segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

UM PARADOXO: O MERCADO IMPÕE A ROBOTIZAÇÃO QUE O DESTRÓI!

"Quando não há caminhos traçados,
nós voamos" (Rainer Maria Rilke)
Ao acreditar que a eliminação do patronato privado bastasse para levar a classe operária ao paraíso, o marxismo-leninismo do movimento operário deu uma demonstração do seu equívoco analítico, bem como de de que não conhecia o Marx esotérico e suas concepções verdadeiramente científicas. 

Em todas as experiências marxista-leninistas tradicionais estava presente a famigerada figura do mercado, demonstrando cabalmente que nessas experiências estavam também presentes todas as categorias capitalistas existentes no capitalismo liberal burguês e, portanto, diferenciando-se destas últimas apenas na forma política de acesso e administração do Estado e no conteúdo jurídico da propriedade, sem aboli-la.

É no mercado que se torna realizada a expectativa de extração da mais-valia pelo capital, posto que, se ali não se realiza o valor de troca da mercadoria produzida, tudo se transforma em prejuízo, no sentido da produção acumulada do valor. 

Assim, o mercado é, ao mesmo tempo, o altar da verdade econômica capitalista, bem como o local de aferição estatística de valor médio mundial de trabalho abstrato coagulado nas mercadorias. É o termômetro de aferição do valor.

É no mercado, local em que as mercadorias se digladiam em busca da própria hegemonia, que se afere o quantum de trabalho abstrato exigido para a viabilidade econômica da produção das ditas cujas, ficando sinalizada a incessante necessidade de redução dos custos de tal produção.

Nesse confronto épico das mercadorias no mercado reside o mais importante paradoxo capitalista: a necessidade de diminuição dos custos de produção como fundamento para a vitória na guerra concorrencial de mercado, a qual somente é possível com a redução crescente do trabalho abstrato (ou redução média do valor do trabalho) e o incremento contínuo e aumentado do próprio valor, por sua vez somente possível pelo trabalho abstrato. 

Esta contradição inconciliável da lógica capitalista evidencia a sua completa irracionalidade como modo sustentável de mediação social, conforme o Marx esotérico previu há 160 anos. Não devia ser uma novidade para os marxistas, posto que, certamente, não o é para os economistas minimamente conscienciosos da dinâmica capitalista.

DESNÍVEL DE PRODUTIVIDADE ENTRE 
OS PAÍSES ESTÁ INVIABILIZANDO A 
VIDA PLANETÁRIA SOB O CAPITALISMO
.    
Desde há muito que os economistas que gerem o controle monetário dos países capitalistas sabem que o grande mundo do capital (os integrantes do G7 e seus Bancos Centrais) emitem moedas internacionais sem lastro, que somente não causam inflação em seus próprios países porque são exportadas para a restante dos países emissores de suas moedas não aceitas no mercado internacional.

É assim que funciona: os países ricos ditam a sua opressão mercadológica e uma das suas formas se processa via emissão de moedas internacionais, o que lhes viabiliza a vida, aí incluída a produção de mercadorias e compra destas para as satisfações dos seus elevados padrões de consumos locais, em padrões bem diferenciados dos demais. 

Entretanto, a corrosão causada pelo desnível de produtividade de uns países com relação a outros na guerra concorrencial de mercado está inviabilizando a vida planetária sob o capitalismo, sendo esta a razão da decomposição institucional dos países periféricos e do surgimento do terror como ingrediente recorrente do estado de barbárie social mundial. 

No período pré-capitalista as relações de produção envolviam a necessidade de grande contingente de mão-de-obra bruta, sempre pouco especializada, principalmente porque toda a produção advinha do setor primário da economia, no qual a produção rural agrícola era preponderante. 
Com o advento do rápido desenvolvimento capitalista que provocou o aparecimento da máquina a vapor e na sequência o domínio tecnológico da mecanização da produção de mercadorias a partir dos combustíveis fósseis e da energia elétrica, presenciou-se o processo de modificação social crescente que resultou na primeira revolução industrial inglesa, por volta da metade do século XIX. 

Os desempregados em massa (principalmente das indústrias têxteis inglesas que substituíram os teares manuais dando ensejo ao aparecimento dos luddistas, desempregados que quebravam as máquinas no condado de York, Inglaterra, em 1812) puderam ser substituídos por novos nichos de mercado de trabalho que surgiam. 

Isto proporcionou a ascensão capitalista dos países produtores, com o uso das novas tecnologias e conquistas sociais que deram a falsa impressão do caráter civilizatório do capitalismo nesses mesmos países, como se o mesmo processo pudesse se repetir nos países periféricos, algumas colônias, importadores e exclusivamente produtores de matéria prima.  

