terça-feira, 23 de janeiro de 2018

LULA É HOJE UM PERSONAGEM NOCIVO PARA A REVOLUÇÃO BRASILEIRA

"É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
Não com um estrondo,
mas com um suspiro"
(T. S. Eliot)
Nordestino pobre que, ao vir para São Paulo com sete anos de idade, trouxe na bagagem a cultura do coronelismo (tanto que sempre se deu às mil maravilhas com os ACM's e Sarneys da vida), ele mesclou depois as influências do seu ambiente de origem com as do nascente sindicalismo de resultados do final da ditadura.

O certo é que sua projeção como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) se deu graças a greves sobre as quais sempre pairou a suspeita de que fossem combinadas com as grandes montadoras: querendo escapar do congelamento de preços que a ditadura lhes impunha, interessava-lhes que houvesse tais paralisações, dando-lhes pretexto para cobrar mais pelos veículos como forma de compensar os aumentos de salários por elas concedidos aos metalúrgicos. Os ministros da Fazenda da ditadura acabavam cedendo às suas pressões e abrindo uma exceção para elas. 
Lula diante da Volks: greves convenientes para os dois lados?

Durante tais greves, muitos militantes de esquerda tentavam entrar no território de Lula e sua patota sindicalista, sendo firmemente rechaçados. 

Depois, contudo, com a volta de Leonel Brizola ao Brasil, Lula percebeu que, se o deixasse sair na frente na organização de um partido de esquerda, acabaria se tornando um mero satélite na sua órbita. Mas, como estruturar um partido nacional se ele e seus seguidores só eram influentes em São Paulo?

Assim, embora viesse até então zelosamente evitando que os esquerdistas de fora do ABC desempenhassem papel com um mínimo de destaque nas greves e nas assembleias no estádio de Vila Euclides, isolando-os tanto quanto podia, foi obrigado a negociar com os dirigentes dos ditos cujos para obter a abrangência geográfica que lhe permitisse vencer a corrida contra o tempo para consolidar nacionalmente o PT, antes que decolasse o PTB (acabou sendo PDT) do Brizola. 
Lula e Brizola: rivais na disputa da hegemonia na esquerda
As forças que se uniram para formar o Partido dos Trabalhadores foram os sindicalistas do ABC, os partidos e grupos de esquerda que haviam sobrevivido ao terrorismo de Estado da ditadura e a chamada esquerda católica.

Ou seja, circunstancialmente Lula foi obrigado a somar forças com a esquerda, mas nunca morreu de amores por ela. Solapou sua influência na década de 1980 estimulando o inchaço do PT (a permissão do ingresso em massa de ambiciosos e oportunistas de todos os matizes, interessados em encherem seus bolsos e não em tornarem a sociedade mais justa), esvaziando/expurgando as tendências de esquerda e, enfim, alinhando-se sempre com as posições que conduziam à desideologização do partido.

A seu mando, Zé Dirceu fechou com os poderosos da economia, em 2002, o acordo pelo qual estes não se oporiam à eleição e posse de Lula como presidente da República, comprometendo-se o novo governo, em contrapartida, a não tomar decisões macroeconômicas desfavoráveis aos donos do Brasil. Cada vez que eu o escutava repetir que os banqueiros nunca haviam lucrado tanto quanto com ele no poder, quase vomitava!

Então, o verdadeiro significado dos governos petistas foi o engessamento da luta contra o capitalismo, com os explorados sendo levados a crer que, de migalha em migalha, acabariam enchendo o papo. Deveriam saber que isto não dá certo nem para as galinhas, nem para os seres humanos. 

Quando a economia entrou em crise e não havia mais migalhas a distribuir, eles se viram sob uma das piores recessões brasileiras de todos os tempos, daí terem assistido indiferentes à derrubada de Dilma Rousseff. 

O que poderemos esperar de Lula, caso os poderosos lhe permitam concorrer à eleição presidencial e, vencendo, ser empossado? 

Existe alguém que acredite numa conversão miraculosa aos ideais revolucionários? 

Ou ele protagonizará mais uma (de antemão fracassada) tentativa de provar que a conciliação de classe e o reformismo ainda podem fazer a felicidade do povo brasileiro, embora tal crença nos faça marcar passo desde 1986?
Assim como muitos analistas e até alguns presidenciáveis, eu também prefiro que Lula seja rechaçado pelo eleitorado e não afastado da eleição pela Justiça burguesa. Pois, hoje, ele nada mais é do que um empecilho para que os explorados tomem seu destino na mão e passem a construir uma sociedade bem diferente da atual, que se mostra cada vez mais desigual e bárbara. 
  
O certo é que, aconteça o que acontecer no julgamento legal do Lula, seu papel histórico já está encerrado. Deveria ter pendurado as chuteiras há muito tempo.

Torço para que sua aposentadoria não se dê sob a humilhação e o constrangimento das grades, pois é algo que nenhum ancião merece quando não houver cometido crimes hediondos nem se constituir numa ameaça para a sociedade. 

Mas, para a necessária e, mais do que nunca, imprescindível revolução brasileira, ele hoje não passa de um personagem nocivo.

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