algo contra o golpe paraguaio, como os companheiros que articulam reuniões públicas, protestos e corrente virtuais, mas sei que o  impeachment-relâmpago  é fato consumado, só nos restando tomar precauções contra as viradas de mesa vindouras. Depois de Honduras não o fizemos e fomos surpreendidos pela segunda vez. Quantas mais?!

Enfim, apeteceu-me enfocar o tênis, apenas e tão somente porque Roger Federer tem no torneio de Wimbledon uma chance única, imperdível, de fechar sua trajetória com um canto do cisne magnífico.
* * *
Afora o futebol, único esporte coletivo que sempre me atraiu (a outros, como o vôlei e o basquete, eu só assisto nos grandes momentos), acompanhei com atenção o boxe e o xadrez, no passado; e até hoje me ligo no automobilismo e no tênis.

Refletindo um pouco sobre essas paixões, percebi que os quatro têm em comum colocarem o indivíduo diante de desafios extremos, andando no fio da navalha. São esportes em que só é grande quem alia uma vontade sobre-humana a um autocontrole inacessível aos comuns mortais.

No boxe, todos lembram a técnica refinadíssima de um Muhammad Ali, mas ele era muito mais do que isso. Tinha dons de grande estrategista, era como se combinasse os papéis de pugilista e de técnico.

Foi assim que ele venceu o invencível George Foreman, na maior luta de todos os tempos. Boxeou francamente contra ele no primeiro assalto e percebeu que jamais conseguiria a vitória lutando de igual para igual. A força descomunal do lutador mais jovem prevaleceria.

Então, adotou a postura que qualquer pugilista comum consideraria suicida diante da enorme potência dos golpes de Foreman: deixou-se ficar encostado nas cordas, recebendo o bombardeio e aparando-o com sua guarda.

Alguns obuses atingiam o alvo de raspão, outros se chocavam com os braços de Ali. Nenhum o abalou de verdade. E Foreman, acostumado a nocautes rápidos, foi se cansando.

No quinto assalto, o Ali aparentemente apático, que só se defendia, mostrou que era, isto sim, um tigre se preparando para dar o bote: com um contra-ataque fulminante, quase nocauteou Foreman.

Depois de mais dois rounds letárgicos, foi o que acabou acontecendo. Ali novamente surpreendeu Foreman e, com uma sequência de golpes cuja rapidez era inimaginável àquela altura de uma luta tão exaustiva, metralhou a cabeça de Foreman até fazer o gigante desabar em câmara lenta no ringue.

A coragem que deu a vitória a Ali nessa luta foi a mesma que o manteve no ringue até o fim de uma luta na qual teve seu maxilar fraturado no 2º round, contra Ken Norton.

O castigo que recebeu de Foreman foi tão terrível que, depois da vitória consumada, ele teve até um breve desmaio (que poucos perceberam) durante as comemorações. Até então, entretanto, a adrenalina o mativera em pé.

No xadrez também a pressão moral que um campeão suporta é devastadora, tendo de refletir sobre infinitas combinações enquanto o relógio o acossa.

É simplesmente inacreditável que o jovem desafiante Garry Kasparov tenha aguentado umas 20 partidas contra o campeão Anapoly Karpov, com 5x1 contra e dependendo só de uma derrota mais para perder o match, sem cometer falha nenhuma.

Forçou empate após empate, até que foi o veterano quem desabou: perdeu duas vezes seguidas e perderia as três restantes, se o match não tivesse sido anulado por "desumanidade" das regras (exigiam seis vitórias, pouco importando quantas partidas fossem necessárias para um deles alcançar tal total).

O socorro suspeito do presidente filipino da Federação Internacional de Xadrez não mudou o que já se decidira no tabuleiro. A coroa pertencia a Kasparov, que cumprira seu rito de passagem durante aquele torneio e dele saíra como homem e esportista superior: fulminou Karpov quando o match, zerado, foi disputado de novo.

No automobilismo, Schumacher não conquistou sete Mundiais de Fórmula 1 por acaso. Conseguiu aliar o senso estratégico de um Prost com o arrojo de um Senna (só o utilizando, entretanto, quando estritamente necessário, não se vexando em vencer corridas só na estratégia de troca de pneus, nas vezes em que isto bastava).

E Federer? Além de ser o mais completo tenista da História, "bom" ou "ótimo" em todos os fundamentos, ele já foi capaz de reerguer-se uma vez depois que derrubado do pedestal por Rafael Nadal e ameaça repetir o feito agora.

Acostumado ao predomínio absoluto, a emergência de um verdadeiro rival o desconcertou durante alguns meses, no segundo semestre de 2008.

Mas, nas férias de fim de ano, conseguiu colocar a cabeça em ordem; e encontrou ânimo para dar a volta por cima, vencendo o desafio de retomar sua coroa.

Para sua surpresa, acabou sendo bem mais fácil do que tudo levava a crer: na verdade, Nadal forçara a natureza para derrotar o titã. Exigira mais do seu corpo do que ele era capaz. Só assim, com muita transpiração, conseguira sobrepujar a inspiração de Federer.

O preço acabou sendo alto: depois de uma temporada consagradora, foi fulminado por uma contusão no joelho.

E Federer, que sempre mantivera o sacrifício exigido de seus músculos no limite do razoável, voltou ao topo por uns tempos.

Os jovens contra-atacaram: não só Nadal o desalojou de novo, como Novak Djokovic veio numa arrancada fulminante e superou a ambos. Federer chegou até mesmo a ceder a terceira posição no ranking, esporadicamente, a Andy Murray.

Não ganha um torneio de grand slam (os quatro principais do tênis: Wimbledon, Rolland Garros, Aberto da Austrália, US Open) desde o início de 2010.

Rico, respeitado e aclamado, feliz no casamento, de bem com a vida, pai coruja de duas gêmeas, tudo levava a crer que se curvaria à evidência dos fatos, pendurando a raquete como o maior de todos os tempos.

Mas, perseverou. E não como coadjuvante, o papel que Schumacher vem desempenhando estoicamente desde sua volta às pistas. Reciclou seu jogo, aperfeiçoou alguns golpes, melhorou as estratégias.

Foi buscar novas armas, já que as antigas tinham sido alcançadas pelos rivais. Seu saque, p. ex., agora é muito mais poderoso, abrindo caminho para vitórias rápidas contra os adversários mais fracos --dada a importância, no caso de um veterano, de guardar energias para enfrentar os mais fortes.

Então, desde o semestre passado, ele vem pouco a pouco se reaproximando do topo, armando o bote. E, agora, pode conseguir este feito que parecia impossível para um tenista  com mais de 30  (vai completar 31 anos em agosto), dependendo de sua colocação e da de Djokovic no torneio de Wimbledon, em curso; se for campeão, p. ex., ele voltará ao topo do ranking, além de igualar o recorde de mais semanas de permanência como o nº 1.

* * *

Como todo ser humano, admiro quem me inspira. Várias vezes meu autocontrole foi testado no limite extremo e, levando em conta a diferente magnitude dos desafios enfrentados, creio não ter ficado tão atrás de Schumacher, Kasparov e Federer. Também já ganhei partidas que pareciam totalmente perdidas, nas batalhas da vida.

E tenho, confesso, uma satisfação um tanto egoísta em presenciar os feitos dos maiores de todos os tempos. Pois, é sempre frustrante termos de ouvir falarem maravilhas sobre grandes nomes do passado, como se nada acontecesse de relevante no presente que vivemos.

Não questiono nem duvido que Leônidas da Silva, Fangio, Joe Louis e Capablanca tenham sido esportistas grandiosos.

Mas, em vez de ficar venerando quem nem sequer conheci, aprecio mais ter visto Pelé, Schumacher e Muhammad Ali superarem nitidamente os três primeiros; e saber que Kasparov, no mínimo, merece figurar ao lado do quarto, no panteão dos deuses do esporte.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A PROVOCAÇÃO DA ANSA E A SEDE DE VINGANÇA DA PLUTROCRACIA PENINSULAR

Por Carlos Lungarzo (*)

O Instituto Italiano di Cultura de São Paulo está apresentando uma amostra fotográfica chamada Fotografandoci, que reúne umas 250 fotos da Agência Ansa, escolhidas entre vários milhões (segundo disseram os curadores), com o objetivo de refletir os últimos 60 anos da vida da Italia.

Observada friamente, a iniciativa é como tantas outras que organizam institutos binacionais, agências de notícias e outros órgãos de propaganda cultural, para fazer publicidade de seu país de origem, apresentando materiais audivisuais, livros, pinturas, etc., que sejam de interesse dos cidadãos do país hospedeiro.

É uma parte habitual da diplomacia agradar a pessoas de sua diáspora e ao mesmo tempo, interessar os nacionais (neste caso, os brasileiros) com coisas "lindas" de sua terra (neste caso, a Itália).

Um fato interessante é que o parlamentar Fabio Porta, que representa os ítalo-latino-americanos, aprovou a escolhas das fotos porque disse que "mostram as coisas boas e as ruins".


Isso parece muito razoável. Chama-se: objetividade, imparcialidade, neutralidade... e têm alguns outros nomes nobres.

O problema é, entretanto, a que o parlamentar chama "bom" e "ruim". Se ambas as coisas são apresentadas como a mesma ênfase, deveria ser o público que coloque o rótulo moral à cada foto. Se não, perde-se a neutralidade.

Neste sentido, chama a atenção a ênfase que se coloca em fotos que mostram atos de protesto, críticas e outras exibições de barbárie, em relação com o caso Battisti.

Nessas fotos, há várias formas de agressão contra o estado brasileiro, dos quais, se supoe, os apresentadores estão recebendo hospitalidade.

Por exemplo, a micropasseata que protesta junto à embaixada brasileira em Roma, com um bando de facínoras reclamando contra o direito do Brasil de recusar a extradição de Battisti, deveria estar compensada por outras fotos que sem dúvida, a Ansa possui entre aqueles milhões que menciona.

Uma sugestão para a próxima: poderiam colocarar a foto de dois italianos que se confrontam com aquela ralé fanática e lhes dizem: "Vocês acham que o Brasil é uma colonia nossa? Estão enganados, é um país soberano como o nosso".

Goleiros abraçados no Mundial 1994: esta
foto, sim, está no espírito da mostra!
Claro que esta afirmação se escuta no filme e não na foto, mas, a mesma imagem fixa dos dois italianos questionadores seria interessante.

Aliás, em várias partes do país houve passeatas, bem maiores, em favor de Battisti. Exemplificando as "coisas ruins" que sem dúvida o digno parlamentar  não deve gostar, poderiam ter colocado uma delas (a que tivesse menos pessoas, por exemplo), nem que fosse para simular imparcialidade.


Tampouco as fotos das "vítimas" parecem tão importantes, a ponto de serem incluídas num conjunto de apenas 250 fotos.

Se a mostra é tão pequena, seria bom não desperdiçar espaço com um assunto já encerrado. Talvez o curador pudesse ter escolhido fotos mais expressivas, como o corpo do adolescente Fredrerico Androvandi, barbarmente torturado pela polícia italiana, o massacre de Gênova durante a reunião dos G20, ou as barracas de ciganos, africanos e muçulmanos incendiadas por vândalos apoiados pela polícia e o exército italianos.


Por que não, signori, uma foto do parlamentar de Lega Nord, Mario Borghezio? Ele não é bonito, mas parece muito inteligente. Após o atentado de Breivik em Oslo ele disse que as idéias do matador massivo eram ótimas, e era uma resposta a provocação gerada pela mistura racial.

Transcorrido um ano e 20 dias desde o DEFINITIVO ENCERRAMENTO DO CASO BATTISTI, as provocações parecem coisas ingênuas, como de quem não quer aceitar a derrota. Também, podem ser maneiras de propaganda mais sutil, para tentarem manter vivo o ódio e o rancor das máfias peninsulares.

Por sinal, todas as línguas têm uma palavra própria para "vingança" (revenge, venganza, etc.), mas em quase todas elas se utiliza a palavra italiana VENDETTA. Por que será?

Se a sede de vingança da plutocracia peninsular e seus alcoviteiros não sossega nem durante os atos culturais, pode ser necessário sugerir que não devem iludir-se. Provocações podem ser ignoradas, ou comentadas como neste caso. Agressões reais (caso sejam cogitadas) podem produzir desfechos desagradáveis para todos.