No início do século XX surgiu a segunda revolução industrial, ou revolução fordista, com o advento da engenharia de produção taylorista (uso da tecnologia mecânica com a produção em série esteira de produção, na qual ocorre uma sincronia de movimentos que eleva o nível de produtividade). Parafraseando a frase célebre de Clausewitz, a 1ª Guerra Mundial foi uma continuação, por outros meios, da disputa entre os países pela hegemonia de mercado com as novas concepções heterogêneas de produtividade de mercadorias.

Com a guerra e suas consequências veio a depressão econômica; e esta desembocou na 2ª Guerra Mundial, como consequência da primeira e pelos mesmos motivos. 
Um quarto de século depois, chegamos à era da terceira revolução industrial e seus primeiros passos na introdução da microeletrônica, que promoveria a revolução cibernética; da comunicação via satélite; e da robotização.

Nunca antes a produção de mercadorias sofrera uma transformação tão rápida e profunda, com consequências igualmente transformadoras da vida social. 

Tudo nos leva a concluir que seja a transformação do modo de produção social o motor das transformações sociais para melhor ou para pior, e não a política, que apenas obedece aos ditames da ordem econômica em mutação. A política não determina as mutações da produção de mercadorias ditada pelo mercado, apenas se ajustando a elas. 

ROBOTIZAÇÃO EM DESTAQUE 
NO FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
.
Assim, não é difícil de se compreender o porquê das preocupações do Fórum Econômico Mundial (em sua reunião que terá início nesta 3ª feira, 23, na cidade suíça de Davos) com a introdução cada vez mais presente da robotização na produção e suas consequências desastrosas para toda a lógica de mediação social patrocinada pela forma-valor, ou seja, pelo capitalismo. Até porque, uma recente e bombástica previsão da consultoria McKinsey, segundo a qual a robótica eliminará até 800 milhões de emprego até 2030, vem repercutindo intensamente no mundo inteiro.
É que o desemprego estrutural, que põe à margem da produção e do consumo milhões de trabalhadores mundo afora, não apenas causa a miséria destes como ameaça a própria sustentabilidade da ordem econômica mundial (e isto sim é importante para eles!). Hoje há uma defasagem entre a criação de novos nichos de emprego (a menor) promovida pela mesma tecnologia que promove o desemprego (a maior). 

Agressão ecológica (que é outro fator preponderante na autofagia capitalista) à parte, as soluções levantadas para o problema se cingem à esfera da imanência capitalista.

Propostas como a do ex-senador e atual vereador Eduardo Suplicy (um dos poucos que se salvam na decomposição moral dos políticos brasileiros), concomitantemente levantada pela Consultoria McKinsey, de criação de um salário base para toda a população economicamente ativa, como se fosse um seguro-desemprego, é ingênua. Esbarra no fato de que tal remuneração se dá em dinheiro; e, como sem trabalho não há dinheiro, ela é simplesmente inexequível.   

A questão é que a superação do trabalho abstrato e consequente introdução de atividades laborais sem remuneração que visem à produção de bens e serviços destinados apenas à satisfação das necessidades de consumo sociais e não ao lucro, implica a superação do capitalismo; este parece ser um tabu intransponível, como se a humanidade não pudesse optar por outro modo de produção. 

Vejamos o tamanho da encrenca que os defensores do capitalismo vão ter de encarar nos debates do Fórum Econômico Mundial de Davos:
a Organização Internacional do Trabalho, órgão de insuspeita ligação com a ordem capitalista mundial, afirma que até 2030, de 400 a 800 milhões de trabalhadores economicamente ativos estarão desempregados mundo afora, o que representa de 11% a 23% da população mundial inserida na produção de mercadorias e serviços (que também é mercadoria); 
— que foi de 9% o aumento da robotização na produção industrial e de serviços desde 2010 até a presente data e tal esse índice tende a aumentar, provocando mais desemprego. 
No Brasil, segundo o relatório da mesma Consultoria McKinsey, teremos: 
— a introdução de 11.900 robôs entre 2015/2030, com a Embraer à frente do processo, como modo de fazer frente à concorrência internacional de mercado no setor da produção de aeronaves, segundo seu presidente Guilherme Sousa; 
— 1,7 milhões de trabalhadores afetados pela robotização até 2030; 
— 60 mil cargos públicos serão extintos como ajuste ao déficit fiscal;— e por aí vai. 
Há que se pensar fora da caixa (ou do$ caixa$?) na questão dos impasses mundiais da produção social, sob pena de sucumbirmos na barbárie social e ecológica já em curso. 

Por que não produzir apenas para satisfazer necessidades sociais ao invés do lucro? Há alguma coisa de muito podre no reino da hipocrisia da economia mundial. (por Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails