quarta-feira, 11 de maio de 2016

"ESSE TIPO DE AMADORISMO INSTITUCIONAL GUIADO POLITICAMENTE TEM PÉSSIMA REPERCUSSÃO INTERNACIONAL"

Li ontem (2ª feira, 9) o despacho urgente do Le Monde dando conta da decisão do presidente interino da Câmara Federal de anular a votação pelo impeachment da presidente Dilma. Mas hoje (3ª) ao despertar havia uma correção, não do noticiário do Le Monde, mas do próprio deputado Waldir Maranhão, cuja absurda decisão tinha sido ignorada pelo presidente do Senado Renan Calheiros.

Não sei se vocês aí no Brasil podem avaliar, mas esse tipo de amadorismo institucional guiado politicamente tem péssima repercussão internacional. Torna-se visível como os jornais europeus sentem-se indecisos ao noticiar o que se passa no Brasil, pois esse tipo de jogo e artimanha são desconhecidos por aqui.

Na minha longa experiência de correspondente não me recordo de marcha à ré desse tipo. Podem ocorrer retiradas de projetos pressionados pela pressão popular, porém não anulação de decisões já votadas e ratificadas pela maioria da Câmara, mesmo num grande show político, como ocorreu recentemente no Brasil, transmitido pela televisão.

Em outras palavras, o presidente do Senado falou certo, quando recusou participar da brincadeira, pois para os observadores europeus a realidade política brasileira não é mais para ser levada a sério. E aquela batida e tão citada frase atribuída ao general De Gaulle, em 1965, de que o Brasil não é um país sério, volta à atualidade. Brasil, terra do carnaval, como diria Jorge Amado.

E ocorre também um absurdo –se os seguidores de Dilma alardeiam estar havendo um golpe, impossível de se ver mesmo com lupa, é o próprio governo de Dilma que sorrateiramente tenta dar um golpe nas instituições e reforçar o descrédito popular no Legislativo.  O populismo petista ou dilmista quer solapar consciente ou inconscientemente as bases da democracia, pela qual  lutamos durante os anos da ditadura militar ?

Uma bem informada colunista do Estadão já havia também denunciado uma outra tentativa anterior de golpe, programada no STF mas abortada, faz apenas quatro dias, pelo ministro Teori Zavascki, que seria justamente essa de considerar nulos os últimos atos do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ao confirmar sua destituição da Câmara dos Deputados, para acabar com efeitos da votação pelo impeachment e reconduzir a questão ao ponto de partida. 

Essas duas tentativas de golpe em nossas instituições não conseguiriam evitar mas simplesmente adiar o impeachment, prorrogando uma situação insustentável para o Brasil.
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(trechos de despacho do correspondente brasileiro na Suíça, Rui Martins, enviado diretamente de Sófia, Bulgária, onde se encontra a serviço)

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