quinta-feira, 12 de novembro de 2015

UMA PEPITA EM MEIO AOS CALHAUS DE STEPHEN KING: "IT".

Stephen King era um garoto que, como eu, amava os filmes de monstros que via nos programas duplos das matinês de domingo e as HQ que lia em revistas similares à nossa inesquecível O terror negro.

Começou a escrever novelas fantásticas e sobrenaturais na cola dos autores clássicos como Edgar Allan Poe, Bram Stoker, Sheridan Le Fanu, Mary Shelley e H. P. Lovecraft.

Seu golpe de mestre foi perceber que as novas gerações não queriam mais torcer por personagens de filmes góticos, mas sim pelos da atualidade, de preferência adolescentes como são os principais consumidores do gênero (os Narcisos de hoje acham feio o que não é espelho...). 

Então, SK ambientou nos nossos dias histórias constrangedoramente parecidas com as dos clássicos, dando sempre um jeitinho de encaixar um ou vários jovens no centro da ação.

E, quando já não havia mais o que copiar dos pioneiros, entrou numa de se repetir. Muitos lançamentos são uma reedição de algo que ele escreveu lá atrás, dando alguma mexida e torcendo para que poucos reparem. Como a crítica da atualidade é extremamente omissa e bajuladora do sucesso, não vejo atirarem-lhe isto na cara como merece.

Além de fazer livros demais --boa parte poderia ser deletada sem deixar saudades--, ele também estica demais alguns deles, dando a impressão de que os editores lhe pagam por quilo.

O que não nos impede de garimpar uma ou outra pepita em meio a tanto calhau: Carrie, a estranha, O iluminado, Conta comigo, A coisa, alguns contos.

Percebe-se nele muita nostalgia dos bons tempos que não voltam mais. Assim, o que ele de melhor faz, fora do sobrenatural ou como ingrediente extra nas histórias sobrenaturais, é relacionado a esse sentimento autêntico (ao contrário de muita coisa que entra nos enredos por razões meramente comerciais).

Assim, dos salvos do incêndio que relacionei acima, Conta comigo aborda os ritos de passagem sem associá-los ao terror e A coisa junta as duas facetas.

A minissérie de dois episódios derivada de A coisa se chamou, no Brasil, It - uma obra-prima do medo (d. Tommy Lee Wallace, 1990), Foi lançada em versão compactada de 144 minutos em VHS e DVD, mas pode ser encontrada para baixar nos blogues de filmes (neste, p. ex.) com sua duração total de 192 minutos. Infelizmente, a que eu encontrei no Youtube e pude disponibilizar na janelinha abaixo é a compactada; encarem-na como melhor do que nada...

A primeira parte da história é mais longa e, indiscutivelmente, a mais interessante: um ser extraterrestre se alimenta do terror que causa em crianças, matando-as, e depois hiberna por algumas décadas.

Sete jovens perdedores, submetidos pela molecada a chacotas e intimidações, aproximam-se ao sabor dos acontecimentos, tornam-se amigos, resistem juntos ao bullying e acabam encarando o desafio de enfrentarem a coisa, responsável pela morte do irmãozinho de um deles. Rito de passagem dramático está aí!

Mas, não a matam. E, quando ela desperta para uma nova temporada de horror, eles, mesmo sem o pique de outrora, se reencontram para cumprir a solene promessa firmada no passado, de, caso ela voltasse, exterminarem-na de uma vez por todas. 

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