quinta-feira, 23 de novembro de 2017

RELEMBRANDO ALGUMAS DETESTÁVEIS HISTÓRIAS DE RACISMO E XENOFOBIA, PARA QUE NOS SIRVAM A TODOS COMO ALERTA .

"A única cansada era eu, cansada de ceder"
(Rosa Parks, defensora dos direitos civis nos EUA)
Na grande depressão econômica de 1929/1933, a Alemanha, que vinha da derrota para a Tríplice Entente na 1ª Guerra Mundial (1914/1918), sofria particularmente com as restrições econômicas e territoriais que lhe haviam sido impostas. As empresas faliam aos milhares, deixando 6 milhões de trabalhadores (45% da mão-de-obra do país) na rua da amargura. A inflação disparava, embora sem atingir os patamares extremos da hiperinflação de 1923. A vida social se tornava quase impossível.

Foi neste quadro dramático que surgiu o salvador da pátria Adolf Hitler e seu nacionalismo xenófobo e racista, mesmerizando a sofrida sociedade alemã com promessas de prosperidade e de afirmação da raça ariana. Os comunistas foram os primeiros a serem discriminados politicamente, os judeus e ciganos vieram na sequência.

O nazismo endeusava o trabalho abstrato como fonte de toda a riqueza e dignidade humanas (vide a frase O trabalho liberta, um humor negro involuntário no frontispício do campo de concentração de Auschwitz), em contraponto ao que alegavam ser um parasitismo usurário semita, numa demonstração da ignorância sobre a verdadeira gênese e natureza da formação e acumulação do valor (dinheiro e mercadorias.) 
Na casa da morte, o cínico louvor ao trabalho libertador!

Mas, não foi apenas em meio à barbárie nazista que se manifestaram as intoleráveis posturas racistas e xenófobas. Elas também eram encontradas em 1948, quando os Estados Unidos já haviam obtido a condição de emissor do dólar como moeda internacional (Breton Woods, 1945) e, não tendo sofrido danos em seu próspero porque industrial, desfrutavam de prosperidade em pleno pós-guerra. 

Mesmo assim, os ricos de Los Angeles, Califórnia, não deixaram de demonstrar todo o sentimento racista supremacista branco.

Em 1948, o brilhante cantor e pianista negro estadunidense Nat King Cole, no auge da fama, comprou uma mansão no Hancock Park, um luxuoso condomínio em Beverly Hills, moravam os atores famosos de Hollywood e os milionários dos EUA.

A direção da associação de moradores do condomínio visitou a família e se queixou do inconveniente que representaria o ingresso de moradores indesejáveis. Nat King Cole, acostumado com a histórica segregação racial estadunidense, fingiu não ter compreendido quem era o alvo da insinuação; repondeu que concordava perfeitamente como aquela regra condominial, e que também não gostaria de conviver com pessoas indesejáveis
O cantor e sua filha Natalie Cole: indesejáveis?!

Os intolerantes interlocutores, que, ao invés de darem as boas vindas aos novos moradores, haviam sido portadores de uma ignominiosa ofensa racista, engoliram seco a inteligente postura do cordato cantor estadunidense, posto que não puderam explicitar o conteúdo do que consideravam como sendo moradores indesejáveis, por absoluta falta de consistência argumentativa humana e moral.  

De outra feita, Nat King Cole, que fora o primeiro negro a se tornar apresentador de um programa na televisão dos EUA, obtendo enorme sucesso, teve de deixar o programa por absoluta falta de patrocinadores; recusavam-se a financiá-lo pelo simples fato de não tolerarem um apresentador negro, numa prova de que o capital (valor acumulado), ainda que seja ele próprio o sujeito autômato social indiferente às castas sociais feudais e a tudo que não represente o seu interesse auto-reprodutivo irracional, é também predominante branco e racista.

Em 1955, em Montgomery, capital do Alabama, EUA, como de resto em vários outros estados, as primeiras filas dos assentos dos ônibus eram reservadas para os homens e mulheres brancos. Os assentos dos negros, designados com a expressão only coloreds, situavam-se nos bancos de trás, eram menos numerosos e separados com esses indicativos acintosos. 

No dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks tomou um dos assentos do meio do ônibus e, quando nele subiu um homem branco, o motorista exigiu que o lugar fosse a ele cedido.  Diante da recusa de ceder o assento, Rosa Parks foi levada a uma delegacia, presa e processada por ato de desobediência legal. 
Ônibus em que os lugares de trás eram para os negros

A partir deste incidente a população negra da cidade se recusou o usar os transportes de ônibus e se juntava em grupos para caminhar a pé cantando músicas anti-segregacionistas, postura que causou prejuízos financeiros às empresas, além de colocar em evidência aquelas ignominiosas restrições legais. 

A atitude contestatória de Rosa Parks foi o estopim para a mobilização da população negra estadunidense da cidade pela igualdade dos direitos civis, negada pela legislação, e se constituiu num marco da cruzada que, a partir daí, foi liderada pelo pastor Martin Luther King, cuja repercussão é uma das mais belas páginas da história emancipacionista estadunidense, ainda que persistissem as intolerantes ações dos supremacistas brancos (agora, infelizmente, retomadas em escala mais ampla).  

Eis que, sem nenhum pejo, o presidente estadunidense Donald Trump, dando sequência a outras manobras flagrantemente xenófobas, segregacionistas e racistas, resolveu rever o status de proteção temporária aos imigrantes que estejam morando nos Estados Unidos em razão de catástrofes naturais ou conflitos bélicos.   

Como sabemos, o Haiti, o país mais pobre das Américas, destruído em 2010 por um terremoto que devastou a sua população, se constitui no mais eloquente exemplo do que é capaz o capitalismo nos países periféricos ao seu excludente regime de produção de mercadorias. 
Refugiados haitianos protestam contra infâmia de Trump

Não por acaso, os mais atingidos são os haitianos, cuja população, na quase totalidade, é formada pela bela etnia dos negros, representando a grande maioria dos imigrantes nessa condição existentes nos EUA. Eles terão de regressar ao seu país no período de 12 meses, por determinação do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, como resultado do fim do Programa de Proteção Temporária criado em 1990.

O governo Trump, ratificando o que prometera nos discursos nacionalistas xenófobos e racistas que são tidos como responsáveis por sua vitória eleitoral (ainda que sem maioria absoluta de votos), consegue se superar a cada momento, mostrando-nos do que é capaz a insensatez coletiva que coloca à frente do governo um narcisista e supremacista branco pretensamente salvador da pátria, capaz de piorar os males do capitalismo, que por natureza ontológica jamais poderá ser bom para todos.

O que dizer do Brasil, país que tem a maior população negra fora da África e é campeão mundial de assassinatos por armas de fogo de jovens, predominantemente negros, com população carcerária idem, e que trata qualquer cidadão negro e mal vestido como um criminoso em potencial? 
Brasil: lugar de negro é nos boletins policiais...

Que todos os atos de racismo e xenofobia nacionalista nos sirvam de lições contra os outsiders que se aproveitam da insatisfação coletiva para fazer vingar os seus discursos políticos de exclusão, ódio e de falaciosa salvação da pátria.


Que se compreenda que o valor econômico como forma de mediação social é a gênese da segregação social racista, por essência constitutiva; e que não haverá emancipação social a persistirem as castas sociais raciais e a dissociação de gênero.

A emancipação humana planetária somente será possível a partir da mobilização mundial coletiva consciente, e que prescinda de heróis. (por Dalton Rosado)

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