quarta-feira, 28 de junho de 2017

ATÉ QUANDO, JANOT, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?!

Quando o procurador-geral Rodrigo Janot, de braços dados com as Organizações Globo e contando com o aval do ministro do STF Edson Fachin para passar como um trator por cima da Constituição Federal, desencadeou uma guerra relâmpago para forçar a renúncia do presidente da República ou tanger a Justiça Eleitoral a condenar a chapa Dilma-Temer, estranhei a afoiteza com que foi lançada tal blitzkrieg: por que tanta correria, a ponto de ele ter aceitado sem restrição nenhuma, como prova válida, uma gravação ilegal, imperfeita e inconclusiva, negligenciando até a lição de casa de submetê-la à imprescindível perícia?! Não me caiu, de imediato, a ficha de que o fim do mandato de Janot estava tão próximo.

A tramoia fracassou, depois de virar o País de pernas pro ar; afetar profundamente os mercados, beneficiando a uns e prejudicando a outros (principalmente aqueles que não dispunham de informações privilegiadas e deixaram de se proteger adequadamente); comprometer a tênue recuperação econômica para o qual a economia brasileira marchava, de fôlego curto, claro, mas que daria um pequeno alívio aos coitadezas que arrancam os cabelos sob os rigores da recessão desde 2015; lançar sérias dúvidas sobre a lisura da Operação Lava-Jato, fornecendo o melhor trunfo que até agora caiu nas mãos dos políticos encalacrados, etc. O estrago foi enorme.

Qualquer cidadão com um mínimo de simancol cessaria imediatamente as hostilidades e tentaria passar tão despercebido quanto possível até setembro (quando Janot finalmente entregará o cargo). Mas, não ele! Obcecado em ter uma cabeça presidencial para levar como troféu quando esvaziar as gavetas, ele decidiu manter uma inútil guerrilha contra Temer, fazendo o Brasil inteiro refém de suas pirraças. 
Rodrigo Janot curtiu

Não importa que suas novas tentativas sejam cada vez mais capengas em termos legais; que sua decisão de apresentar duas ou três denúncias separadas se evidencie flagrantemente como uma tática de guerra psicológica e não uma iniciativa juridicamente justificável; nem dá a mínima para o fato de que um processo de impeachment, mesmo que os deputados federais aprovassem sua abertura (o que até as pedras das ruas sabem que não farão), levaria à substituição provisória de Temer pelo presidente da Câmara e depois à eleição pela via indireta de um presidente que governaria no máximo três trimestres, ou seja, muito barulho por (quase) nada.

Conforme notou o bom repórter Rubens Valente, da sucursal da Folha de S. Paulo, a primeira das denúncias-bomba apresentadas por Janot é recheada com vento: tenta envolver Temer no recebimento de R$ 500 mil por parte de seu antigo assessor Rodrigo Loures, mas não consegue provar em lugar nenhum que a grana da JBS foi parar no bolso do presidente. Ilações e conjeturas não bastam para o monumental passo que Janot quer dar, mas ele parece estar tão premido pelo calendário e transtornado com os fracassos que agora partiu para o vale tudo.

Antes mesmo de qualquer advogado, Valente já desconstruiu a denúncia do Janot:
"Ao restringir a denúncia de corrupção passiva contra Michel Temer ao recebimento de R$ 500 mil pelo ex-assessor Rodrigo Loures, a Procuradoria-Geral da República deixou exposta a maior fragilidade da investigação: a dificuldade de comprovar que o presidente foi o beneficiário final ou que solicitou o dinheiro... 
...A investigação foi curta, durou apenas dois meses. É comum grandes investigações da PF durarem até mesmo anos antes de uma denúncia.
Uma das consequências da pressa em concluir o caso (...) é a ausência, na denúncia, de laudos bancários ou tributários para comprovar conexões financeiras entre Loures e Temer. O caminho do dinheiro não foi desenhado na denúncia.
 ...a PGR não conseguiu demonstrar, nas 60 páginas da acusação, como seria a suposta operação monetária que beneficiaria Temer depois da chegada da mala a Loures. (...) Não há indício de relação financeira entre os dois...
As mais de 2.000 conversas telefônicas interceptadas com ordem judicial e a conversa gravada pelo empresário da JBS Joesley Batista com Temer em 7 de março não trazem a informação objetiva de que o presidente pediu os R$ 500 mil, mesmo que 'por intermédio' de Loures".
Até quando, Janot, abusarás da nossa paciência?!

6 comentários:

Valmir disse...

um tanta estranha essa repentina sensibilidade e solidariedade para com os tais "mercados"...no minimo né?
mas da esquerda nada pode espantar muito....

celsolungaretti disse...

Como não há nenhuma solidariedade para com os mercados neste artigo, suponho que você esteja se referindo a algum outro. Especifique qual é, para que eu possa entender seu comentário.

Unknown disse...

A impressão que me passa que você apoia o Temer. hummmm

celsolungaretti disse...

Não tenho culpa se vc desconhece a dialética marxista e está viciado nesse maniqueísmo tosco que o PT dissemina. Meu raciocínio é político, nunca entro no clima de Fla-Flu.

A derrubada do Temer de nada serviria para a esquerda neste momento e eu detesto vê-la colocando azeitona na empada de facções burguesas. Ainda mais na de uma facção que flerta com o estado policial, como a parceria Janot-Globo. É simples assim.

Unknown disse...

Celso, o mais importante mesmo é a difícil prática da dialética. Nesse aspecto, eu concordo e louvo sua postura. Aliás, acompanho o blog desde 2015 justamente por causa desse diferencial analítico. No entanto, Temer tem liderado, junto com o congresso, uma política de aumento do dano capitalista, em praticamente todos os aspectos. É uma política corrupta e de retrocessos aliada a uma modesta busca de estabilidade econômica. Por que preferir esta a outra facção dos poderosos? Sinceramente, devemos combater todas, começando por esta que está no poder.

celsolungaretti disse...

Gledison, eu prefiro ter de suportar um demônio conhecido (Temer) do que um imprevisível (os tenentes togados). Do primeiro eu sei o que esperar, e não é nada de assustador. Não passa de um político profissional de voos curtos, que não fará seu sucessor nem terá relevância política depois de sair da Presidência.

Já essa esdrúxula articulação entre o Janot e as Organizações Globo é o chamado imponderável. Embora o voo do Janot seja solo (ele só está usando os jacobinos da Lava-Jato), uma eventual vitória dele reforçará esse pessoal messiânico e moralista. Não esqueça que o tenentismo original desaguou numa ditadura de 15 anos e estava presente na ditadura de 21 anos. Eu vejo com muita preocupação a cruzada que esses caras estão movendo.

Quanto aos danos que o Temer possa causar, como minha linha de pensamento é da velha guarda, continuo considerando mais relevante a política econômica. Mas, o PT teve 13 anos para encontrar uma alternativa à reforma da Previdência segundo o figurino neoliberal e fracassou miseravelmente, acabando por capitular da forma mais vergonhosa ao inimigo (quando Dilma empossou o Joaquim Levy).

Então, a alternativa aos malefícios do Temer em matéria de política econômica não existe no capitalismo, está na superação do capitalismo (e o PT hoje foge da revolução como o diabo da cruz).

Tudo avaliado, já passou a hora de tentarmos derrubar o Temer pela via do impeachment. O país continua parado mais uns 9 meses e o sucessor não governaria nem dois semestres. Não vejo ganho nenhum nisso, só prejuízos.

O pior deles sendo que, em tal circunstância, o PT continuaria mantendo sua hegemonia e continuaria mantendo suas posturas reformistas e populistas, que pareceriam fazer sentido com uma nova disputa eleitoral e toda a instabilidade que marcaria o período.

Para mim, o que mais a esquerda necessita, neste momento, é repensar suas estratégias e táticas, voltando aos trilhos revolucionários, às lutas sociais, à organização das massas e à acumulação de forças para transformar verdadeiramente a sociedade.

O capitalismo e a democracia burguesa são zumbis que se arrastam por aí à espera de que os mandemos definitivamente para o túmulo. É esta nossa missão e desde 2003 a estamos negligenciando, hipnotizado pelo canto de sereia dos palácios do poder. Está na hora de acordarmos.

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