sábado, 27 de junho de 2015

CABO ANSELMO LANÇA LIVRO "MINHA VERDADE". MAS, O VEREDICTO DA HISTÓRIA É BEM DIFERENTE...

A História deu o veredicto sobre o antigo marinheiro de primeira classe José Anselmo dos Santos, erroneamente apelidado de Cabo Anselmo, em 2012, quando a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça negou seu pleito, decidindo que jamais fora vítima da ditadura mas sim um agente provocador a serviço dos golpistas desde a fase de preparação da quartelada de 1964.

Hoje com 74 anos, ele exercita seu direito de espernear contra a verdade histórica na autobiografia Minha Verdade, com prefácio de Olavo de Carvalho, que a editora Matrix começou a colocar nas livrarias neste sábado (27). Quantas árvores terão sido abatidas para fornecer o papel no qual foram impressos os 3 mil inúteis e repulsivos exemplares?

Anselmo sempre alegou só ter começado a colaborar com a repressão, armando ciladas nas quais os resistentes eram presos ou mortos, após ser preso em 1971 pelo delegado Sérgio Fleury, do Deops paulista. Já o PCB desde os anos 60 o vinha acusando de agente provocador.

A Comissão de Anistia chegou à verdadeira verdade a partir de documentação secreta do Serviço de Inteligência da Aeronáutica, de papéis recebidos do Arquivo Nacional e de um depoimento do ex-delegado Cecil Borer no sentido de que Anselmo era mesmo um infiltrado (ver aqui), comprovando de viva voz o que sempre se suspeitara: não passou de uma farsa a alegada fuga do marinheiro da delegacia carioca na qual estava detido em maio de 1966, pois ele foi simplesmente solto.

O MAIS NOTÓRIO "CACHORRO" DO FLEURY

Antes mesmo de definitivamente comprovada sua condição de agente duplo, Anselmo já tinha assegurado uma posição infame na História como o mais célebre dos militantes da luta armada que, presos, atuaram (segundo o jargão dos próprios órgãos de segurança) como cachorros da repressão. 

De acordo com o amigo e protetor de Anselmo até hoje, o (antigo torturador) delegado Carlos Alberto Augusto, do 12º distrito de São Paulo, só no Deops/SP havia uns 50 deles.

Até 2012, perdurava, contudo, uma dúvida: Anselmo mudara de lado em 1971--o que obrigaria a União a atender seu pleito, apesar das abominações que cometeu, tendo até se vangloriado de haver causado a  morte de "cem, duzentos" opositores da ditadura que o tinham como companheiro--  ou era, desde o início, um agente infiltrado? A Comissão de Anistia deu o xeque-mate na questão.

Principal agitador da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil no período que antecedeu o golpe de 1964, Anselmo chegou a ser preso pelo novo regime mas escapou de forma inverossímil; passou vários anos foragido e chegou a treinar guerrilha em Cuba.

De regresso ao Brasil em 1970, militou na luta armada contra o regime militar, ao mesmo tempo em que colaborava com a repressão da ditadura, desgraçando seus companheiros.

Eis como Élio Gaspari relatou, em Ditadura Escancarada, a mais lembrada de suas missões:
"A última operação de Anselmo, na primeira semana de janeiro de 1973, (...) resultou numa das maiores e mais cruéis chacinas da ditadura. Um combinado de oficiais do GTE e do DOPS paulista matou, no Recife, seis quadros da VPR. Capturados em pelo menos quatro lugares diferentes, apareceram numa pobre chácara da periferia.
Lá, segundo a versão oficial, deu-se um tiroteio (...). Os mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar um só. Receberam 26, catorze na cabeça. (...) A advogada Mércia de Albuquerque Ferreira viu os cadáveres no necrotério. Estavam brutalmente desfigurados".
Passou então a viver sob a proteção dos órgãos de segurança, que lhe proveram remuneração e fachada legal sob identidade falsa. De vez em quando, para aumentar os ganhos, concedia entrevistas que foram publicadas com destaque na grande imprensa e até viraram livros.

Vários dos ex-colegas de Anselmo na Armada há muito sustentavam que ele sempre serviu à comunidade de informações.

Primeiramente, porque ele tudo fez para radicalizar os movimentos dos subalternos das Forças Armadas – fator decisivo para que a oficialidade, sentindo-se afrontada, decidisse quebrar seu juramento de fidelidade à Constituição, passando a apoiar os conspiradores.

Após o golpe, Anselmo pediu asilo na embaixada mexicana. Mas logo mudou de ideia e, embora fosse uma das pessoas mais procuradas do País, saiu andando calmamente de lá, sem ser detido.

O HÓSPEDE SAÍRA E NÃO VOLTARA...

Algum tempo depois foi preso, exibido como troféu pela ditadura... e logo transferido para uma delegacia de bairro, na qual, diz Gaspari, “Anselmo fazia serviços de telefonista, escrivão e assistente do único detetive do lugar”.A situação carcerária do ex-marujo, continua Gaspari, não cessou de melhorar:
"Com as regalias ampliadas, era-lhe permitido ir à cidade. Numa ocasião surpreendeu o ministro-conselheiro da embaixada do Chile, visitando-o no escritório e pedindo-lhe asilo. Quando o diplomata lhe perguntou o que fazia em liberdade, respondeu que tinha licença dos carcereiros. O chileno, estupefato, recusou-lhe o pedido".
Finalmente, sem nenhuma dificuldade, Anselmo deixou a cadeia em abril de 1966. Nada houve que caracterizasse uma fuga: apenas constataram que o hóspede saíra e não voltara. 