* professor titular da Universidade Estadual de Campinas

A NOITE DE CINDERELA DE UM JOVEM CHAMADO ROMARINHO

Já houve quem me mandasse comentários ranzinzas sobre meus posts futebolísticos, na linha de que eu estaria contribuindo para a alienação dos brasileiros ao escrever sobre o  ópio do povo.

Refletindo da forma mais isenta possível, não consegui atinar com nenhum pecado capital no futebol. Sim, ele está bem desvirtuado sob o capitalismo... mas o que não está?

Livros, filmes, peças teatrais, música, até o sexo, tudo vira mercadoria numa sociedade em que a prioridade suprema é o lucro. Vamos prescindir da arte, do pensamento, do amor? Ou nos cabe despertarmos a humanidade do pesadelo capitalista, para que possam ser fruídos de maneira bem diferente?

O certo é que os esportes continuam nos proporcionando momentos de rara beleza, de extrema dramaticidade, como a noite de Cinderela de um jovem chamado Romarinho.

Tem 21 anos e veio do decadente Bragantino para o poderoso Corinthians, bem recomendado mas... quantas revelações interioranas não haviam fracassado antes na hora de atravessarem o Rubicão?!

Foi escalado no final de algumas partidas que o  Timão  disputou com os reservas, poupando os titulares para o objetivo máximo de vencer a Copa Libertadores da América. Não brilhou.

Domingo passado, contudo, começou jogando. Corinthians "B" contra Palmeiras "A" --parada indigesta. E, simplesmente,  arrebentou, marcando os dois golaços que deram a vitória ao alvinegro e fizeram do alviverde motivo para as piores zombarias ("da próxima vez escalaremos os  fraldinhas"...)!


Ainda assim, o cauteloso técnico Tite não fez dele titular na primeira partida da final da Libertadores, contra o Boca Juniors, no temido  caldeirão  de La Bombonera. Mas, pelo sim, pelo não, resolveu levá-lo para a Argentina, cortando da delegação um jogador bem mais experiente (Willian) para abrir-lhe uma vaga.

Quando o  formiguinha  Jorge Henrique se contundiu ainda no primeiro tempo, contudo, Tite não ousou colocar Romarinho em campo. Decerto temeu que, inexperiente e imaturo, ele  tremesse  em jogo de tamanha responsabilidade.

Preferiu o veterano Liedson, sem fôlego para cumprir adequadamente o duplo papel de atacar e ajudar na marcação; a equipe não só continuou sendo pouco contundente na frente,  como se tornou bem mais vulnerável atrás. O gol adversário acabou saindo, depois de muita pressão.

Faltando dez míseros minutos, o técnico finalmente deu uma chance a Romarinho.

Na primeira bola que recebeu, o iluminado garantiu um empate providencial, quase  milagroso  (como disse o Juca Kfouri): com muita frieza, percebeu o goleiro argentino fechando o espaço por baixo e deu um leve toque por cima, salvando a pátria corinthiana.

Com inegável talento e muita estrela, virou o novo  xodó da Fiel, ídolo instantâneo. 

Como reagirá ao estrelato? Terá um convívio com a fama tão complicado como o de Neymar, cuja excelência está sendo minada pela baladação? Ou vai ser humilde e decisivo como o Messi? Deu-se conta de que, depois de ontem, pode sonhar até mesmo com a camisa  canarinho  em 2014? 

O futebol é apaixonante.

A AGÊNCIA ANSA OFENDE O BRASIL E MERECE NOSSO MAIS VEEMENTE REPÚDIO!

Como se não bastasse a extrema tendenciosidade com que a agência noticiosa italiana Ansa cobriu o Caso Battisti, ela agora insulta o Brasil e os brasileiros tripudiando sobre uma decisão soberana de nossos Poderes, em sua mostra "Fotografandoci", que está exposta no piso térreo do Conjunto Nacional (SP). A remoção desse lixo só ocorrerá depois do dia 7. 

Há um painel dedicado a Battisti, cuja inclusão tem uma única explicação plausível: trata-se de um exercício de  jus sperniandi  por parte de quem sofreu uma acachapante derrota e até agora não a digeriu. 

Constitui uma agressão gratuita àqueles que a Ansa presumivelmente estaria tentando cativar. Ficou totalmente fora de contexto. Não faz sentido nenhum. E merece nosso mais veemente repúdio.

Traz fotos daquelas virulentas manifestações contra o Brasil na Itália, com destaque para um questionamento ao ex-presidente Lula (acusam-no de haver matado pela segunda vez aquelas pessoas cujas mortes os inquisidores italianos atiraram fraudulentamente nas costas do Cesare) e até a figura repulsiva da vítima profissional Alberto Torregiani.

Trata-se de um fulano que ficou paraplégico após ser atingido acidentalmente por um disparo do próprio pai, chegou a admitir à imprensa italiana que Battisti não participara do atentado em questão mas, quando o assunto entrou na crista da onda, correu a pegar carona, fazendo declarações tão tolas quanto bombásticas.

Afinal, quem tem um livro choramingas para promover e está tentando fazer carreira política num movimento neofascista não pode desperdiçar uma chance dessas...

Exorto todos os companheiros a enviarem mensagens para ansa@ansa.com.br, exigindo a retirada imediata das fotos ofensivas ao Brasil e expressando seu inconformismo com mais esta manifestação de desrespeito a nosso país.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O PRESIDENTE DA CBF FOI "SERVIL SERVIÇAL DA DITADURA"

Foi este o dedo que ele apontou para o Vlado?
Juca Kfouri foi aliado da ALN nos anos de chumbo, prestando alguns serviços ao inesquecível Joaquim Câmara Ferreira, o  Toledo.

Disse que, quando começou a haver incompatibilidade com a carreira que ele iniciava, o próprio  Toledo  o aconselhou a ficar fora da luta armada e seguir adiante no jornalismo.

Mas, como homem digno que é, continua fiel aos valores da resistência à ditadura. Daí, p. ex., estar esmiuçando o passado repulsivo de José Maria Marin, o presidente da CBF, em sucessivos posts do seu blogue.

Começou revelando que a presidente Dilma Rousseff se recusa a receber Marin por este haver sido "servil serviçal da ditadura".

Depois, publicou a nota do presidente da OAB do Rio de Janeiro, Wadih Damous, afirmando, entre outras coisas, que:
"O futebol brasileiro é campeão graças ao talento de seus atletas e do que eles fazem dentro do campo.
Maluf e Marin, dois 'filhotes da ditadura'
Fora dele, é um verdadeiro desastre já que boa parte de seus mandatários é composta por carreiristas, negocistas e, agora, até por  dedos duros".
 Finalmente, reproduziu atas antigas da Assembléia Legislativa de SP, nas quais se leem duas intervenções do então deputado Marin, pertencente ao partido governista (a Arena).

Numa Marin endossa as denúncias que o jornalista Cláudio Marques, "de forma particular e corajosa", fazia contra o Depto. de Jornalismo da TV Cultura: "não se vê nada de positivo, apenas apresenta misérias, apresenta problemas, mas não apresenta soluções". E critica a omissão do secretário da Cultura e do governador do Estado.

Quem conhece a história sabe que Vladimir Herzog não morreu por causa da campanha imunda de Marques, secundado por Marin. Sua prisão foi uma provocação dos torturadores do DOI-Codi, ansiosos por calar os que defendiam a demontagem, por obsoleto, do aparato de terrorismo de estado; e sua morte, um  acidente de trabalho, pois não existe ser humano totalmente imune de sofrer um enfarte quando torturado.  

Mas, a forma como Marques e Marin se dispuseram alegremente a colaborar para a desgraça de brasileiros valorosos os faz merecedor do mais aboluto desprezo.

E, ao furtar recentemente a medalha de um campeão da Copa São Paulo de Juniores, Marin mostrou que seu caráter continua o mesmíssimo de 1976.

Pior ainda é o outro discurso de Marin, expressando seus "melhores cumprimentos a um homem que, de há muito, vem prestando relevantes serviços à sociedade, embora nem sempre tenha sido feita justiça a seu trabalho".

O alvo da homenagem era o delegado Sérgio Paranhos Fleury!

Ou seja, Marin rasgou seda para aquele cocainômano que começou como chefão de grupo de extermínio, depois teve passagem das mais bestiais pelo Deops e acabou abandonado pelos militares, que deixaram de protegê-lo quando o bravo promotor Hélio Bicudo provou que, no tempo do Esquadrão da Morte, Fleury estava a soldo do bicheiro Ivo Noal, contraventor que servia-se dos policiais para eliminar a  concorrência

Finalmente, Fleury chantageou empresários financiadores da repressão e foi assassinado pela  comunidade de informações, como acaba de confirmar o ex-delegado Cláudio Guerra.

Já para Marin, Fleury seria "exemplar pai de família", "homem cumpridor dos seus deveres" e possuidor de "uma vocação das mais raras, das mais elogiáveis, que é o cumprimento do seu dever como policial".

Se vivesse na Valáquia de outrora, Marin certamente faria elogios semelhantes a Vlad Dracul, o empalador...

BRILHANTE USTRA É CONDENADO COMO ASSASSINO

A Justiça Civil de São Paulo decidiu que o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra é culpado da morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino no DOI-Codi paulista. Ele terá de pagar R$ 50 mil a Regina Maria Merlino Dias de Almeida (irmã da vítima) e outros R$ 50 mil a Ângela Maria Mendes de Almeida (sua companheira na época).

Ustra comandou tal órgão repressivo da ditadura militar entre outubro de 1969 e dezembro de 1973, período em que por ele passaram cerca de 2 mil pessoas, das quais 502 denunciaram torturas e pelo menos 40 foram assassinadas.

Já no total dos seus seis anos de operações, o DOI-Codi/SP prendeu (pelo menos) 2.355 opositores do regime militar e assassinou (no mínimo) 47 deles, inclusive o jornalista Vladimir Herzog. Como não há certeza de que todos os casos tenham sido documentados, os números reais podem ser maiores.

Militante do Partido Operário Comunista, Merlino foi preso na casa da mãe, em Santos, dia 15 de julho de 1971. Eis como seu martírio é descrito no Dossiê de Mortos e Desaparecidos Políticos do Centro de Documentação Eremias Delizoicov
"Luiz Eduardo foi torturado durante cerca de 24 horas seguidas e abandonado numa cela solitária. Apesar de queixar-se de fortes dores nas pernas, fruto da permanência no 'pau de arara', ele não teve nenhum tratamento médico. Apenas massagens, acompanhadas de comentários grosseiros por parte de um enfermeiro de plantão que, em tom de brincadeira, falou ao chefe da equipe: 'Capitão, o Merlino está reclamando de dores nas pernas e que não pode fazer pipi. Vai ver que andou demais durante a noite'; e puseram-se a rir os dois torturadores. Essa cena foi presenciada por vários presos políticos que se encontravam no DOI-Codi.
As dores nas pernas que Merlino (foto ao lado) sentia eram, na verdade, uma complicação circulatória decorrente das torturas. No dia 17 foi retirado da solitária e colocado sobre uma mesa, no pátio em frente às celas. Nessa ocasião diversos companheiros puderam ver o seu estado e alguns falaram brevemente com ele. Ele queixava-se então de dormência de suas pernas que não mais lhe obedeciam, fruto de gangrena generalizada. Horas mais tarde, como seu estado piorasse, ele foi removido para o Hospital Geral do Exército, onde veio a morrer.
A reconstituição destes fatos foi feita a partir de relatos de companheiros de prisão de Merlino, como Guido Rocha, de Minas Gerais, que esteve todo o tempo na solitária com ele. As declarações de presos políticos, como as de Eleonora Menicucci de Oliveira Soares [atual secretária eepecial de Políticas para as Mulheres], Ricardo Prata Soares e Lauriberto Junqueira Filho, feitas em auditorias militares, à época, confirmaram as torturas sofridas por ele no DOI-Codi. Zilá Prestes Prá Baldi declarou que o viu depois de morto com o corpo cheio de equimoses".
Em 19 de julho a família recebeu a notícia de que ele tinha se suicidado. O corpo, entretanto, não era entregue à família que, de tanto procurar, acabou localizando-o no IML de São Paulo, com marcas de tortura, numa gaveta sem nome.

ERA USTRA QUEM "CALIBRAVA INTENSIDADE E
DURAÇÃO DOS GOLPES" DURANTE AS TORTURAS

A família de Merlino, revoltada com a impunidade criminal dos torturadores, queria, pelo menos, uma declaração judicial da culpabilidade --gritante e indiscutível-- de Ustra. Quando uma primeira ação neste sentido foi arquivada como litigância sem propósito, viu-se obrigada a voltar à carga com uma ação por danos morais e a fixar um valor para ela.
 
Esclarece, contudo, que não seu intuito original não era obter indenização, pois "nenhum dinheiro poderá, nunca, repor a vida de um jovem brilhante que via o seu futuro ligado à redenção da miséria do povo brasileiro".

Eis um trecho marcante da exemplar sentença da juiza Cláudia de Lima Menge:
"Evidentes os excessos cometidos pelo requerido, diante dos depoimentos no sentido de que, na maior parte das vezes, o requerido [Ustra] participava das sessões de tortura e, inclusive, dirigia e calibrava intensidade e duração dos golpes e as várias opções de instrumentos utilizados. Mesmo que assim não fosse, na qualidade de comandante daquela unidade militar, não é minimamente crível que o requerido não conhecesse a dinâmica do trabalho e a brutalidade do tratamento dispensado aos presos políticos. É o quanto basta para reconhecer a culpa do requerido pelos sofrimentos infligidos a Luiz Eduardo e pela morte dele que se seguiu".
Meus parabéns ao Coletivo Merlino por esta importante vitória moral, conquistada com muito esforço, discernimento e espírito de justiça!

terça-feira, 26 de junho de 2012

DÁ VONTADE DE VOMITAR!

"Quem mudou? O Lula assumiu em 2003 sob a desconfiança de que era um Fidel Castro brasileiro. (...) Mas, da maneira que exerceu a Presidência, diria que ele está à minha direita. Eu, perto do Lula, sou comunista.

Eu não teria tanta vontade de defender os bancos e as multinacionais como ele defende. Quando ele tira imposto dos carros, tira da Volkswagen, da Ford, da Mercedes. Quando defende sistema bancário, defende quem? Os banqueiros.

Eu, Paulo Maluf, industrial, estou à esquerda do Lula. De modo que ele foi uma grata revelação do livre mercado, da livre iniciativa." (Paulo Maluf, em entrevista à Folha de S. Paulo desta 3ª feira, 26)

COMPANHEIROS DO PCdoB: DEIXEM O CINTURÃO NO LIXO!

Recentemente citei num post aquele episódio de 1992, quando o pugilista Riddick Bowe, diante da imprensa, jogou seu cinturão no lixo, por discordar da determinação do Conselho Mundial de Boxe, que o intimara a colocar em jogo o título de campeão dos peso-pesados contra Lennox Lewis.

Na época, como era de se esperar, as más línguas disseram que Lewis tinha catado o cinturão no lixo para botar na cintura...

Então, o respeito que tenho pelo glorioso PCdoB e sua combativa militância me leva a fazer-lhes um sentido apelo: companheiros, deixem a posição de vice do Fernando Haddad lá na lixeira em que Luíza Erundina a atirou!

Ou vocês correrão o risco de ler na imprensa declarações como estas do Maluf, com, digamos, o Aldo Rebelo no lugar do Lula:
"Casamento tem que ser na igreja, entrando pela porta da frente, abençoado pelo padre. Veja bem, meu querido, se estavam lá duas dezenas de fotógrafos, não tinha razão nenhuma para não tirarmos foto na saída dele de casa. Seria muito pior esconder a foto. Se ele for de novo, eu tiro dez vezes".
E eu ficaria muito triste ouvindo a simpaticíssima Leci Brandão, patrimônio da nossa música popular, cantar o samba que o Netinho se recusou a interpretar.

P.S.: a Folha de S. Paulo desta 3ª feira aponta Nádia Campeão  como a provável representante do PCdoB na chapa malufada. Embora não conheça pessoalmente a Leci Brandão, pelo seu jeitão e por tudo que ouvi a respeito dela  acredito que seja pessoa digna, daquelas que não remexem lixeiras. Deve ter entrado na lista dos que recusaram a proposta indecente.

A FACADABRANDA NÃO ATINGIRÁ OS ASSINANTES DO UOL

Com relação ao post Jornal da ditabranda dá uma facadabranda nos internautas (ver aqui), cumpre esclarecer que os assinantes do UOL continuaram tendo acesso sem restrições ao noticiário da Folha de S. Paulo

Os e-mails trocados --vide abaixo-- elucidam a questão: no site ficou faltando uma informação que saiu na edição impressa. O jornalista Carlos Brickmann, colaborador (como eu)  do Observatório da Imprensa, foi quem me deu a dica.

Mas, claro, continuo discordando da cobrança em todas e quaisquer circunstâncias. A internet veio democratizar o acesso à informação e os jornalões, tanto quanto as gravadoras e as empresas cinematográficas, têm de aprender a conviver com isto. Não vão conseguir colocar o gênio de volta na garrafa, por mais Megauploads que fechem.

Eis as mensagens:

Caro Celso,

pelo que foi explicado, o acesso do assinante UOL à Folha não muda nada, é igual.

Atenciosamente,

Suzana Singer
Ombudsman - Folha de S.Paulo


PREZADA SUZANA,

O CARLOS BRICKMAN TEVE A BONDADE DE ME ESCLARECER QUE ISTO FOI EXPLICADO... NA EDIÇÃO IMPRESSA. TERIA SIDO UMA RETRANCA NÃO INCLUÍDA NA EDIÇÃO DIGITAL. REPARE QUE NADA CONSTA AQUI: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsman/50571-nos-nao-vamos-pagar-nada.shtml

NO COMECINHO DO UOL, O GRANDE ATRATIVO PARA CONQUISTAR ASSINANTES ERA O ACESSO GRATUITO À "FOLHA" E À "VEJA". COMO A "VEJA" AGORA SÓ LIBERA CADA EDIÇÃO QUANDO A SEGUINTE VAI ENTRAR EM BANCA, FAZIA SENTIDO EU TEMER QUE O COMPROMISSO FOSSE DESCUMPRIDO TAMBÉM NO CASO DA "FOLHA".

ENFIM, MENOS MAL. E AGRADEÇO SUA ATENÇÃO.

ABS.

CELSO

segunda-feira, 25 de junho de 2012

CONFIRMADO: PM MATOU IDOSO NA DESOCUPAÇÃO DO PINHEIRINHO!!!

