quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

TRANSPOSIÇÃO: A USURA CEGA NORTEOU A ESCOLHA DE PROJETO

Meu companheiro e amigo há quase quatro décadas, o baiano Franklin Machado foi uma das figuras mais fascinantes que conheci na Cacimba --grupo de resistência cultural da São Paulo dos anos 70, que lançava publicações alternativas, realizava pequenos eventos (de  saraus de protesto  até uma inusitada participação mambembe na opulenta Bienal) e, principalmente, ajudava humanos a sobreviverem à desumanidade, fisica e espiritualmente.

Éramos umas poucas dezenas de estranhos na terra estranha do Brasil do milagre. E, dentre todos, o Franklin se destacava como o mais  jovial e falastrão, o nosso showman.

Advogado, jornalista e poeta, repentinamente resolveu abrir mão das outras carreiras e atividades, passando a dedicar-se exclusivamente à literatura de cordel, com o nome de Maxado Nordestino

Criava também as xilogravuras. Produziu-se à caráter, com visual exótico, incluindo gravatinha borboleta. Comprou uma velha kombi e saiu vendendo seus folhetos por toda Sampa. Era atração permanente da feira de artesãos da Praça da República.

Seus muitos amigos na imprensa não perdiam oportunidade para encaixá-lo nas reportagens sobre a cidade e seus personagens marcantes.

Não sei dizer se era bom ou mau cordeleiro. Eu tinha como único referencial nesta área um clássico absoluto, A chegada de Lampião no inferno. Seria injusto exigir dele algo equivalente.

Depois de mais de 200 cordéis lançados em meia-dúzia de anos, deu outra guinada: voltou à Feira de Santana natal, onde continuou atuando como agitador cultural e foi até secretário da Cultura. 

Hoje é reconhecido como um dos nossos principais pesquisadores e autores de cordel. Um dos seus blogues é este aqui.

O Franklin acaba de me mandar um artigo que escreveu no final de 2007 sobre as obras do rio São Francisco, como complemento ao meu É "maracutaia da transposição" ou "elefante branco do São Francisco"?.

Eis os trechos mais interessantes, sobre uma das opções mais sensatas que o Governo Federal desconsiderou, preferindo a mais onerosa e ecologicamente nociva:
"Um braço do Rio Tocantins pode ser desviado para o São Francisco e, assim, fornecer a quantidade de água que o atual projeto de transposição precisa para abastecer o norte do Nordeste.
Esse projeto de desvio do Tocantins é do engenheiro baiano Sylvio Geyger, após pesquisas de mais de dez anos.
 ...conclui ser possível a revitalização do Rio São Francisco recebendo um braço do rio Tocantins pelo rio Grande que sai exatamente na cidade da Barra para encontrar o São Francisco.
O rio Tocantins deságua na Baía de Guajará, em Belém, sendo por muitos considerado um rio autônomo e não um afluente do rio Amazonas. O Estado do Pará, com tantos rios não precisa muito das águas do Tocantins e o estado do Tocantins ainda não tem tanta necessidade delas no momento.

Assim, com este reforço e mais o reflorestamento e revitalização das margens do São Francisco, poderiam tornar viável a transposição para atender os irmãos nordestinos do norte, não só para abastecimento como para a irrigação e implantação de indústrias.

Sim, porque somente 4% serão para o abastecimento, pois 24% serão para irrigação das terras semi-áridas do sul do Ceará e do oeste de Pernambuco a fim de produzir uvas, vinhos, soja, pecuária e frutas tropicais destinadas à exportação basicamente. O  restante 72% serão para  indústrias a serem instaladas  decorrentes dum pólo industrial planejado no pobre Estado do Ceará com o projeto de uma siderúrgica.
 Atualmente o Lago de Sobradinho está somente com l5% de sua capacidade  e de onde serão retirados os metros cúbicos para o eixo norte. 
As autoridades (...) querem tocar as obras de qualquer maneira e custo, uma vez que Lula está caminhando para final de mandato e o dinheiro é bastante para a ganância de muitos.

Naturalmente, o projeto divide os nordestinos quando o São Francisco é considerado o  rio da unidade nacional, pois acham que os do sul, como os estados de Minas, Bahia,  Sergipe e Alagoas não precisam desta água.

A usura cega e parece que insensatos estão governando e que o descaso para com a opinião publica  prevalece, como já alertou o presidente  do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e professor da UFMG, Apolo Heringer Lisboa:

'Essa obra não começa. Se começar, não vai adiante. Se for adiante, vai fracassar'".
Palavras proféticas: vem fracassando e estoura cada vez o orçamento, daí já estar sendo chamada de  elefante branco.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como se mais de dois mil quilômetros de linhas hídricas só passassem em terras de coronéis! Ô, vontade de fazer oposição por oposição. Pergunta a quem mora lá o que acha. Pretender falar em nome dos outros é usurpar a fala.

Related Posts with Thumbnails