O grande jornalista Jânio de Freitas assim comentou tal episódio:
"O compreensível ódio da oficialidade desacatada pelos marinheiros, logo na mais classista das forças militares, transmudou-se em represália feroz quando o golpe possibilitou a prisão da marujada rebelde. Masmorras e prisão nas piores condições em navios foram o destino comum dos apanhados.
Não, porém, para o maior incitador da rebelião e das ameaças à oficialidade: Anselmo foi posto em um pequeno e pacato distrito policial na orla da floresta do Alto da Tijuca, sem vigilância especial, e disponível para seus visitantes.
Em poucos dias, não precisou de mais do que sair pela porta para a liberdade. Os visitantes perderam a sua nos dias seguintes".
E foi mais longe Jânio de Freitas, acrescentando uma informação não muito conhecida sobre Anselmo:
"Também por aquelas alturas, um cartunista jovem e já famoso foi solicitado a ajudar 'o caçado' Anselmo, arranjando-lhe um abrigo por alguns dias. O rapaz deu-lhe a chave de um apartamento. Em troca, recebeu os efeitos habituais da repressão, e mais tarde viveu anos de exílio na Suíça".
Mas, de todas as ignomínias de Anselmo, nada se compara a haver causado a morte da companheira que engravidara (a Soledad Barret Viedma), tendo preferido propiciar o massacre de seis revolucionários do que salvar sua amante e a criança que ela concebia.

[Vale registrar que Anselmo incluiu no livro uma mensagem do irmão de Soledad, na qual este diz "não acreditar" que ela estivesse grávida ao ser entregue para os carrascos da ditadura. Além de isto não ser conclusivo, em nada diminuiria a torpeza de quem tinha um relacionamento íntimo com ela e traiu miseravelmente sua confiança.]

7 comentários:

Anônimo disse...

A História se encarregará(e isto já esta fazendo) de lhe definir com o adjetivo que ele merece...ASQUEROSO


Marcelo Roque

Carlos Alberto (Carlão) disse...

Olá Celso, só você mesmo para resgatar esta história com tanta informação verdadeira, diferente de certas mídias. Esse cara ai o tal de Cabo Anselmo é um verme que, sinceramente não sei como sobreviveu. Conheci pessoalmente a filha da Soledad a simpática e inteligente Ñasaindy Barrett de Araújo. Fui seu colega e amigo nos anos 50 periodo em que ambos fomos Artesãos (deixei esta atividade há mais de 15 anos), em Florianópolis e eu era o dirigente na entidade que nos representava. Enfim, a história que você reproduz com tanta fidelidade é o que certamente perturbava, e ainda perturba aquela então jovem que teve a mãe assassinada pelas ações de deduragem do Cabo Anselmo. Ñasaindy Barrett de Araújo sempre foi discreta e por isso poucas pessoas sabiam de sua historia e sofrimento interno, que não demonstrava, apesar de ser uma menina alegre.

celsolungaretti disse...

Prezado Carlão,

o Anselmo foi responsável pela morte de dois grandes companheiros: a Heleny Guariba, que começou na VPR como aliada do meu setor de Inteligência, e de quem eu gostava muito; e o José Raimundo da Costa, o "Moisés", o maior amigo que fiz dentro da organização. Ambos executados na Casa da Morte de Petrópolis.

O Moisés chegou a comentar comigo as acusações que o PCB fazia ao Anselmo; pensava que fossem calúnias, como as que o partidão lançara contra o próprio Lamarca.

Considerava o Anselmo um garotão vaidoso e o protegia desde os movimentos de marinheiros. Pagou muito caro por este erro de avaliação. Escapara de muitas situações difíceis e jamais seria preso com vida se a armadilha não houvesse sido montada por alguém em quem ele confiava.

Não consigo imaginar atividade mais vil que a de espião. è um lixo humano quem se faz amigo dos outros à espera da oportunidade para os apunhalar.

Unknown disse...

um grande canalha que já deveria ter ido para o saco a muito tempo

celsolungaretti disse...

Com certeza!

Unknown disse...

Esse lixo vive escondido e com fantasmas o rodeando... A vez dele.chegara e ele nao ira para o céu, com certeza ira para o limbo dos dedo-duros.e covardes que traem e vendem as suas almas!lixoooooooooo ��

celsolungaretti disse...

Eddie, a evidência atual é a de que, desde o primeiro momento, o Anselmo era um provocador e espião a serviço do Cenimar.

Foi baseado nisto que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça negou-lhe uma reparação: se ele houvesse sido um idealista de início e mudado de lado depois de preso, seria considerado, apesar de tudo, uma vítima da ditadura.

Mas, como agente infiltrado nos movimentos de esquerda, não passava de um assalariado a mais da repressão, sem direito a nada (salvo, talvez, uma indenização trabalhista).

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