É chocante e assustadora a denúncia dos crimes cometidos na desocupação do Pinheirinho (SP), que o procurador Márcio Sotelo Felippe e os respeitadíssimos Celso Antonio Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari e Fabio Konder Comparato, além de outros juristas, magistrados, políticos e voluntários, encaminharam à Comissão de Direitos Humanos da OEA (acesse íntegra aqui).  

Além de sistematizar as informações que já circulavam sobre os atos de truculência e barbárie que lá tiveram lugar, compondo um quadro simplesmente dantesco, a denúncia confirma que houve mesmo uma vítima fatal, conforme foi denunciado no momento dos acontecimentos e depois desmentido: o morador Ivo Teles da Silva.

As "evidências de que a morte ocorreu em decorrência das agressões físicas praticadas por policiais militares durante a desocupação da comunidade" estão assim documentadas:


"O sr. Ivo Teles da Silva contava com 69 anos e residia no Pinheirinho há 7 anos, com uma companheira.

No dia da desocupação Ivo Teles da Silva foi espancado pela polícia militar, sofrendo lesões em várias partes do corpo. Foi socorrido no Posto de Saúde do bairro e encaminhado ao pronto socorro do hospital municipal.

Ficou desaparecido por mais de uma semana, apesar das insistentes tentativas de localização, por advogados, entidades de direitos humanos e amigos. A única resposta do serviço médico era que somente a Prefeitura poderia dar informações. E a prefeitura, por sua vez, negava haver efetuado qualquer atendimento à vítima.

Ele só seria encontrado cerca de dez dias depois no Hospital Municipal, outra unidade de saúde, já em estado de coma, e após ser submetido a procedimentos cirúrgicos.

O boletim de atendimento de urgência, embora solicitado pela Defensoria Pública e pelo CONDEPE, jamais foi apresentado.

O serviço público de saúde deu alta médica ao sr. Ivo Teles da Silva, tendo sido encaminhado para a residência de sua filha, em Ilhéus-BA, de cadeira de rodas, pois ainda não andava ou falava. Ele viria a falecer dias depois, em 10.04.2012.

Embora não haja documentos oficias que atestem o nexo de causalidade entre as agressões praticadas pela polícia e a morte, há inúmeras evidências de que o seu falecimento se deu em decorrência dos fatos. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas, seguindo a sistemática sonegação de informação pela Prefeitura e demais órgãos da administração pública".

Trocando em miúdos, o que temos aqui é a descrição de um bestial assassinato e do seu covarde acobertamento. Como a preocupação das autoridades foi unicamente a de negar e maquilar os crimes, descumprindo seu dever de os investigar, não é possível estabelecer com absoluta precisão a responsabilidade de cada criminoso.

A denúncia coloca em primeiro lugar na lista dos "responsáveis pelas violações" o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tendo como cúmplices o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Pedrosa Cury; o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Ricardo Garisio Sartori; a juíza da 6ª Vara Cível da Comarca de São José dos Campos, Márcia Faria Mathey Loureiro; e o comandante da operação policial, coronel PM Manoel Messias, dentre outros.

"FLAGRANTE, LITERAL E TRAIÇOEIRA VIOLAÇÃO
DO ACORDO DE SUSPENSÃO DA ORDEM JUDICIAL"

Quanto ao que efetivamente aconteceu naquele domingo negro, é sublinhada no texto a existência de semelhanças evidentes com o que ocorria na Alemanha nazista. Concordo plenamente. Vale a pena todos lerem atentamente e refletirem sobre se estes HORRORES ainda podem ser admitidos um quarto de século depois de o Brasil ter despertado do pesadelo totalitário:

"Diante da tragédia social e humana que se avizinhava, com a iminente retirada à força de 1.659 famílias de suas moradias, parlamentares e representantes dos moradores tentaram uma negociação com os interessados e autoridades judiciais.

No dia 18 de janeiro de 2012, quinta-feira, reuniram-se no gabinete do juiz da Falência, dr. Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, o senador da República Eduardo Matarazzo Suplicy, os deputados estaduais Carlos Giannazi e Adriano Diogo, o deputado federal Ivan Valente, o síndico da massa falida Jorge T. Uwada, o advogado da massa falida Julio Shimabukuro e o advogado da empresa falida Selecta, Waldir Helu.

Conseguiu-se então um acordo de suspensão da ordem judicial de reintegração de posse pelo prazo de 15 dias. O juiz da Falência declarou na petição em que formalizado o acordo, por despacho de punho próprio, que havia telefonado para a juíza Márcia Loureiro, responsável pela ordem de reintegração de posse, comunicando o resultado da negociação.

No entanto, de surpresa, sem qualquer notificação, em flagrante, literal e traiçoeira violação do acordo de suspensão da ordem judicial, três dias depois ocorreu a violenta desocupação e remoção das 1.659 famílias.

Na madrugada de domingo, dia 22 de janeiro de 2012, às 5h30 da manhã, o bairro Pinheirinho foi cercado pela polícia estadual e pela guarda municipal de São José dos Campos. Mais de 2 mil policiais entraram na área, lançando bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra uma população que dormia, indefesa. Todos os moradores, incluindo mulheres, recém-nascidos, crianças, idosos e enfermos foram arrancados de suas casas.

Máquinas derrubaram as edificações, destruindo bens pessoais, móveis e utensílios dos moradores. Praticamente não foi concedida oportunidade para a retirada de bens pessoais, documentos e papéis.

Também foram demolidos todos os espaços de uso coletivo e todos os templos religiosos (um católico e seis protestantes).

Aquelas 6 mil pessoas foram tratadas como animais, arrancadas de suas moradias e lançadas em abrigos coletivos improvisados.

Durante a desocupação, dentro dos abrigos, os moradores ainda recebiam pancadas, eram vítimas de policiais armados, de balas de borracha e bombas de gás. Ambulâncias saiam do local carregando feridos, inclusive crianças vítimas dos gases e bombas de efeito moral.

As balas e bombas eram lançadas em todos os bairros contíguos ao terreno, atingindo pessoas e residências.

Mesmo após a desocupação, durante a noite, a Polícia Militar ainda atirava bombas de gás dentro do pátio da Igreja, onde se resguardavam moradores que não quiseram ficar nos abrigos.

Os advogados não puderam acompanhar os atos da desocupação, inobstante sua natureza judicial. Alguns levaram tiros com balas de borracha, como o advogado Antônio Donizete Ferreira, atingido nas costas, joelho e virilha por balas de borracha. Membros da Defensoria Pública, órgão estatal responsável pela assistência jurídica aos necessitados, foram impedidos militarmente de acompanhar o cumprimento da ordem.

A imprensa também não pôde acompanhar o procedimento policial.

A remoção violenta das 6 mil pessoas aqui descrita, além de violadora de diversos dispositivos da Convenção e da Declaração Americanas, (...) também caracteriza crime contra a Humanidade, nos termos do art. 7º , letra “k”, do Estatuto de Roma: ato desumano que provocou intencionalmente grande sofrimento, ferimentos graves e afetou a saúde mental e física de coletividade. Frontal violação do princípio da dignidade humana, com insuperável dano à integridade física e psíquica das vítimas e efeitos traumáticos em crianças, que perdurarão em suas existências.

Pode-se comparar a operação policial, em sua brutalidade e selvageria, a um 'pogrom', ou à  Noite dos Cristais  na Alemanha nazista, que destruiu milhares de propriedades, casas e templos da comunidade judaica em 1938. Na comunidade do Pinheirinho, no Brasil de 2012, no entanto, o motivo não foi o ódio étnico. Foi o alegado direito de propriedade, reputado absoluto pelo Judiciário e imposto ao custo de indizível sofrimento de toda uma população".

domingo, 24 de junho de 2012

O PARAGUAI E SUA "OBSCENA DISTRIBUIÇÃO DA RENDA"


É do veterano  correspondente internacional da Folha de S. Paulo, Clóvis Rossi, a melhor análise que encontrei na grande imprensa sobre o golpe paraguaio: A solidão que derrubou Lugo (acesse íntegra aqui). Confiram os trechos principais: 

"Sua vitória [a eleição de Lugo] foi um triunfo isolado, não de um movimento...

Teve que recorrer a um partido tradicional, o Liberal Radical Autêntico, para poder governar. Quando o PLRA o abandonou, caiu sem pena nem glória.

...Segundo problema que a América Latina não consegue resolver: a obscena distribuição da renda. No caso do Paraguai, dá-se que 1% dos proprietários rurais detêm 77% das terras, ficando apenas 1% para os 40% de camponeses donos de menos de cinco hectares.

Enquanto 350 mil famílias sem terra se tornaram 'carperas' (vivem em 'carpas', barracas de lona em espanhol), 351 proprietários são donos de 9,7 milhões de hectares.

Alguma surpresa que haja conflitos pela terra, um deles exatamente o que acabou sendo o pretexto para a deposição de Lugo, com a morte de 17 pessoas, policiais e sem-terra, na semana passada?

Se Lugo alguma culpa tem nessa história, não é a de ter ordenado ou provocado o incidente, mas o de não ter conseguido fazer a reforma agrária que prometeu ao assumir em 2008. Pretendia retomar para o Estado um total de 8 milhões de hectares, para depois dividi-los entre as famílias (300 mil então) que pediam a democratização do acesso à terra.

Se a tivesse executado, talvez caísse até antes, que os 'terratenientes' são impiedosos, mas talvez não estivesse tão solitário".

ANTIGO TORTURADOR ABRE O BICO SOBRE A 'CASA DA MORTE'

Objetivo era coagir presos políticos a virarem
agentes infilitrados. Como alternativa, a morte.
O jornal carioca O Globo publica entrevista do tenente-coronel reformado Paulo Malhães, torturador que o Centro de Informações do Exército incumbiu em 1970 de implantar a Casa da Morte de Petrópolis e de ser um dos oficiais que nela tentariam converter presos políticos em agentes infiltrados.

Segundo ele, a libertação de Inês Etienne Romeu, sobrevivente da Casa, teria sido um erro dos agentes: iludidos por ela, acreditaram que iria colaborar com a repressão.

Dentre os presos políticos que por lá passaram, Inês era tida como a única que saiu com vida, enquanto os mortos totalizariam 22. Malhães afirma, entretanto, que houve quem tenha se colocado a serviço das Forças Armadas, passando inclusive a receber ajuda financeira: "Na lista de desaparecidos tem  RX  [infiltrados]". Mas, não identificou nenhum nem apresentou provas.

Reticente quanto ao destino dos que, apesar das torturas, não aceitaram a proposta de "virar", ele acabou admitindo implicitamente que eram executados:
"Se ele deu depoimento, mas a estrutura [da organização guerrilheira] não caiu, ele pode ter sofrido as consequências".
Isto fica mais claro ainda em outro trecho, no qual, inclusive, ressalta que a execução era decidida por escalões superiores:
"Se era o fim da linha? Podia ser, mas não era ali que determinava".
Além dos estimados companheiros que eu sabia terem sido assassinados na Casa da Morte (José Raimundo da Costa e Heleny Guariba), a reportagem d'O Globo levanta a hipótese de que meu companheiro de militância desde o movimento secundarista, Gerson Theodoro de Oliveira, não haja morrido em tiroteio de rua (versão divulgada na época), mas sido lá abatido, pois "a certidão de óbito informa o endereço do DOI-Codi/RJ como local de sua morte".

Eis as cinco retrancas da reportagem (clique p/ abrir):

Torturador conta rotina da Casa da Morte em Petrópolis

Conheça as vítimas da Casa da Morte

Malhães se aliou ao PCdoB na Baixada

Única sobrevivente da Casa da Morte relata tortura, estupro e humilhação

Prisão clandestina pertencia a estrangeiro

O JORNAL DA DITABRANDA DÁ UMA FACADABRANDA NOS INTERNAUTAS

Em sua coluna dominical, a ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer, reconhece que está sendo pessimamente recebida a iniciativa do jornal, de tosquiar os internautas interessados em suas lições sobre ditaduras e ditabrandas:
"Uma onda de reclamações se seguiu ao anúncio de que a Folha passa a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital. Muita indignação ('Cobrar vai contra o espírito livre da internet'), ironia ('Fui...'), crítica ('Do jeito que anda o site, vai ser difícil gastar as 20 clicadas') e até tiradas românticas ('Vou sentir falta desse espaço, uma pena terminar assim, sem nenhum afago') foram usadas pelos leitores que ameaçam se divorciar da Folha na web.

