sexta-feira, 17 de junho de 2016

EDUARDO VIANNA: "AINDA SOMOS OS MESMOS E VIVEMOS..."

RENAN É O NOSSO VERDADEIRO NOSFERATU
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Janot pediu a prisão de Renan Calheiros, um dos donos da capitania hereditária do Brasil, ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, um verdadeiro peixão

Teori Zavascki, insuspeito, um funcionário cumpridor dos seus horários, sujeito até mesmo inexpressivo, apagado no horizonte da tradicional manobra política ou jurídica, encarregou-se de garantir que, em Renan e nos seus, ninguém põe a mão, pelo menos por enquanto.

Em seguida Renan, apoiador e compadre de Lula desde os tempos em que o pai dos pobres era presidente, a certa altura muito arranhado em sua reputação (aquele assunto envolvendo a pensão milionária paga por todos nós a certa mulher e a certa criança, nada sério), recobra forças como um vampiro. 

Qual um Bento Carneiro de odiosa figura, a despeito da imensa crise de credibilidade que assola todo o nosso sistema político, Renan lança a campanha pelo impeachment de Janot, para que este aprenda de um vez por todas a não se meter a besta. 

Com o apoio entusiasmado de um Fernando Collor defensor da ética. Com o riso raivoso de Cunha, ameaçando levar com ele mais de 150. Sob o silêncio do intragável Michel Temer, que não se pronuncia, nem deixa de se pronunciar.

Renan Calheiros é mesmo um gigante da nossa desventura. Palavras de Nietzsche: “Os fortes, quando tomam veneno, ficam mais e mais fortes.”

QUE SIGNIFICADO TERIA A PRISÃO DO LULA?
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Lula poderia ser preso por lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio, essas coisinhas. Para um certo ramo da esquerda, já totalmente acostumado a fazer os seus juízos de valor utilizando os dois pesos e a duas medidas a favor dos seus líderes (às vezes por ingenuidade, às vezes por outro motivo), tratar-se-ia de mais uma vitória das forças do mal contra as forças do bem, estas ilibadas e cândidas, dirigidas por aquele puríssimo brasileiro que perdeu o dedo na máquina, embora tenha ficado podre de rico fazendo política, segundo a pior tradição, o pior espírito e os piores princípios.

Sérgio Moro é algum bobalhão deslumbrado, alguém disposto a abraçar a agenda das forças do mal, a tantos por dia, como diz aquela esquerda que gosta de ser financiada por governos? Difícil. 

É um falso juiz, como chegou a boquirrotar o Paulo Henrique Amorim? Claro que não. 

É um tipo ambicioso, que pretende passar à História como um Eliot Ness acaipirado, rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco e vindo do interior? Certamente. Se Lula for preso, será sob todos os assim-chamados rigores da Lei. Não há amadores nisto.

Para a esquerda mais autêntica, que desejará se reconstruir, que já sente a necessidade de renascer com toda a consciência e com força, a eventual prisão de Lula precisará significar, ainda mais, o fim de um tempo, o esgotamento de uma era e o fracasso dos métodos adotados por Lula e por todos os dirigentes do lulismo. Ou a esquerda de um modo geral compreende isto, ou marchará, a passo largo e decidido, para a completa insignificância.

UM ENFRAQUECIDO CRISTOVAM BUARQUE
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No Senado, Cristovam Buarque tomou a palavra para confrontar o presidente, rei, vizir, sultão, marajá, marechal Renan Calheiros. Com a esquerda mordendo-lhe os flancos por um lado, e a direita, de outro, dando-lhe aquele desprezo respeitoso que pessoas como Buarque costumam receber num ambiente como o do Senado.

Buarque pode ter se equivocado ao votar pelo impedimento de Dilma (talvez, por ser favorável à realização de novas eleições, opção melhor fosse a de abster-se, não sei), mas ele carrega o mérito imenso de ser, como político, um pensador da Nação, “este deserto de homens e ideias” como dizia o Barão de Itararé. 

É dele, p. ex., o projeto minucioso, corajoso e totalmente viável de federalização da educação básica no Brasil, para elevar o salário do professorado a 10 mil mensais, promover uma integração educacional em termos estruturais, e, finalmente, redefinir as prioridades do Estado, para que se invista na escola pública segundo as nossas mais graves necessidades, sob rigorosa fiscalização e com metas claras a serem atingidas. 

Ainda assim, os lulistas, entre eles muitos professores, apontam Buarque como um golpista, um inimigo do povo, um bandido, um canalha, um facínora capaz de tudo.

Mas Buarque cometeu mesmo um erro, grosseiro, estranho, que foi o de se filiar ao PPS de Roberto Freire, um partido de direita embora se chame socialista. No início dos anos 1990, Roberto Freire, Sérgio Arouca e congêneres tentaram impedir, recorrendo à justiça burguesa, que o histórico Partido Comunista Brasileiro continuasse a se organizar com esse nome, lançando mão de todas as calúnias e agressões contra os antigos companheiros. 

E foram cair nos braços do PSDB, e do atual DEM, ao ponto de apoiarem ainda hoje um governo tão reacionário como de Alckmin, em São Paulo. E o Cristovam Buarque lá, sempre um peixe fora d'água, sempre tentando manter uma independência difícil ou impossível, sempre muito sério e sincero, mas todo manchado, todo lambuzado. É realmente uma pena. (por Eduardo Rodrigues Vianna)
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