terça-feira, 4 de agosto de 2015

AS OPÇÕES QUE RESTAM PARA DILMA

O sua coluna desta 3ª feira (4), o jornalista Marcos Augusto Gonçalves foi ao xís da questão:
"O esfacelamento ético e político do PT e a crise profunda que abala o governo de Dilma Rousseff já têm um desfecho previsto na narrativa de amplos setores da oposição e da maioria insatisfeita com os rumos do país: o impeachment. Ao puni-la –e a seu partido– por tudo isso que está aí, a remoção da presidente da República encerraria com fecho edificante este ciclo escuro de nossa história recente.
...só resta encontrar a base legal, uma vez que Dilma não pode ser simplesmente enxotada, precisa ser pessoalmente responsabilizada antes que o presidente da Câmara aceite um pedido de abertura de processo e o plenário venha, a seguir, a optar pelo impedimento.
Até aqui, em que pesem ilações, suposições e convicções íntimas, nenhuma acusação formal foi apresentada e nada se provou da participação da presidente no esquema de corrupção".
Resumindo, Dilma já não consegue governar, mas inexiste motivo suficiente para sua destituição. Falta-nos um mecanismo como o voto de desconfiança parlamentarista.

Mas, como os processos de impeachment são essencialmente políticos, a minha avaliação é de que, agravando-se a deterioração do quadro geral (principalmente econômico), o impedimento de Dilma acabará inevitavelmente ocorrendo, sob o pretexto que estiver mais â mão. Não seria nenhuma novidade, pois forçação de barra houve também na defenestração (oportuna e necessária!) de Fernando Collor.
Impeachment é mais uma decisão política

Então, como o jogo já está bem definido do lado de lá, convido os companheiros para uma reflexão sem preconceitos sobre as opções que restam no lado de cá.

A pior de todas é o Governo continuar tentando virar a maré com encenações políticas, factoides e uso massacrante da comunicação para martelar aquilo em que os cidadãos já não acreditam. Receita certa de fracasso.

Pode, ainda, começar a corrigir os erros mais óbvios, deletando o neoliberalismo e o ministro que o encarna, reduzindo o número de ministérios e a gastança desenfreada sob suas barbas, fazendo os privilegiados pagarem muito mais do que os coitadezas para que as contas públicas se reequilibrem, etc.

Agindo assim, teria a esquerda realmente ao seu lado (hoje, até no PT há muita resistência a essa política econômica que se choca com tudo que o partido defendeu nas últimas décadas). Seria o suficiente para salvar o mandato presidencial? O processo já chegou a um ponto de não retorno? É impossível precisar.

Mas, no mínimo Dilma e e o PT deixariam o poder como guerreiros derrotados, não como personagens tragicômicos que fizeram o jogo do inimigo e mesmo assim levaram um pé no traseiro. O caminho ficaria desimpedido para uma tentativa de volta, com Lula em 2018.

O que eu não sinto em Dilma é disposição para confrontar os poderosos do mundo, como Hugo Chávez, p. ex., fazia. Tomara que ela me surpreenda.

A carta da renúncia está no baralho, mas só deve ser usada em último caso, quando se evidenciar que o impeachment é apenas questão de tempo. Seria uma forma menos humilhante de perder o poder, não concedendo à direita o triunfo apoteótico que o impedimento representaria, com comemoração na avenida Paulista e tudo.
Foi um epílogo à altura do personagem

Finalmente, há o gambito do De Gaulle: Dilma convocar um plebiscito (p. ex., sobre se o povo apoia ou não o arrocho fiscal que lhe enfiaram goela adentro), anunciando que abdicará da Presidência caso a decisão do eleitorado difira da posição que defende. É outra forma de salvar a face, saindo de cena com alguma dignidade.

Temo, contudo, que a ficha só cairá para os grãos petistas dentro de semanas. Ou seja, nas circunstâncias atuais, uma eternidade. 

Até lá, provavelmente continuarão patinando sem sair do lugar e sem conseguir tomar a dianteira dos acontecimentos, perplexos e incapazes de esboçar qualquer reação com mínima chance de resultar. 

Cada vez que ouço o noticiário político, sinto-me transportado para o Mineirão no funesto 8 de julho de 2014. Será que a cada ano levaremos outro chocolate de 7x1, no futebol ou noutros campos?

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