Desde quinta-feira, o acesso digital é contado. Quem passar de 20 textos por mês será convidado a fazer um cadastro. Se chegar a 40 links, terá que pagar (R$ 1,90 no primeiro mês, R$ 29,90 nos seguintes).

...É uma estratégia para buscar uma nova fonte de receita sem diminuir drasticamente a audiência, já que ela garante os anúncios".
Bem, afora as reações por ela citadas, há uma outra, a que eu tomei imediatamente: a de cientificá-la de que houve um compromisso de gratuidade para quem aderisse ao UOL, daí os consumidores que adquirimos o pacote sob tal condição termos total direito de exigir a manutenção das regras do jogo.

A Veja foi a primeira a deixar o dito por não dito. Mas, tendo tal revista semanal se tornado o avesso das boas práticas jornalísticas, estando com a credibilidade a zero, ninguém se dispôs a reclamar o cumprimento do pactuado.  Não nos faz falta o viés fascistóide das notícias que já lemos na web e nos jornais.

Com a Folha a questão é outra. É veículo diário e, por mais questionáveis que sejam hoje suas interpretações e opiniões, as informações continuam sendo relevantes. Eu e (acredito) outros veteranos do UOL não aceitaremos a medida resignadamente.

Eis minha mensagem à ombudsman:

PREZADA SUZANA,

SOU ASSINANTE DO UOL HÁ MAIS DE UMA DÉCADA. O PACOTE QUE ADQUIRI ME DAVA, EXPLICITAMENTE, DIREITO À "VEJA" E À "FOLHA DE S. PAULO". FOI O GRANDE MOTIVO PARA EU OPTAR POR TAL PROVEDOR.

A MIM ME PARECE UM ESTUPRO DOS MEUS DIREITOS, COMO CONSUMIDOR, A "FOLHA" VOLTAR ATRÁS DE TAL COMPROMISSO E A "VEJA" TER PASSADO A LIBERAR A REVISTA APENAS NO DIA EM QUE A EDIÇÃO SEGUINTE ENTRA EM BANCA.

AFINAL, AO OPTARMOS PELO PROVEDOR, PASSAMOS A TER UM ENDEREÇO DE E-MAIL QUE PODE TORNAR-SE MUITO CONHECIDO NA WEB. CONHECIDOS O REPASSAM A NÃO CONHECIDOS. ABRIR MÃO DE TAL ENDEREÇO ACARRETA UM PREJUÍZO CONCRETO, POIS MUITOS DEIXARÃO DE NOS PODER CONTATAR.

EU APOSTARIA QUE O O MINISTÉRIO PÚBLICO CONCORDARÁ COMIGO: A MUDANÇA DAS REGRAS DO JOGO SÓ PODERIA SER APLICADA A QUEM O PACOTE NÃO FOI OFERECIDO TENDO A "FOLHA" E A "VEJA" COMO ATRATIVOS PRINCIPAIS, AS AZEITONAS DA EMPADA.

AGUARDO UM POSICIONAMENTO.

ATENCIOSAMENTE,

CELSO LUNGARETTI

sábado, 23 de junho de 2012

O RESCALDO DO GOLPE MADE IN PARAGUAY

O pretexto do golpe parlamentar no Paraguai foi mais patético ainda que o utilizado em Honduras. Só faz sentido na ótica de reacionários empedernidos: os miseráveis tentarem ocupar terras para as cultivarem e não morrerem de fome é subversão das piores e justifica até a derrubada de um presidente que não reza pela cartilha do sagrado direito à propriedade.

A execução, por um lado, revelou um profissionalismo que faz supor uma mão oculta manipulando títeres; o desinteresse com que os EUA receberam este gritante atentado à democracia dá uma boa pista de quem possa ser o roteirista do espetáculo.

Pelo outro, teve o inconveniente de não enganar ninguém no resto do mundo. Até as pedras perceberam que Fernando Lugo não teve o mais remoto direito de defesa. Impeachment em pouco mais de 30 horas é algo que só passa pela cabeça de quem estiver se baseando numa cópia fajuta do Direito Constitucional, adquirida de contrabandistas. Foi um típico  impeachment made in Paraguay...

A reação dos países dominantes da América do Sul, por enquanto, está sendo tímida demais. Dilma Rousseff e Cristina Kirchner têm de botar na cabeça que ervas daninhas se alastram quando não as extirpamos em tempo: se esta virada de mesa resultar, outras virão. 

Chávez, Morales e Mujica são alvos óbvios, troféus que os  roteiristas  há muito querem empalhar e exibir na parede. E, no final da fila, virão, obviamente... Dilma e Cristina.

Então, até por autopreservação, cabe-lhes produzirem desta vez uma reação bem mais efetiva do que no caso hondurenho.

Um embargo econômico do tipo que os EUA impõem há meio século a Cuba faria os golpistas logo pedirem água.

O restante do arsenal estadunidense de desestabilização de governantes indesejáveis é x-rated, pornográfico demais. O embargo, contudo... já que a ONU e a OEA admitem condescender com ele indefinidamente, por que não? Pau que bate em Chico pode bater também em Francisco...

Para a esquerda, fica, pela enésima vez, a comprovação de que, no frigir dos ovos, as Forças Armadas não garantem a ordem constitucional, mas ajudam alegremente a promover a desordem que convém aos poderosos. As quarteladas brasileira e chilena não haviam sido suficientes para dissipar tais ilusões?!

E também a de que conquistar governos por via eleitoral não significa tomar o poder. Então, apostar em lideranças tíbias porque empolgam o povão tem o inconveniente de que, na hora H, nunca se pode contar com elas. Zelaya e Lugo não foram propriamente depostos, mas sim enxotados com petelecos.

Outros se descaracterizam tanto, rendendo-se tão incondicionalmente ao grande capital, que nem precisam ser enxotados; tornam-se caricaturas de si próprios.

A esquerda que coloca todas as suas fichas na via eleitoral deveria, pelo menos, tentar levar à presidência da república seus melhores quadros, os mais consistentes em termos ideológicos, não essas figurinhas tão populares para vencer eleições quanto ineptas para governarem como verdadeiros homens de esquerda.

No momento crítico, um Salvador Allende foi capaz de abrir mão da vida para legar aos pósteros sua última lição de grande revolucionário. Simplesmente não dá para imaginarmos um Zelaya ou um Lugo fazendo o mesmo.
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