segunda-feira, 14 de julho de 2014

BRASIL, 29º ANO DA REDEMOCRATIZAÇÃO

João da Silva assiste à sua novela favorita quando tocam a campainha. 

Mal destranca a fechadura e a porta é arremessada com toda força ao seu encontro, atirando-o no chão.

Viram-no de costas, puxam-lhe as mãos e colocam algemas, apertando com toda força. 

Reclama da dor. Respondem que "vândalo tem mais é que se f...".

Quando o erguem, vê que há cinco policiais na sala, três deles com armas apontadas na sua direção. Engatilhadas.

Um agente encosta o cano na sua cabeça e diz: "Se prepara pra morrer!". João fecha os olhos. Quando ouve as gargalhadas, abre-os de novo, envergonhado.

Empurram-no até um camburão, arremessando-o para dentro da caçamba. Dão-lhe um pé na bunda para que entre por inteiro. A cabeça se choca com o banco da frente. Sangra.

É também aos trancos e sopapos que o arrastam até a sala do delegado. Este lhe informa que está sob prisão temporária, por tramar um atentado terrorista: "Temos provas consistentes".

Quando começa a responder, o doutor corta: "Leva logo esse fdp pra cela!".

Só depois de passar dois dias no cárcere imundo é que recebe a visita de um advogado de porta de xadrez (o único que sua família tem grana pra pagar). 

Este informa o que um investigador amigo lhe segredou: a detenção foi apenas para impedi-lo de atrapalhar a festa de inauguração do pontilhão sobre o córrego de sua rua. Afinal, haverá altas autoridades presentes e qualquer questionamento poderá ser utilizado pelos adversários na campanha eleitoral. 

Quem mandou comentar no boteco que aquele pontilhão não serviria para nada?!

Até agora foi estuprado quatro vezes pela bandidagem.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails