sábado, 29 de abril de 2017

PARA DEMÉTRIO MAGNOLI, O BRASIL É UMA "NAÇÃO DE COLONOS ESTATIZADOS".

"Na pré-história da nação brasileira, estão colonos empenhados em fazer a América, capturando índios, buscando pedras preciosas, extraindo ouro. Prezamos, acima de tudo, a recompensa pecuniária pessoal. 

Na Istambul de 2013, uma onda de manifestações antigovernistas foi deflagrada pela defesa do parque Gezi, que se queria converter em shopping center. Aqui, não fazemos isso. 

Escolas, hospitais, redes de esgoto, metrôs e trens, praças públicas, bibliotecas, museus, parques nacionais? Não: lutamos por repasses em moeda sonante, nas formas de aposentadorias precoces, pensões especiais, bolsas, multas rescisórias, passes livres, cestas básicas, uniformes escolares, faltas abonadas, cotas raciais, meia-entrada. Desprezamos os direitos sociais universais. Queremos nossa parte em dinheiro –e já!.
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"Desprezamos os 
direitos sociais 
universais. Queremos nossa parte em
 dinheiro e já!"

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A história política moderna do Brasil começa com Getúlio Vargas. O primeiro pai do povo ensinou-nos que o Estado funcionará como intermediador geral da disputa por rendas. Com ele, aprendemos a interpretar os direitos como notas promissórias emitidas pelo Tesouro em nome de indivíduos organizados em corporações.

Os empresários almejam subsídios do BNDES, os sindicalistas protegem o imposto sindical, os artistas cantam a glória de leis de incentivo financiadas por renúncia tributária. A nossa parte em dinheiro depende da qualidade da conexão política de nossa corporação. Séculos depois, os colonos ainda fazem a América, mas por outros meios. A efígie de Vargas tremula na ponta dos mastros da greve geral.

Lula ensaiou uma reforma previdenciária, no primeiro mandato. Dilma falou sobre a necessidade de aumentar a idade de aposentadoria, no curto outono realista de seus últimos meses. De volta à oposição, o PT se esqueceu disso, investindo na canção antiga, que toca a alma da nação de colonos estatizados." 
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Observação: postei seis parágrafos do artigo de Demétrio Magnoli deste sábado, 29, por considerá-los uma análise das mais lúcidas do quadro brasileiro, com a qual, excetuado o finalzinho, concordo inteiramente.

No último parágrafo, dou-lhe inteira razão quanto ao fato, que já mencionei neste artigo, de que a reforma de cunho neoliberal agora repudiada pelo PT é exatamente a que Dilma Rousseff tentou nos socar goela adentro em 2015. 

A postura do partido é das mais hipócritas e irresponsáveis, pois, tendo desistido de fazer uma revolução para acabar com a exploração do homem pelo homem, agora se limita a disputar nacos de poder sob o capitalismo; mas contesta oportunisticamente reformas hoje indispensáveis para o funcionamento do sistema capitalista, escondendo de seus seguidores que não há alternativa possível a elas dentro do quadro atual.


A alternativa se situa fora dele: fazermos uma revolução que estabeleceria a prioridade do atendimento das necessidades humanas sobre o lucro, a ganância e a contabilidade insensível que hoje expele os trabalhadores para a rua da amargura, condenando os inativos à penúria e ao desespero. Mas, este é o passo o PT não admite mais dar. 

Concluindo: o PT almeja ser sócio menor do capitalismo sem o ônus de assumir as responsabilidades inerentes; o Magnoli advoga o respeito à lógica capitalista, reformas impopulares inclusas; e eu quero mais que o capitalismo, sua lógica e suas reformas se explodam, pois já passou do tempo de nos livrarmos de toda essa tralha nauseabunda e construirmos uma sociedade igualitária e justa. (Celso Lungaretti)

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